Como reduzir o impacto ambiental do descarte individual de produtos?
As atitudes de uma única pessoa têm impactos reais no meio ambiente. Seja o indivíduo um consumidor ou um empreendedor, é ele quem decide o que acontece com os resíduos que produz por meio do consumo doméstico ou industrial.
"Ações individuais que causam mudanças podem tanto poluir quanto despoluir. Todo o plástico que está nos oceanos hoje foi descartado por pessoas. Da mesma maneira, cada garrafa retirada por um indivíduo ajuda na despoluição", diz o ecólogo Renato Paquet.
"Nós temos a escolha do que vamos consumir, que materiais vamos levar para nossas casas ou indústrias e como faremos a destinação final dos produtos. Somos os maiores responsáveis pelo impacto ambiental que observamos hoje, mas também podemos ser os maiores responsáveis pela mudança positiva por meio das nossas decisões", completa Paquet.
Assim, vale procurar locais de coleta adequado e se programar para descartar da maneira correta os resíduos produzidos no dia a dia. Entenda mais a seguir:
Por que não devemos descartar óleo de cozinha na pia ou no lixo comum?
Descartar o óleo de cozinha no ralo da pia pode parecer prático e inofensivo, mas, para se ter uma ideia, 1 litro de óleo contamina mais de 20 mil litros de água, inviabilizando o uso doméstico. Também prejudica a vida da fauna, pois diminui o oxigênio na água.
Um outro ponto é que as Estações de Tratamentos de Efluentes (ETE) e os dutos de esgoto não são preparados para receber o óleo em suas instalações. Quando o óleo é descartado na pia, ele adere às paredes dos encanamentos, entupindo-os.
Ao chegar nas estações de tratamento, a separação do óleo e da água é cara e complexa, e nem todas as ETEs têm as tecnologias adequadas para fazer isso.
Descarte correto: armazene o óleo de cozinha em garrafas PET e leve para pontos de entrega voluntária (PEV) municipais ou privados. Outra opção é aproveitar o óleo em casa para produzir produtos de limpeza.
Por que é prejudicial jogar eletrônicos, pilhas e baterias no lixo comum?
Considerados resíduos perigosos, os eletroeletrônicos possuem substâncias tóxicas e deterioráveis que são altamente químicos. Se descartados incorretamente, eles degradam o meio ambiente expondo o solo e os corpos aquíferos (rios e lençóis freáticos) a estes materiais químicos, estendendo a contaminação para áreas além do ponto de origem.
Descarte correto: em pontos de entrega voluntária, conhecido como PEV autorizados, a exemplo de supermercados ou pontos gerenciados pela gestão pública ou privada.
Por que não jogar remédios vencidos no vaso sanitário ou no lixo comum?
Os remédios não podem ser descartados em vasos sanitários, pois são classificados como perigosos e contribuem para a contaminação dos efluentes pluviais (dutos para a água da chuva).
De maneira similar ao óleo de cozinha, as estações de tratamento de efluentes não possuem tecnologia para retirar componentes químicos contidos nos remédios, como hormônios e princípios ativos complexos.
Outro problema é a baixa infraestrutura de coleta e destinação de resíduos existente no Brasil: 40% dos resíduos vão parar em lixões, onde os catadores de materiais recicláveis, em situações precárias de vida e de trabalho, são expostos a esses medicamentos, seja pelo consumo direto e indevido ou pelo contato involuntário.
Descarte correto: leve os remédios e suas embalagens em pontos de entrega voluntária (PEV) gerenciados por programas de logística reversa em farmácias ou postos de saúde autorizados na sua cidade.
Qual o problema de misturar restos de comida com materiais recicláveis?
Misturar os resíduos compromete a qualidade dos recicláveis, que ficam sujos. Isso contribui para a proliferação de vetores, como ratos e baratas e impossibilita ou reduz o seu valor de venda.
Quando descartados corretamente, os materiais recicláveis vão para a coleta seletiva e, posteriormente, para as cooperativas, onde os catadores fazem a separação manual. Pelo princípio de higiene e salubridade, é fundamental que os indivíduos não misturem restos de comida com os recicláveis.
"A população brasileira precisa se encorajar para compostar (técnica que aproveita a decomposição natural do lixo orgânico para transformá-lo em adubo em um ambiente controlado) os resíduos orgânicos em casa, pois o maior peso dos resíduos gerados hoje nas residências são os resíduos orgânicos, representando em torno de 50%. Esse composto produzido em casa pode ser utilizado para adubar as plantas do jardim, por exemplo, promovendo uma mini economia circular", afirma a gestora ambiental Joice Maciel.
