Unidos podemos recuperar e conservar as belezas do nosso ambiente
Quando meus pais decidiram dar uma volta ao mundo a bordo de um veleiro, eu era um recém-nascido. Eles sempre defenderam que, para realizar um sonho, a gente precisa estabelecer uma data. "Olhando o David, com meses, engatinhando na nossa frente, decidimos que zarparíamos quando ele fizesse 10 anos", contam meus pais sobre o início da nossa jornada.
Entre aquele David de meses e o David que completaria 10 anos de idade, tem uma criança que cresceu aprendendo a velejar junto com a família. No dia em que o Fábio Porchat me perguntar "qual a sua primeira lembrança da vida?", eu certamente responderei algum momento no mar. Tenho lembranças afetivas muito fortes das minhas primeiras braçadas e mergulhos no mar, das primeiras velejadas, regatas e tempestades, das primeiras paisagens paradisíacas e desafios que essa vida - incomum - me proporcionou.
O ar que eu respiro, me alimenta e me movimenta, desde sempre, tem um gosto salgado! Os ventos que impulsionam minha vida me fizeram sentir conectado com a natureza. As experiências que vivi nos meus primeiros anos fizeram de mim a criança, o adolescente e o homem que, até hoje, não se enxerga separado do meio ambiente. Dessa forma, o oceano habita em mim e eu habito no oceano! Há décadas, venho colecionando as mais incríveis lembranças que uma pessoa do mar possa ter.
Com o passar dos anos, algumas imagens de degradação borram esse filme da minha vida. Como pai de um adolescente de 15 anos, eu desejo para ele o oceano com o qual eu me relacionava quando eu tinha a idade dele. Essa é a minha motivação pessoal quando levanto todos os dias para liderar a nossa Voz dos Oceanos. Meu filho e todos nós merecemos aquelas águas, aquelas praias, aquelas paisagens, aquela natureza que eu tive o privilégio de conhecer.
Utopia? Não creio. Nós, humanos, podemos ser os principais causadores da degradação do nosso planeta, mas também podemos - e seremos - os agentes da transformação! Aqueles que, unidos, vão recuperar e conservar as belezas do nosso ambiente. Diante de tamanha invasão de resíduos poluentes, especialmente plásticos, nas praias ou de tragédias como as do Rio Grande do Sul, esse meu desejo pode parecer distante ou mesmo impossível. Entendo.
Porém, quando zarpamos com a Voz dos Oceanos, nossos olhos se abriram para uma realidade paralela e de esperança! Em cada local por onde passamos, encontramos pessoas e iniciativas agindo em defesa do nosso Oceano. São centenas de vozes potentes em todos os 100 locais dos 10 países por onde navegamos nos últimos dois anos. E quando lideramos em terra um projeto robusto de Educação Ambiental e Economia Circular e, agora, uma pesquisa científica com o olhar voltado também para histórias inspiradoras, somamos outras vozes incríveis.
Minha "outra persona", o cineasta, também nasceu no mar, aos 13 anos, quando convenci meus pais de me darem minha primeira câmera e comecei a filmar nossas aventuras pelo mundo. Até esse momento, meus olhos já eram grandes observadores da natureza. E partir dele, ganharam as lentes das câmeras como aliados. Desembarquei na Nova Zelândia, onde me formei cineasta e iniciei minha trajetória profissional. Um tempo depois, voltei a navegar com meus pais e minha irmã Kat, registrando e compartilhando nossa segunda circum-navegação com o público brasileiro e internacional.
Entre as produções realizadas nesta jornada está o documentário "O Mundo em Duas Voltas", (disponível no Brasil na Netflix) que começa com uma tempestade. A natureza é soberana. A ela devemos respeito. Dito isso, seguimos com as mais belas paisagens - e povos e culturas - navegando pela tela! E essa nossa conexão com o Meio Ambiente vem se destacando também em minhas produções de ficção.
"Pequeno Segredo", eleito para representar o Brasil no Oscar (e disponível no Prime Video), se inicia com magnitude do mar. O filme me colocou na mira de produtores norte-americanos, compradores de uma história brasileira encantadora que viralizou e, agora, se prepara para conquistar o mundo mais uma vez na grande tela. "My Penguin Friend" estreia inicialmente em cerca de 2 mil salas de cinema, de costa a costa dos Estados Unidos, na cobiçada temporada de lançamentos de verão. Logo em seguida, chega ao Brasil e a outros países, mostrando a relação entre um pescador e um pinguim.
À frente da Voz dos Oceanos ou por trás das câmeras de cinema, sou inspirado e motivado pela Natureza e pelo desejo de compartilhar histórias voltadas para um mundo mais saudável e melhor. E não estou só. Todos nós temos lembranças, experiências e conexões inesquecíveis com nosso Planeta Água! Às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) e do Dia Mundial dos Oceanos (8 de junho), convido a todos a resgatarem seu SER Meio Ambiente e SER Oceano! Agir hoje é transformar o amanhã!
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