Em meio à tragédia no RS, é preciso falar de soluções para o planeta
Comecei a escrever esse artigo com um nó na garganta, estarrecido com a tragédia no Rio Grande do Sul. A gente navega pelo mundo percebendo, testemunhando e alertando sobre os efeitos das mudanças climáticas, mas não tem como não ficar perplexo e comovido diante de tanta devastação. São imagens chocantes de uma realidade triste e cruel. Precisamos urgentemente olhar com atenção, respeito e carinho para o nosso planeta, pois nós, humanos, estamos sofrendo as consequências dos nossos atos - ou "não atos". Olha eu aqui falando novamente sobre crise climática, quando planejava falar sobre um futuro melhor... Inevitável.
Reassumindo a rota original... Ainda criança, aprendi que, diante de uma tempestade, nós, velejadores, não ficamos gritando a bordo "Tempestade! Tempestade! Tá vindo uma tempestade! Tempestade..." Em momentos como esse, a gente se organiza para enfrentar e superar desafios naturais com segurança e serenidade. Na nossa primeira volta ao mundo, por exemplo, poucos dias depois de partir da Nova Zelândia, nos deparamos com uma grande tempestade e perdemos os dois mastros do veleiro. Ficamos praticamente à deriva, mas meus pais conseguiram bravamente contornar a situação até chegarmos de volta à Nova Zelândia para os reparos necessários na embarcação.
A viagem de retorno, naturalmente, foi mais tensa e MUITO mais lenta e demorada. Mas meus pais se mantiveram firmes num único propósito: voltar com segurança com todo mundo salvo! Esse fato aconteceu há quase 30 anos, mas ainda representa muito do nosso jeito de ser e até mesmo do que nós queremos com a Voz dos Oceanos. Depois de testemunhar a crescente invasão de resíduos em nosso oceano, poderíamos embarcar numa missão para mostrar ao mundo o que está acontecendo e, assim, concentrar apenas na conscientização da sociedade para este fato. Isso ainda é importante e necessário, mas a gente precisava ir além...
O nosso olhar se volta para o futuro. Um futuro não apocalíptico. Um futuro possível! Acima de tudo, navegamos em busca de SOLUÇÕES! De histórias reais e inspiradoras, capazes de transformar o presente e reverter o atual cenário do nosso Planeta Água. Na primeira fase da expedição Voz dos Oceanos, entre o Brasil e a Nova Zelândia, já conhecemos e divulgamos centenas de pessoas com tantas ideias e ações exemplares, que nos motiva a seguir adiante.
Logo no início da nossa jornada, em Salvador, encontramos os estudantes de Administração Pedro Dantas, Antonio Rocha e Genilson Brito, de Análise de Desenvolvimento de Sistemas, Thiago Barbosa, e de Engenharia Química, Ramon de Almeida. Eles formam a Equipe Cafeína, que participou do Nasa Space Apps Challenge International 2019, o maior hackathon do mundo. Com o projeto Ocean Ride, um dispositivo para recolher partículas de micro plásticos das águas, eles venceram a competição mundial e, em 2023, finalmente visitaram a Nasa, na Flórida, onde apresentaram pessoalmente sua invenção.
Nessa viagem para os Estados Unidos, nossa Voz dos Oceanos já era apoiadora oficial da Equipe Cafeína, ajudando-a a ampliar seu alcance com apresentações em outras renomadas instituições, entre elas, o MIT (Massachusetts Institute of Technology). Recentemente, nossos jovens "pupilos" cruzaram o Atlântico e apresentaram seu Ocean Ride na Espanha, durante a Conferência da Década dos Oceanos, na França e na Grécia. Por onde passam, levam uma miniatura do nosso veleiro Kat com o seu Ocean Ride acoplado.
A criatividade e o empenho desses jovens brasileiros refletem uma geração que quer e acredita na transformação capaz de recuperar e preservar os oceanos. E os coloca ao lado de pessoas "mais experientes" e que já vêm transformando o seu entorno, as suas comunidades. Quando estávamos com a Voz dos Oceanos na Costa Rica, fomos até a província de Heredia, onde conhecemos o CRDC (Center for Regenerative Design & Collaboration), que utiliza resíduos plásticos do mundo para fazer o RESIN8?, um Eco-Agregado que melhora o concreto para a construção civil.
O mais legal dessa experiência é que, além de ver todo o processo de transformação de resíduos em EcoBlocks, no dia seguinte, conferimos pessoalmente o uso desse material na construção do Valle Azul com mais de 100 casas para famílias de baixa renda. E lá ficamos sabendo que essa solução do CRDC já ultrapassa as fronteiras da Costa Rica com as operações nos Estados Unidos, na África do Sul, no Reino Unido, na Austrália, no México, na Nova Zelândia e na Samoa. Não é lixo. É resíduo que se transforma.
Esses são apenas dois exemplos, entre tantos outros, de soluções que temos encontrado por onde passamos. Precisamos seguir focados num futuro melhor, em reverter o atual cenário, salvar nossos oceanos, recuperar e preservar o meio ambiente, minimizar os efeitos dessa crise climática...
E me despeço desejando força e resiliência a todo Rio Grande do Sul. Nossa solidariedade às vítimas, parentes e amigos atingidos por essa tragédia. Como dizemos a bordo, BONS VENTOS e dias melhores!
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