É possível reduzir o uso de plástico de forma realista e prática?
Atualmente, mais de 70% dos produtos domésticos são plásticos ou usam embalagens plásticas. Para a gestora ambiental Joice Maciel, essa responsabilidade é do produtor, que deveria pensar no material utilizado e no ciclo de vida das embalagens de seus produtos ao final do seu uso.
Por outro lado, ela acredita que os consumidores estão mais atentos em relação à poluição de rios e oceanos e, muitas vezes, se recusam a consumir resíduos e embalagens plásticas descartáveis ou de uso rápido.
"Nenhum plástico tem a capacidade de se locomover autonomamente para um rio ou oceano. É necessário que algum consumidor o descarte incorretamente para que ele se torne um agente poluidor. Então temos que repensar o consumo e nos responsabilizar pelo descarte correto e a reciclagem', diz o ecólogo Renato Paquet.
Saiba como reduzir o uso de plástico:
- Utilize copos reutilizáveis e canudos retornáveis.
- Compre produtos de empresas que possuam embalagens biodegradáveis em substituição às embalagens plásticas.
- Vai fazer uma festa? Use pratos, copos e decoração de papel. Além disso, prefira utensílios de materiais recicláveis. Depois, descarte-os em um saco transparente que vá para a coleta seletiva.
- Caso você seja o convidado para um evento, use apenas um copo plástico em vez de ficar jogando fora e trocando a cada vez que se servir.
- Utilize sacolas retornáveis para ir ao supermercado.
Mesmo com a reciclagem é importante produzir menos resíduos?
Segundo Joice Maciel, nem todos os resíduos, por mais que tenham o potencial de reciclabilidade são reciclados, ou seja, transformados em outros produtos no final do seu ciclo de vida.
"A reciclagem é uma complementação para reduzir os danos causados pela geração de resíduos, mas devemos promover a redução e reutilização conforme a recomendação da política nacional de resíduos", diz a gestora ambiental.
"Outra questão é incentivar a economia circular, mantendo os recursos e materiais por mais tempo no ambiente, e utilizando o máximo dos subprodutos como matéria-prima para alimentar outros processos de forma equilibrada e sustentável. Um exemplo interessante é um shopping físico de coisas usadas, o Retuna, na Suécia", comenta.
Na avaliação de Paquet, o que acontece hoje é que há mais demanda do que oferta pelos materiais recicláveis e o preço final [e não do custo] acaba se elevando.
"O Brasil recicla somente 3% das 80 milhões de toneladas de resíduos que produz anualmente e quase 40% ainda vão para lixões, onde não temos qualquer tratamento. Enquanto não avançarmos com a oferta de recicláveis e nos investimentos em infraestrutura, a disponibilidade do material reciclado será baixa e o preço final será elevado. Reciclar, apesar do que se tem como mito, é sim fácil e não é caro", afirma.
Ele dá como exemplo o processo de reciclagem do plástico, que é mais simples do que a extração de matéria-prima virgem e o seu processamento.
"Será que é mais barato perfurar um poço de petróleo, extrair, transportar, refinar e produzir a resina de PET, do que triturar uma garrafa e voltar com ela para o ciclo produtivo? É sobre isso que estamos falando", questiona.
Fonte: Renato Paquet, ecólogo com ênfase em ecologia industrial, diretor-presidente de cleantechs da ABStartups, secretário-executivo da Recicla Latas, entidade gestora responsável pelo aperfeiçoamento da logística reversa de latas de alumínio no Brasil. É CEO e fundador da Polen, uma cleantech focada em sustentabilidade, dedicada a transformar a cadeia de reciclagem no Brasil através da logística reversa de embalagens. Recentemente, foi reconhecido pelo prêmio Innovators Under 35 Brasil 2024, na categoria ESG, pela MIT Technology Review; e Joice Pinho Maciel, gestora ambiental especialista em resíduos sólidos urbanos e economia circular, sócia fundadora da Apoena Socioambiental e Awty Guardião dos Rios, empresas especializadas em gestão de resíduos sólidos e sustentabilidade, e pesquisadora colaboradora do Núcleo de Caracterização de Materiais (NucMat Unisinos) e Inesc Brasil
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