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Pesquisa inédita analisa presença de microplástico nos moluscos que comemos

Eles são animais aquáticos e seus corpos são formados por uma concha de duas partes. Nos últimos meses, nossa Voz dos Oceanos destacou muito seu papel de "filtradores" de poluentes como os microplásticos. Concluída nossa expedição terrestre, os bivalves serão os indicadores da poluição em inédita pesquisa científica, fruto da nossa parceria com a USP (Universidade de São Paulo).

Entre 11 de maio e 15 de julho, nossa tripulação adquiriu 7 espécies diferentes e um total de 891 bivalves em mercados públicos usados por moradores e turistas de 17 destinos de 15 estados nacionais. De Itajaí, em Santa Catarina, a Belém, no Pará, nossas tripulantes rodaram 9.216 km para garantir uma ampla amostra de bivalves.

Coletando de 1 a 3 espécies por local, nossa expedição garantiu dois tipos de ostras, mexilhão, sururu, maçunim (ou berbigão), lambreta e tarioba como objeto para as análises que serão realizadas nos laboratórios da USP, em São Paulo. Com isso, além de termos um mapeamento da poluição de microplástico na costa brasileira, teremos ainda um retrato de como esses resíduos impactam na nossa saúde alimentar.

Doutoranda em Oceanografia pelo Instituto Oceanográfico da USP e comandante dessa primeira pesquisa científica da Voz dos Oceanos em parceria com a USP, a bióloga marinha Marília Nagata cuidou pessoalmente da aquisição de todos os bivalves considerando que eram frescos, pescados na região, vendidos em mercados públicos locais e consumidos por moradores e turistas.

Com isso, temos até um mapeamento de "costumes gastronômicos". No sul e sudeste, por exemplo, as ostras são os bivalves preferidos da população, enquanto o sururu predomina na gastronomia nordestina. E só para deixar mais clara a questão da segurança alimentar: como "filtradores", os bivalves "absorvem" microplásticos presentes nos oceanos, e nós, quando comemos uma ostra, por exemplo, levamos esse microplástico ao nosso.

Preciso lembrar que essa fase de "coleta" foi executada com brilhantismo durante a expedição terrestre da Voz dos Oceanos que, além da Marília, contou ainda com as incríveis tripulantes Jessyca Lopes, bióloga marinha e produtora de estrada, Katharina Grisotti, oceanógrafa e produtora de conteúdo, e Thamys Trindade, jornalista, documentarista especializada em Conservação de Natureza e Wildlife Filmmaking e diretora de fotografia da nossa missão.

Desde o início, quando concluímos a formação dessa tripulação feminina, eu tinha certeza de que as quatros arrasariam. Acompanhando de perto o trabalho das quatro em Itajaí, no Rio de Janeiro e em Belém, só confirmei - com orgulho - o que previa. Profissionais, talentosas e entusiasmadas, Jessyca, Katharina, Marília e Thamys mergulharam com intensidade na expedição científica da Voz dos Oceanos.

Heloisa Schurmann rodeada pela tripulação: Thamys Trindade (de pé, à esquerda), Katharina Grisotti (sentada, à esquerda), Marília Nagata (sentada) e Jessyca Lopes (de pé, à direita)
Heloisa Schurmann rodeada pela tripulação: Thamys Trindade (de pé, à esquerda), Katharina Grisotti (sentada, à esquerda), Marília Nagata (sentada) e Jessyca Lopes (de pé, à direita) Imagem: Divulgação

No caminho, elas encontraram diversos desafios, incluindo o machismo que insiste em atravessar nossos caminhos. Mas não se intimidaram! Por outro lado, se conectaram com tantas outras mulheres, que lideram projetos socioambientais. A bordo e nos locais por onde nossa expedição passou, celebrei - e sigo celebrando - o protagonismo das mulheres na Ciência e na Oceanografia!

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Isso, claro, sem excluir os rapazes. A parceria científica da Voz dos Oceanos com a USP e respectivos estudos e pesquisas são liderados por um amigo, o professor Alexander Turra, coordenador da Cátedra Unesco de Sustentabilidade Oceânica, do Instituto Oceanográfico da USP. Juntos, partimos para as próximas etapas: as análises dos bivalves adquiridos e processados adequadamente pela nossa tripulação durante a expedição pela costa brasileira, que renderão um estudo inédito para ser apresentado na COP30, em Belém.

Diga-se de passagem, nós da Voz dos Oceanos estamos muito orgulhosos com o legado que nossa parceria deixará. A partir da nossa expedição, o Instituto Oceanográfico da USP terá mais um laboratório, que deve iniciar suas atividades na primeira quinzena de setembro. Nele, haverá um espectrômetro com micro-FTIR e micro-Raman, com microscópio acoplado, equipamento doado pela Shimadzu, que embarcou com a nossa Voz dos Oceanos e a USP nessa jornada científica.

De acordo com Turra, esse superequipamento garantirá análises bem completas dos 891 bivalves da nossa pesquisa, mas também será uma excelente ferramenta para diversos outros estudos e projetos da universidade. Nossa! Que alegria deixarmos esse legado! Há muitos anos, apoiamos, incentivamos e destacamos a ciência em nossas ações e conquistas como essa nos motiva ainda mais.

Por fim, convido a todos para embarcar conosco na Exposição Voz dos Oceanos, que acontece até o dia 20 de agosto, no JK Iguatemi, em São Paulo. Trazemos o oceano para a maior cidade da América Latina, convidando o público para embarcar no nosso veleiro Kat (eu mesma tive a sensação de estar em casa, a bordo, no balançar das águas do mar), mergulhar pelas profundezas fascinantes dos oceanos, lembrar dos impactos que as nossas escolhas deixam e como podemos salvar nosso planeta Água.

De forma lúdica e interativa, nossa exposição aproxima o público dos pilares da Voz dos Oceanos, entre eles, a ciência, claro! Embarque conosco nessa jornada e seja você também a Voz dos Oceanos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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