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Aquecimento global e mudanças climáticas são a mesma coisa?

Imagem: Getty Images

Julia Moióli

Colaboração para Ecoa

20/05/2024 04h00

Não. Apesar de os termos aparecerem com cada vez mais frequência devido aos eventos climáticos extremos, eles se referem a fenômenos diferentes. Aquecimento global e mudanças climáticas não são a mesma coisa, mas estão intimamente ligados: as mudanças climáticas são uma consequência direta do aquecimento global.

Para entender melhor, vale lembrar que o planeta Terra é envolvido por uma camada de gases, a atmosfera. Por ali, há, entre outros, oxigênio, nitrogênio, argônio e CO2 (gás carbônico) - este último, historicamente, na concentração de aproximadamente 0,03%. O problema é que esse número vem aumentando nas últimas décadas, fazendo o gás carbônico intensificar o efeito estufa.

O efeito estufa é o processo pelo qual os gases na atmosfera da Terra retêm o calor do Sol. Esse fenômeno natural é necessário para manter o planeta habitável. Porém, o excesso de gases do efeito estufa gera desequilíbrio climático e aquecimento global, que é a elevação da temperatura média do planeta além do necessário para a vida ser possível.

Com isso, diversos fenômenos climáticos e físicos acabam se desregulando também. Você já deve ter percebido e sentido o aumento na frequência e na intensidade de ondas de calor, chuvas, secas e ventos, além da elevação do nível do mar. Esse conjunto de alterações é que são as mudanças climáticas.

Como sabemos que há mais gás carbônico na atmosfera?

Há décadas, cientistas de todo o mundo analisam amostras de ar e efetuam medições técnicas desse e de outros gases causadores do efeito estufa.

Ao longo dos últimos milhões de anos, durante todos os ciclos entre eras glaciais e períodos quentes, a concentração de gás carbônico na atmosfera nunca passou de 300 ppm (partes por milhão). No final da última era glacial, registrou 280 ppm. Hoje gira em torno de 410 ppm.

Além disso, entre 1800 e agora, o aumento foi 70% maior e 200 vezes mais rápido do que quando a Terra saiu da última era glacial.

Outro dado alarmante: a concentração dos gases de efeito estufa atingiu um recorde no ano de 2022, quando ficou 50% acima dos níveis da era pré-industrial, segundo um boletim da OMM (Organização Meteorológica Mundial) divulgado no fim de 2023.

Por que isso acontece?

A ação do homem é apontada pelos cientistas como o principal motivo - observe que a diferença entre os dados pré e pós-Revolução Industrial, ocorrida no século 18, são bastante marcantes. Foi nessa época que mais gases de efeito estufa passaram a ser emitidos na atmosfera por atividades como:

  • Agropecuária
  • Descarte de resíduos sólidos
  • Desmatamento
  • Geração de energia
  • Transportes

O que indica que o planeta está mesmo mais quente?

Assim como no caso dos gases causadores do efeito estufa, essa informação é obtida por medições técnicas. Registros meteorológicos de satélites e dados colhidos na superfície da Terra mostram que a temperatura média aumentou cerca de 1 grau Celsius desde o final do século 19.

Os levantamentos revelam ainda que os anos entre 2015 e 2022 foram os oito mais quentes já registrados.

Em áreas urbanas, o aumento de temperatura é ainda maior: "Alguns centros possuem registro de aumento até 3,5 graus Celsius na temperatura média em relação a 50 ou cem anos atrás", aponta o biólogo Tiago da Silveira Vasconcelos, pesquisador da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)."Isso acontece por conta da eliminação de pontos de amortecimento de clima - em suma, árvores são substituídas por concreto -, que poderiam amenizar as temperaturas durante o período mais quente do dia, trazendo também uma biodiversidade maior, que, em última instância, melhoraria a qualidade de vida das pessoas."

Se a Terra está mais quente, por que ainda faz frio?

"O aumento do gás carbônico na atmosfera, que aquece o planeta, desregula o clima, que é um sistema variável e complexo, que envolve diversos fatores, incluindo a circulação de ar e de água no oceano", diz Vasconcelos, da Unesp. "E o principal resultado disso não são apenas ondas de calor, mas eventos climáticos extremos em geral."

O professor e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Qualidade do Ar da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) Neyval Costa Reis Junior dá exemplos: "Com a atmosfera mais aquecida, com mais energia, a água evapora mais rápido e com mais intensidade, causando episódios de seca mais fortes; e, com essa maior evaporação, as nuvens formadas também são mais vigorosas, dando origem a chuvas mais excessivas."

Nos países do hemisfério Norte, onde, na média, os invernos têm se tornado menos frios e mais curtos, um exemplo desses eventos extremos são as ondas de frio, com rajadas de neve e gelo e ventos de centenas de quilômetros por hora. Isso porque, assim como o planeta, os oceanos e a atmosfera também estão mais quentes, o que aumenta a quantidade de água que evapora no ar e as precipitações - seja de água ou neve.

Fonte: Tiago da Silveira Vasconcelos, biólogo e pesquisador da Unesp; Neyval Costa Reis Junior, professor e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Qualidade do Ar da UFES; Nasa Science; NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos); ONU e Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP

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