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Trudruá Dorrico

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

In-dependência: É preciso olhar para outros cantos ao contar a história

O músico Gean Ramos Pankararu - Arquivo Pessoal
O músico Gean Ramos Pankararu Imagem: Arquivo Pessoal

Colunista do UOL

07/09/2022 06h00

O Dia da Independência é um feriado nacional celebrado anualmente na data de 7 de setembro. Ele reencena a ruptura colonial do Brasil de sua dependência à metrópole Portugal, em 1822, pelo monarca Dom Pedro. Embora celebrada com o pronome "nós", a "nossa independência" não pode ser traduzida como um acontecimento de liberdade para os povos indígenas, que sob o jugo de um Estado-nação, primeiro Imperial e depois Republicano, resistem às ameaças consecutivas e conjugadas do paradigma hegemônico.

Gostaríamos de falar, de celebrar a Independência, mas como celebrar um Estado nacional, uma cultura, uma identidade, como reiterar uma ideia monocultural de mundo sendo que somos plurais desde a nossa criação no mundo?

In-dependência seria uma possível leitura semântica para retratar a tutela, o paternalismo, a política indigenista ameaçadora dos direitos indígenas sobre território, população, saúde, educação, moradia, segurança originários. Em dependência de uma ideia nacionalista excludente da diversidade originária. Quando começaremos a discutir uma Constituição Plurinacional, de fato?

Marchamos em abril, agosto, setembro, em qualquer mês que precisamos insurgir diante da violação de nossos direitos, mas a nossa luta é apenas uma parte de quem somos.

Há 'concomitância na vida', o pensamento da psicóloga Guarani Geni Núñez, denota a importância de não sermos definidos pelas agendas que encabeçamos, de ordem coletiva. O líder espiritual Marubo, Beto Marubo, em entrevista no programa Roda Viva, relembra que 'meio ambiente', a luta pela natureza que chamamos floresta não é só dos povos indígenas e/ou ambientalistas, mas de todos, em nível nacional e internacional.

Expresso essas conjecturas para invocar atenção às atividades culturais ensejadas hoje, pelos artistas e coletivos que buscam manter a memória viva, os cantos vivos, os pertencimentos e as identidade igualmente vivas, pois somos corpos vivos dançando essa vida cósmica.

Por isso, hoje também quero falar sobre um evento importante de cultura e arte:

Nos dias 8, 9 e 10 de setembro, a Natura Musical promove a Mostra Pankararu de Música, em Pernambuco, dentro do Território Pankararu, no município de Jatobá. Com o tema "Encontro dos Povos da Cachoeira", o evento reúne além do povo Pankararu, as nações Pankararu Opará, Katonkinn, Jeripankó, Tuxá, Pankaiwká e Pankararé.

O tema da mostra rememora o ponto de encontro na cachoeira, local de encontro que desapareceu devido à construção da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga, em Jatobá. Na mostra a intenção é relembrar as trocas ancestrais compartilhadas agora em suspensão.

O projeto, idealizado pelo músico Gean Ramos Pankararu, expressa o desejo coletivo de apresentar o povo Pankararu através da diversidade artística, com sugestões de perspectivas outras para bem-viver.

O evento terá como principal ponto de apoio o Espaço Aió Juremeira, mas a estrutura para receber artistas e público vai contar com uma área de convivência que favorece a interação com a natureza. Foram construídos uma cozinha tradicional e banheiros secos, além de um espaço novo para o acampamento, entre juremeiras, pinhão, aroeiras e angicos. O palco principal refletirá o espaço de contação de histórias e trocas.

Incentivando a economia criativa, por iniciativa do próprio território, o Alguidar Comida Afetiva vai oferecer alimentação aos participantes do evento, com diária de R$ 60 incluindo três refeições.

Acesso e ingressos

Para quem deseja fazer a imersão completa, a inscrição pode ser feita online. O acesso individual custa R$ 300, e há uma modalidade institucional, para universidades e escolas, que custa R$ 240. Grupos de cinco pessoas também têm desconto e o valor dá acesso não apenas à programação, mas também ao acampamento.

Para conferir apenas os shows, o ingresso avulso custa R$ 20. O povo Pankararu tem acesso gratuito a toda a programação.

Programação

Abertura Oficial da Mostra com imersão na cultura Indígena
● Canto coletivo crianças do Bem Querer,Côco das Antigas Pankararu, Côco Tebei, Buzzo Pankararu

Roda de Fogueira: Qual é a sua chama?
● Gean Ramos Pankararu, Almério, Juliano Holanda Povos da Cachoeira: Na correnteza das memórias
● Compartilhamento das histórias da Cachoeira Com os Povos da Cachoeira
● Roda de conversa com a comunidade indígena

O que pensam sobre nós?
● Compartilhamento de pesquisas acadêmicas e artísticas. Com José Maurício Arruti (UNICAMP), Professora Edvânia (IFSertãoPE) e Jailson Lima (SESC Petrolina)

Cineclube Rabo de tatu
● Dois curtas metragens: Otto, Deus te dê boa sorte