Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Capitólio 'Tupiniquim': Termo usado para atos terroristas do DF é racista
Bolsonaristas terroristas invadem e depredam os três poderes. As cenas de terror se repetem pelo noticiário. Em seguida, uma expressão começa a ser usada para descrever o vandalismo: "Capitólio Tupiniquim".
Querem fazer uma relação a invasão do congresso americano pela extrema-direita trumpista, mas acabam cometendo racismo contra um povo inteiro.
Danilo Tupinikim, indígena pertencente ao povo Tupinikim, denunciou em suas redes sociais o jornal Correio Braziliense por publicar uma matéria com o título "Comunidade internacional condena o 'Capitólio Tupiniquim'".
A matéria incorre no erro de usar o nome próprio do povo Tupinikim (grafado desta maneira para diferenciar-se da ideia de extinção propagada no século XVI) como adjetivo nacional brasileiro, ainda o associando ao ato antidemocrático e terrorista ensejado por bolsonaristas no último domingo (8) - ao mesmo tempo que apaga a luta de todo esse povo pelo reconhecimento enquanto povo originário.
"Ressalto que o Povo Tupinikim não compactua com esse atentado à democracia brasileira, pelo contrário, repudia o ato. Ressalto também que durante décadas os povos indígenas deste país sempre foram recebidos à balas de borracha, spray de pimenta e todo o aparato violento da polícia em diversas manifestações na busca pela garantia de direitos e da nossa sobrevivência, em nenhum deles, houve danos ao patrimônio público", escreveu Danilo.
Após as denúncias de racismo, avolumadas pelos parentes nas redes sociais, o jornal substituiu o título por "Capitólio brasileiro".
'Tupiniquim': O que o termo significa para o Brasil?
Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), o povo Tupiniquim é um dos povos mais citados no Brasil, mas paradoxalmente desconhecido.
Isto porque, historicamente, ao nome do povo Tupiniquim foi atribuído o sinônimo "nacional", na língua portuguesa corrente, como nos exemplos a seguir: antropologia tupiniquim, cinema tupiniquim, etc.
O signo linguístico, porém, foi forjado sob o sinônimo da associação à identidade indígena, nesse sentido, a partir da mesma compreensão em que são enquadrados os povos indígenas, como aqueles com "menos capacidade e menor qualificação" para a participação social.
O emprego neste sentido encobre uma verdade histórica: a existência do povo originário Tupinikim.
A grafia por jornais e mídias do nome "tupiniquim" necessita ser abolida.
Importante lembrar que o povo Tupinikim não foi extinto, por isso, a associação do povo como lembrança do passado, ou com direta associação de projetos falidos é racismo e apagamento epistêmico.
Como diz a poeta Wassu-Cocal, Ellen Lima, "somos presença, não herança".
O uso do nome Tupinikim deve ser utilizado para referir-se ao povo e à luta que historicamente ensejam.
Mais sobre o povo Tupinikim
O povo Tupinikim habita três Terras Indígenas (T.I) no norte do Espírito Santo. O ISA informa que todas as T.I localizam-se no município de Aracruz, em suas cercanias, bem como Santa Cruz e Vila do Riacho.
A T.I Tupinikim e a T.I Caieiras Velhas II, localizadas às margens do rio Piraquê-Açu, têm sua área composta por capoeiras, macegas, Mata Atlântica, o mangue do referido rio e áreas de cultivo.
A T.I Comboios, às margens do rio de mesmo nome, tem quase toda a sua área ocupada pela capoeira (50%) e a mata de restinga (40%), com cultivo mínimo.
Segundo a Sesai, estima-se que a população seja de 2901 (Sesai, 2014), e o IBGE já credita 6646 autodeclarados (IBGE, 2010).
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