Resolução de Ano-Novo: consumo consciente e sustentável
No início de dezembro, voltei ao meu habitat natural: o mar! Sou uma sereia com pernas (rs) e aqui é o meu lugar. Sim. Estou de volta ao veleiro Kat, minha casa, meu templo que me mantém conectada intimamente com o oceano. Esse retorno promete grandes emoções.
Zarpamos há alguns dias de Opua, na Nova Zelândia, dando início a segunda fase da jornada internacional da Voz dos Oceanos. Que alegria içar novamente as velas e navegar, navegar, navegar e... navegar!
Neste momento, somos três: eu, Wilhelm e Erika - o que já garantiu o Natal e o Réveillon em casa e em família. Porém, no nosso caso, estar "em casa" nestas festas significa estar em qualquer lugar do planeta.
Navegamos rumo à Thursday Island, na Austrália. Serão mais de 20 dias de navegação até chegarmos no nosso primeiro destino. Ou seja, nosso Natal foi no meio do Oceano Pacífico e assim será a virada do ano. Nós, o veleiro Kat e a imensidão do mar.
Com uma população inferior a 3 mil pessoas, Thursday Island é uma das 274 pequenas ilhas do Estreito de Torres. Entre 1993 e 2014, o nível do mar nessa região aumentou quase o dobro da média registrada globalmente. Com isso, já imagino consequências em outras ilhas do Pacífico, como a escassez de água potável, insegurança alimentar e comprometimento das áreas habitadas.
Pelo que andei pesquisando, também devemos encontrar vozes muito potentes por lá. Em 2019, oito habitantes de ilhas do Estreito de Torres fizeram uma queixa formal, alegando que a Austrália era ineficiente diante das mudanças climáticas e, consequentemente, violava direitos humanos fundamentais. Em 2022, o Comitê de Direitos Humanos da ONU concordou com esse grupo de "reclamantes do clima", resultando em uma vitória histórica no âmbito da justiça internacional - e climática.
Navegando rumo a essa região, levamos a bordo a mesma árvore de Natal que enfeita nossa casa desde 1985. Isso me faz refletir mais uma vez sobre hábitos de consumo individuais que, ao serem multiplicados por milhões, bilhões de pessoas, atingem populações muito menores do outro lado do planeta.
Já pararam para pensar sobre todos os recursos utilizados e impactos ambientais que vêm da produção necessária para abastecer o consumo da população de uma única cidade como São Paulo com seus quase 12 milhões de habitantes? Certamente impacta para muito além de sua área territorial. E é isso que os habitantes de pequenas ilhas do Pacífico nos trazem como questionamento.
O Natal já passou, porém, um novo ano se aproxima. É tempo de renovação de ideias e de comportamentos. Que 2025 seja o ano do consumo consciente e sustentável. É possível, vejam nossa árvore natalina: eu mesma a fiz, costurando um tecido verde e fitas coloridas para as festas de 1985, a bordo do então veleiro da família, o Guapo.
Ano que vem, nossa árvore completa 40 anos de histórias, tendo feito parte das celebrações em três voltas ao mundo completas (a quarta, com a Voz dos Oceanos, será concluída em 2025) e muitas expedições e aventuras. Ela decorou o veleiro Guapo, depois o Aysso e, desde 2014, vem enfeitando o Kat.
A cada Natal, ela fez parte do crescimento de Pierre, David, Wilhelm e Kat - que a deixou ainda mais colorida costurando vários enfeites. Nossa árvore continua linda e nos presenteia com tantas lembranças felizes - algo que não encontramos em um item novo.
Que, antes de consumir, a gente sempre reflita se determinado produto é realmente necessário. E se, de fato, você precisar comprar aquele item, que ele seja durável, que siga com você por um longo período.
Feliz 2025, planeta Água! Bons ventos e sigam a bordo conosco, porque o ano promete e vocês já são a voz dos oceanos!
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