Tony Marlon

Tony Marlon

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Você já leu Fernanda Torres? Conheça os três livros da atriz

"No dia em que a política brasileira virar matéria de ficção, a democracia terá dado um passo importante por aqui". A frase não é minha, é da vencedora do Globo de Ouro, Fernanda Torres. Não paro de pensar nisso, desde que li. Como só se fala dela (e ainda bem), resgatei essa ideia para compartilhar com você.

Em 2014, Fernanda lançou "Sete Anos", pela Companhia das Letras, um livro que reuniu os seus artigos escritos em diferentes veículos brasileiros de imprensa. Os temas são os mais diferentes. O trecho acima é de um texto chamado "Folhetim", publicado em junho do ano anterior.

Nele, Fernanda defende que faltava ao Brasil ficcionalizar, pedagogicamente, em horário nobre da TV, o funcionamento do sistema político brasileiro. Feito a indústria estadunidense faz, desde sempre.

Ficcionalizar a estrutura, sim, mas em especial construir enredos que traduzam e contextualizem o seu funcionamento, a dinâmica das decisões que acontecem dentro daquelas salas quase sempre tão fechadas às sociedades, mas tão escancaradas aos interesses próprios de quem as ocupa.

Sem privilegiar este ou aquele lado, defende a Fernanda durante o artigo, a obra precisaria ter fôlego, ou seja, ser algo como uma novela ou série, de modo que dê tempo de mergulhar nos detalhes, buscando costurar com a vida de quem assiste, aqui do outro lado. Como o poder parece um mundo tão à parte, e cada vez mais é assim, esta ponte se faz necessária para gerar o sentir e o sentido.

Tarefa difícil por aqui, ela diz, e eu concordo, mesmo doze anos depois do artigo ser escrito. Gostaria de escutá-la sobre isso nos dias atuais. As poucas tentativas que foram feitas em busca de uma ficcionalização do jogo político brasileiro caíram em duas armadilhas. Quando não foram caricatas a ponto de virarem piada nas redes sociais, escolheram um lado e contaram a história a partir dali.

O convite da Fernanda é outro: contar como o jogo é jogado, por toda e qualquer pessoa que esteja dentro dele, não importando o seu lado ideológico. Como ela diz em determinado momento do texto, é "contar a saga de cada secretária, de cada adjunto de ministro".

Voltei a este artigo da Fernanda, pois as reportagens e análises políticas de cada começo de ano parecem uma repetição do ano anterior: nunca tivemos um sistema político tão distante da vida das pessoas. A sociedade nunca foi tão descrente das pessoas escolhidas para representar seus interesses, o que é, no mínimo estranho, já que a própria sociedade as escolhe por meio do voto.

Talvez o que a gente precise mesmo (e agora) é entender melhor como funcionam as instituições e os espaços de poder. De novo, humanizar como o jogo o jogado, interpretar seus jogadores. E nisso, uma ficção impacta mais as pessoas que 13 mil discursos.

Continua após a publicidade

Veja o exemplo do filme "Ainda Estou Aqui". A partir da história de uma família que teve roubado o seu direito ao pai, a obra levou para a mesa de bar temas como Ditadura Militar, o apagamento da luta das mulheres naquele período, a memória como um direito humano, entre outros tantos. A gente transforma melhor aquilo que entende. E viva Fernanda Torres.

Conheça os livros da atriz

1. "Fim", ed. Companhia das Letras (2013)
Uma obra sobre o ciclo da vida e da morte, narrada por cinco amigos cariocas em diferentes momentos de suas vidas. Com humor ácido e reflexões profundas, o livro explora relações, envelhecimento e arrependimentos.

2. "Sete anos: crônicas", ed. Companhia das Letras (2014)
Coletânea de crônicas publicadas originalmente na Folha de S.Paulo e na Revista Piauí. Os textos refletem sobre temas do cotidiano, cultura, comportamento e política, com o olhar crítico e bem-humorado.

3. "A glória e seu cortejo de horrores", ed. Companhia das Letras (2017)
Um retrato da vida de um ator em decadência, que narra suas glórias e fracassos em meio à busca pelo reconhecimento artístico. O livro aborda os bastidores do teatro e do cinema no Brasil, com ironia e melancolia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.