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Crianças e jovens engajados renovam nossa esperança no futuro dos oceanos

Nosso retorno a Santos com a segunda fase da expedição marítima da Voz dos Oceanos me fez navegar por lembranças intensas - e muito pessoais. Tivemos uma agenda bastante movimentada conhecendo melhor iniciativas importantes, como o Projeto Albatroz e o Vamos Desenredar do Gremar que fazem trabalhos maravilhosos. Mas outros dois momentos tocaram mais profundamente meu coração... Falaram diretamente com meu lado mãe e... Nossa! Bateu uma saudade, que eu até recorri ao diário de minha filha Kat...

2003. (...) "Querido Diário, tenho uma novidade bem legal para lhe contar. Vou ser um dos cisnes do balé do fim do ano. Estou bem contente". (...) "Diário, estou bem feliz. O trabalho do ciclo da água, do meu grupo, ganhou primeiro lugar na feira de ciências do colégio. Foi d+ a apresentação, todo mundo sabia de cor o que falar, foi como um teatro. Mommy e daddy estavam viajando e foi David que foi na feira comigo receber o prêmio".

Kat tinha 11 anos quando registrou essas conquistas em seu diário. Exatamente a mesma idade de muitas das crianças que encontrei nos últimos dias em Santos e no Guarujá. Crianças e jovens já muito conscientes da importância do oceano para o planeta e as nossas vidas, a gravidade da invasão dos resíduos nos mares e consequências, inclusive, climáticas e a necessidade de mudança, de ações efetivas. Ver uma garotada tão entusiasmada e engajada na defesa dos nossos oceanos é inspirador.

Mesmo estudando o tema profundamente e reconhecendo o quão grave é o cenário, não perde o brilho nos olhos e a convicção de que é possível transformar a realidade e construir um futuro melhor. Quando penso que desenvolvemos a Voz dos Oceanos para deixar um legado para essa e as futuras gerações e me deparo com essa galera, sinto o calorzinho no peito potencializando a esperança e reforçando uma certeza: eles merecem esse Planeta Água que desejamos para eles!

A convite da Tatiana e do Alcides, também velejadores e que, desde 2011, vivem a bordo do seu Ocean Eyes, fui com nossa tripulação na UME João Papa Sobrinho, em Santos. À frente do projeto de cultura oceânica "Oceano Vivo na Escola", os dois mobilizaram cerca de 100 crianças, que nos entregaram desenhos para serem levados junto com o nosso pergaminho coletivo para o G20 no Rio. E é claro que abrimos nosso "Ecoando Vozes" para receber mais mensagens dos alunos e professores presentes.

Mas, quando cheguei lá, fiquei ainda mais feliz. Além de receber os lindos trabalhos, participamos da reinauguração do "Cantinho do Oceano", um espaço dessa escola municipal especialmente dedicado ao ensino da Cultura Oceânica. O evento também celebrou a "nova sala de aula entregue ao Projeto Embaixadores do Século 21, que permitirá o desenvolvimento de importantes atividades e projetos voltados à preservação dos oceanos".

Teve poesia, música, desfile com roupas feitas de resíduos... Eu, uma educadora, me senti realizada ao estar ali, ao lado de colegas tão dedicados e comprometidos, como o professor Renato, e de estudantes entusiasmados e encantados com a cultura oceânica. Por todo o país, temos muitos cantinhos especiais dedicados à Educação Ambiental e me orgulho de nossa Voz dos Oceanos fazer parte de muitos, como nas sete escolas públicas (estaduais e municipais) do Guarujá, onde fizemos um lindo trabalho ao lado do Instituto Supereco.

Para detalhar um pouco mais sobre o espetáculo, recorri às suas criadoras que explicam: "'Entre Águas' é uma experiência imersiva que nos leva a uma jornada em nossas emoções, navegando por sensações e atitudes que impactam nossas próprias vidas, e as águas que deságuam nos oceanos. Assim como as marés refletem as fases da lua, o modo como nos relacionamos com as nossas águas, internas e externas, refletem os nossos próprios ciclos. Nossa consciência pulsa entre as águas do nosso próprio corpo, nossa primeira casa, e do nosso planeta, dando uma nova camada de significado à analogia entre as águas internas e as águas oceânicas. (...) O espetáculo 'Entre Águas' é o fluir de uma poética das águas; um mergulho nessa dimensão mais profunda da relação entre as nossas águas e o impacto que causamos no planeta e em nós mesmos".

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Naturalmente, trouxemos as mensagens dessas bailarinas para o nosso pergaminho "Ecoando Vozes". E seguimos navegando, recomendando, buscando espaços e apoiadores que possam levar esse lindo espetáculo para mais e mais pessoas, fazendo da dança uma importante conexão entre o público e os mares. Porque a dança é também uma poderosa Voz dos Oceanos.

Diante de crianças e jovens tão inspiradores, lembro com carinho da estudante, bailarina e ativista Kat Schurmann. De volta ao diário de minha filha, encontro um relato de 2004, quando ela tinha 12 anos: "Wow. Dei entrevista na TV e falei de como eu gosto da natureza, dos golfinhos, das baleias, mas fico triste com o lixo no mar". Kat, meu amor, você não está sozinha. Não estamos sozinhos. E, recentemente, mommy encontrou uma garotada que faz parte da sua galera, da nossa turma. O futuro pode e será melhor!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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