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Trudruá Dorrico

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Operação Tabajara: Expressão racista usada por Moraes ofende povo ancestral

Ministro Alexandre de Moraes - Carlos Moura/SCO/STF
Ministro Alexandre de Moraes Imagem: Carlos Moura/SCO/STF

Colunista do UOL

03/02/2023 11h08

O ministro Alexandre de Moraes tem sido um expoente em defesa da democracia brasileira. Suas recentes declarações revelam o compromisso com o estado democrático de direito.

No entanto, faz-se necessário ressaltar que para defender a democracia nacional, é preciso respeitar também os povos indígenas que dela participam, como o povo Tabajara, povo originário que tem sido utilizado na linguagem política de maneira equivocada — e racista.

As expressões "Operação Tabajara" e "Tentativas Tabajara" empregadas para caracterizar o suposto plano antidemocrático arquitetado por Daniel Silveira e Jair Bolsonaro são racistas porque associam o nome do povo Tabajara, sociedade anterior à colonização europeia, à ideia pejorativa de falsa, ridícula e menor.

O povo Tabajara localiza-se ancestralmente em três estados brasileiros, Ceará, Piauí e Paraíba. Segundo Auritha Tabajara, escritora cordelista e ativista, o nome de seu povo significa "Senhor da Aldeia", designando uma longa linhagem de famílias que sempre estiveram neste território, anteriores às divisões fronteiriças brasileiras.

Racismo recreativo anti-indígena

Na cultura televisiva, o programa Casseta e Planeta transmitido na rede Globo, de 1992 a 2010, de autoria de Beto Silva, Claudio Manoel, Helio de la Peña, Hubert Aranha, Marcelo Madureira, e ainda, Bussunda, Reinaldo Figueiredo e Maria Paula, forjou no imaginário a associação racista ao tratar os temas políticos e cotidianos como sendo "tabajara", no sentido de "falso" e "ridículo".

Para Adilson Moreira, jurista, professor e pesquisador, autor da obra "Racismo recreativo" (Jandaíra, 2019), "o racismo recreativo designa um tipo específico de opressão racial: a circulação de imagens derrogatórias que expressam desprezo por minorias raciais na forma de humor, fato que compromete o status cultural e o status material dos membros desse grupo".

Os ecos do racismo recreativo anti-indígena ensejado pelo programa Casseta e Planeta tem se tornado comum na linguagem jurista atual.

Na coluna de janeiro explicitei por que o emprego do nome do povo Tupinikim à ideia de falso também é racista.

Longe de descredibilizar o ministro Alexandre de Moraes, convido-o a uma aproximação real dos povos indígenas, do povo Tabajara e demais nações existentes no Brasil, que têm participado de sucessivas operações pela democracia brasileira, como a luta contra o Marco Temporal; como a proteção e o reflorestamento dos territórios tradicionais; e o inequívoco direito de ter a cidadania indígena e brasileira respeitadas nesse nosso pluripaís.

Esse tipo de marginalização tem o mesmo objetivo de outras formas de racismo: legitimar hierarquias presentes na sociedade brasileira de forma que oportunidades sociais permaneçam nas mãos de pessoas brancas.