Tentam frear o tratado global dos plásticos, mas não vamos desacelerar
No dia 7, aconteceu o E-Prix de São Paulo da Fórmula E, o primeiro campeonato mundial de automobilismo 100% elétrico sancionado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Reconhecido como o único esporte neutro em carbono na história, o evento foi realizado em um dia ensolarado, no icônico Anhembi, proporcionando uma experiência única e sustentável.
Para mim, a ocasião foi marcante por duas razões. A primeira foi estar no evento como CEO da Voz dos Oceanos, iniciativa convidada a participar como parceira para promover nossa missão de conscientização ambiental. Além disso, pude vivenciar essa experiência ao lado do meu filho, dividindo a empolgação pelo automobilismo em uma categoria que representa o futuro desejado: livre de combustíveis fósseis.
A atmosfera vibrante do E-Prix, alinhada ao compromisso com a sustentabilidade, tornou a experiência inspiradora, colocando o esporte como catalisador de mudanças positivas. Confesso que o acelerar daqueles motores deu uma minimizada no amargor que ficou com o encerramento do Comitê Intergovernamental de Negociações (INC-5), realizado em Busan, na Coreia do Sul, entre os dias 25 de novembro e 1º de dezembro.
A quinta rodada de negociações sobre o tratado global dos plásticos deveria ter sido a última, porém, divergências entre os países impediram a conclusão do acordo - adiado para 2025, quando acontecerá o INC-5.2. Entre os impasses estão temas cruciais, como a redução da produção de plásticos e químicos nocivos e o estabelecimento de um mecanismo de financiamento para apoiar países em desenvolvimento na transição para práticas mais sustentáveis.
Enquanto no E-Prix a inovação e a energia limpa ganhavam destaque, sinalizando a possibilidade de se apostar em mudanças e novas frentes, no INC-5, países produtores de petróleo, como Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia, freavam as negociações para um acordo tão urgente e necessário. Esse bloco segue resistindo a restrições ou proibições na produção de plásticos, conduzindo o tratado para questões posteriores à geração dos resíduos, como o seu gerenciamento. Ou seja, priorizando meios de remediar os danos em vez de atacar a raiz do problema: a produção excessiva de plásticos.
Ainda assim, a corrida pelo tratado está longe de ser decidida. Mais de 100 países, incluindo o Brasil, seguem firmes em prol de medidas mais ambiciosas, como limites globais à produção de plásticos e a eliminação progressiva de materiais problemáticos. Este bloco majoritário conta com representantes da América Latina, União Europeia e África, todos defendendo um acordo robusto e eficaz.
.Fiquei especialmente aliviado ao ver o Brasil entre esses países. Durante as negociações, uma reportagem da agência Pública revelou tensões dentro da delegação brasileira — uma das maiores no INC-5. Contudo, o país manteve sua posição e, segundo parceiros da Voz dos Oceanos, destacou-se ao incluir nos debates os impactos dos plásticos na saúde humana.
O desafio é imenso, mas o tratado global dos plásticos é fundamental para a saúde dos oceanos, do planeta e da humanidade. A resolução aprovada pela Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2022 foi o primeiro passo rumo a um acordo juridicamente vinculante sobre a poluição por plásticos. Quando finalizado, esse tratado será um marco na luta contra a poluição que sufoca nossos mares.
Obstáculos como os enfrentados no INC-5 são inevitáveis, mas reconhecemos a crescente vontade política de combater a crise do plástico. Como no automobilismo, que mantém categorias tradicionais, mas avança em pistas sustentáveis como a Fórmula E, precisamos de persistência, estratégia e resiliência para transformar o cenário. Não puxamos o freio. Pelo contrário: aceleramos em direção à mudança.
O planeta é água, e nós somos a Voz dos Oceanos!
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