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Opinião

Selamat datang (bem-vindos) à Indonésia

Chegamos à Indonésia pela Ilha de Tual, o primeiro porto para quem veleja vindo do Estreito de Torres. Aqui, enfrentamos temperaturas extremas, um calor fora do normal que a ciência acaba de confirmar. Segundo o Observatório Copernicus, da União Europeia, estabelecemos um novo recorde - e isso não é motivo de comemoração. Janeiro de 2025 entra para a história como o mês mais quente já registrado no mundo.

No entanto, o calor humano da Indonésia nos encanta. Vibramos com tanta energia positiva ao nosso redor. Acolhedores, todos nos cumprimentavam e abriam sorrisos incríveis ao descobrirem que somos brasileiros. A paixão pelo futebol é evidente, gerando uma admiração especial pelo Brasil. Desde os meus 7 anos, quando embarquei em nossa primeira volta ao mundo, percebo como o futebol nos conecta amigavelmente com diferentes comunidades pelo planeta.

Depois de alguns dias em Tual, seguimos para a Papua Ocidental, província da Indonésia na segunda maior ilha do mundo, a Nova Guiné. No final da tarde, avistamos algo incomum no horizonte, onde o sol havia acabado de se por. Rapidamente, identificamos o C/2024 G3 (ATLAS) - o cometa que promete ser o mais brilhante de 2025. Que visão espetacular! Por cerca de 30 minutos, acompanhamos sua trajetória enquanto navegávamos, observando seu rastro luminoso no céu.

Depois de uma noite velejando, ancoramos em um lugar mágico: cercados por montanhas, floresta densa e o canto dos pássaros, sem nenhum barco ou ser humano à vista. Nos impressionamos como a floresta avança, literalmente, até a beira do mar, criando uma paisagem de tirar o fôlego.

No dia seguinte, seguimos viagem, passando por uma das maiores cachoeiras em volume de água que já vimos desaguar diretamente no oceano. Ancoramos em Pulau Pisang, próxima a Pulau Sabuda, onde conhecemos pescadores locais que costumam visitar a enseada para colher cocos e descansar. Desde nossa chegada à Indonésia, aplicativos e blogs de velejadores alertavam sobre possíveis ataques de crocodilos-de-água-salgada.

Voz dos Oceanos recebe pescadores indonésios a bordo do Kat
Voz dos Oceanos recebe pescadores indonésios a bordo do Kat Imagem: Divulgação

Mas nada melhor do que conversar com locais. Nossos novos amigos pescadores garantiram que, naquela região, não havia crocodilos. Só nos alertaram sobre as Ular Laut Belang, cobras marinhas venenosíssimas, que raramente são agressivas com humanos. Depois da visita deles a bordo, decidimos mergulhar próximo ao veleiro Kat e, logo abaixo da embarcação, avistamos justamente uma Ular Laut Belang de aproximadamente um metro e meio. Como nos disseram, ela não nos atacou (rs).

De Pulau Pisang, seguimos para a região de Misool, uma das quatro maiores ilhas (as "Quatro Reis") do arquipélago de Raja Ampat. Essa região é essencial para a biodiversidade marinha e terrestre. Misool, Salawati, Batanta e Waigeo formam a espinha dorsal do Parque Marinho de Raja Ampat, uma das maiores reservas ecológicas do mundo.

Raja Ampat é uma das Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) do planeta, zonas delimitadas com o objetivo de proteger a biodiversidade e os recursos naturais. Para navegar e ancorar aqui, precisamos adquirir ingressos para o parque e pagar taxas ambientais individuais.

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Passamos a noite em Pulau Daram, a princípio, protegidos dos ventos do Norte, e ao amanhecer seguimos para Pulau Balbulol - um espetáculo natural. As ilhotas são cercadas por corais e, a cada mergulho, somos transportados para um mundo de vida exuberante. Nunca vi uma diversidade tão grande de corais, em cores e formas impressionantes.

Infelizmente, a única coisa que não pertence a esses mares é o plástico, mas temos avistado esse resíduo com frequência em praias remotas, enquanto navegamos de uma ilha para outra... E em grande quantidade. Velejar por esses locais paradisíacos e perceber essa invasão alarmante reforça o desafio urgente que enfrentamos.

Vimos notícias de que algumas medidas estão sendo tomadas para conter essa crise. Desde 2018, com a China adotando restrições mais rigorosas para a importação de resíduos, países do Sudeste Asiático, como Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietnã, passaram a receber carregamentos legais e ilegais de lixo da União Europeia e outras nações.

Em 2019, a Indonésia se recusou a aceitar 547 dos mais de 2.000 contêineres de resíduos enviados ao país, por serem considerados perigosos ou não conformes com as regulamentações. Com essa atitude, o país deixou claro que não pretende ser transformado no "depósito de lixo dos países ricos".

Navegando com a Voz dos Oceanos por essa Indonésia tão linda e fascinante, torna-se ainda mais evidente a necessidade de mudanças urgentes. Precisamos estancar a torneira da poluição plástica, reverter essa invasão sufocante de resíduos e garantir a salubridade - e a vida - do nosso Planeta Água!

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

1 comentário

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Ernesto Freire Pichler

A Indonésia é linda e tem um povo maravilhoso.

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