Tony Marlon

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Opinião

Política é vida cotidiana, do ônibus à construção do nosso futuro

O ônibus que você pegou hoje cedo é política. O lugar em que ele parou perto ou longe da sua casa é política. O valor que você gastou na marmita, que você gastou no vale-refeição. O seu direito em ter um vale-refeição, política.

As leis que te protegem no seu trabalho, a roupa que você veste neste trabalho. O combinado que você fez sobre quem almoça primeiro no seu departamento, quem almoça logo depois. Tudo, política.

Política é essa negociação dos nossos interesses comuns e das nossas diferenças para construir um melhor jeito de fazer o mundo para todos os seres. Se a gente conversa com alguém para resolver uma coisa, a gente está fazendo política.

Nos últimos anos, o Brasil foi engolido por uma criminalização do que a gente chama de política institucional. Ou seja, aquela feita dentro de determinados lugares e espaços. Por exemplo, os partidos políticos. Mas você também faz política quando participa das reuniões do seu condomínio.

Criminalizar a política institucional é afirmar que todas as pessoas que ocupam aquele lugar são e estão erradas, não prestam. E isso, você sabe, não é verdade.

Este jeito de pensar não nasceu do nada. Muitas pessoas, com muitos interesses, fizeram essa ideia brotar pelo país e depois correram para colher os seus frutos. Diga-se, os seus lucros. É que se todos estes que estão aí não prestam, não servem, alguém há de prestar, de servir. E é aí que vêm aqueles que transformam um processo eleitoral em um grande balcão de negócios, por exemplo.

Dizer que uma senhora que luta pela melhoria do bairro há 20 anos não é legítima em seu papel abre espaço para que um empresário que nunca fez nada por aquele mesmo bairro, mas tem muito dinheiro para se promover, queira o representar. Dizer que pessoas que dedicaram suas vidas a verdadeiramente construir o país não são legítimas, abre espaço para que influencers de todo tipo usem apenas seu alcance e popularidade para ocupar um cargo e o recurso do Estado.

E o que acontece quando deixamos esse vazio ser preenchido por pessoas desconectadas da realidade da maioria?

A política se torna um campo ainda mais inacessível, dominado por quem dispõe de capital e influência midiática, muitas vezes sem um compromisso real com quem vive no dia a dia do mundo. Essas pessoas sabem como usar a imagem e o marketing para se eleger, mas, na prática, não representam quem os elegeu. Ocupam os cargos, mas não ocupam a causa. Promovem a si mesmos e seus interesses em vez de lutar por um projeto coletivo.

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A política institucional precisa de renovação constante, de novas vozes e ideias que reflitam a realidade da população e que estejam dispostas a trabalhar por ela. E essa renovação não acontece apenas nas urnas, mas na forma como cada um de nós decide se engajar no coletivo. Quando diversos grupos participam, trazem consigo suas perspectivas, suas histórias e seus interesses, tornando as decisões mais representativas.

Ao deixarmos de acreditar que podemos e devemos ocupar espaços de decisão, enfraquecemos a nossa capacidade de transformação e abrimos caminho para que a democracia se torne uma palavra vazia. A política é, antes de mais nada, sobre pessoas. Pessoas que se organizam para resolver problemas, que discutem suas diferenças e que, apesar das divergências, buscam pontos de convergência para construir algo melhor.

Participar ativamente das associações de bairro, dos conselhos escolares, das audiências públicas e até das conversas nas redes sociais é, sim, uma maneira de construir o país que queremos. É resistir ao discurso que tenta nos afastar da política e lembrar que, sem a nossa presença, o espaço será ocupado por quem talvez não se importe com a maioria de nós.

Da próxima vez que você ouvir alguém dizer que "não gosta de política" ou que "política não serve para nada", lembre-se de que isso é, em si, um posicionamento político. Lembre-se de que a ausência de participação é também uma escolha, e que escolher não participar é deixar que outros decidam por você, muitas vezes sem compromisso com o que é melhor para todo mundo. Política é vida, é movimento, e, sobretudo, é nossa responsabilidade - com o presente e com quem está por vir.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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