Tony Marlon

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Opinião

Neste Natal, esteja 'online' para quem estiver ao seu lado

Os olhos que caíram para a tela bem na hora em que aquela tia que você e eu não víamos há muito tempo contou uma história divertida que só, da sua mãe. Sobre o que era, mesmo?

O barulhinho de uma mensagem nova atravessou a voz da sua avó, que contava tão feliz sobre o dia em que te carregou nos braços pela primeira vez. Como foi que ela disse que chorou naquele dia?

A mão ocupada pelo celular que não fazia falta nenhuma naquela hora impediu você de abraçar o seu pai com toda força. E foi a última vez que fizeram isso. O cheiro dele lembrava uma fruta. Qual era?

Outro dia me contaram que o tempo anda muito curto. Que, quando eu nasci, os dias tinham 24 horas, mas elas duravam mais. E essa pessoa que disse isso disse também que hoje em dia parecia não se lembrar de um monte de coisa. Que era como se os pensamentos estivessem se misturando para economizar lugar na cabeça.

Eu olho o relógio são 10 da manhã. Quando eu vejo de novo já é meio da tarde. Mas o que eu fiquei fazendo com todos estes minutos, que eu não lembro?

Enquanto tomava café, eu estava na Irlanda. Já no almoço, numa cidade pequenininha dos Estados Unidos. E não tem cinco minutos que eu voltei do espaço. Eu não lembro muito bem qual foi a última vez em que eu estive onde eu estava.

Se eu não estou errado, foi o sociólogo polonês Zygmunt Bauman que falou algo parecido com isso: somos a última geração de pessoas com o direito de ficarem sozinhas. Bauman é aquela pessoa que pensou e escreveu a liquidez do tempo, das relações. E o que entendi quando li isso de ficar sozinho: daqui para frente, só para trás.

É que quando o celular se esparrama na vida, ocupando mais espaço do que ele merece e é necessário, a gente quase sempre não está onde está. E aí cabeça não pensa onde os pés pisam, já percebeu?

É estar com aquela amizade de muito longe bem em frente, precisando de um abraço, e a gente nem nota. É alguém querendo saber como você está se sentindo hoje, e você perguntando se ela não tem acompanhado suas publicações sobre aquela viagem incrível da qual acabou de voltar. Mas eu quero saber como está se sentindo hoje, estou perguntando outra coisa.

Semana que vem é Natal. Para alguns de nós, uma data especial demais. Quando a família se reúne sem pressa, quando conseguimos sentar muitas amizades ao redor de um jantar farto, sem pressa. Quando nos contam as mesmas histórias de sempre, nossas e as dos outros, e a gente dá as mesmas risadas de sempre. Sem pressa.

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Outro dia eu vi uma brincadeira séria que era assim: todos os celulares no centro da mesa. Quem pegar primeiro paga uma rodada para todo mundo. Sim, é verdade, há casos e casos. Mas às vezes é só costume de ficar ali, procurando o que a gente nem sabe direito o que é. Neste Natal, eu desejo que você fique online para quem estiver bem em frente a você.

Esta coluna volta no dia 8 de janeiro de 2025. Até lá.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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