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Compras online são prejudiciais ao meio ambiente?

Transporte e embalagens são maiores vilões das compras online Imagem: Getty Images

Bárbara Therrie

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

09/09/2024 05h30

Das vantagens de comprar online, a comodidade certamente é a maior delas. Mas as compras realizadas pela internet impactam o meio ambiente e merecem a nossa atenção.

Toda vez que um produto é entregue na sua casa ou se, por algum motivo, você decide devolvê-lo, isso resulta na emissão de gases do efeito estufa provenientes do transporte. As embalagens e seu descarte (especialmente quando é feito da maneira errada) também podem sobrecarregar o sistema de gestão de resíduos.

Compras online geram muitas emissões de gases de efeito estufa?

As emissões de compras online costumam ser significativas, principalmente quando há uma grande distância a ser percorrida pelo modal de transporte. Do lado do consumidor, o impacto ao meio ambiente aumenta nas seguintes situações:

Compras pequenas e recorrentes ao invés de agrupadas em menos vezes

Devoluções e trocas

Entrega urgente que muitas vezes é feita no mesmo dia

Entrega não realizada que necessita de uma nova visita do entregador

As embalagens também são um fator relevante devido ao uso do plástico. O plástico bolha, por exemplo, não é reciclável.

Mas é possível reduzir os impactos negativos escolhendo fornecedores com opções reutilizáveis, recicláveis e biodegradáveis. O uso de veículos elétricos para o transporte também é uma opção.

Comprar poucos itens com mais frequência não é eficiente

Ao fazer compras em uma loja física, geralmente os consumidores adquirem tudo em uma única compra. No ambiente virtual, as pessoas fazem compras online com mais frequência, mas poucos itens por vez, o que é considerado ineficiente. De acordo com uma pesquisa realizada pela Octadesk e a Opinion Box, 62% dos consumidores fazem de duas a cinco compras online por mês.

"As compras online tendem a ser feitas 'de picadinho'. Isso é um problema na medida em que mais viagens e deslocamentos serão necessários para a entrega dos produtos, produzindo mais emissões de gases do efeito estufa e, consequentemente, agravando a emergência climática", afirma Julia Catão Dias, pesquisadora do programa de consumo sustentável do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores).

Diversas marcas e plataformas oferecem a opção de o consumidor fazer uma única remessa ao escolher diferentes produtos. Nesses casos, é mais eficiente receber as compras de uma vez só do que recebê-las separadamente, cada uma com o seu transporte.

Qual o tipo de entrega é melhor pensando nas emissões de GEE?

O entregador fará a entrega de bicicleta? A pessoa irá retirar o produto no centro de distribuição de carro? A distância, localização, os tipos de transporte e a quantidade de produtos influenciam no processo.

Mas, de forma geral, a retirada em lojas ou pontos de distribuição tende a ser mais vantajosa porque que diminui as viagens individuais até a residência dos consumidores.

Uma estratégia é escolher pontos de entrega com base na localização, o que pode resultar em uma coleta a pé, de bicicleta ou com outros modais de menor impacto ambiental. Além disso, as pessoas também podem incluir a coleta dentro da sua rota, em vez de se deslocarem apenas para buscar os produtos.

Quais as alternativas para reduzir as emissões no transporte de entregas?

Segundo um estudo do MIT, as compras online poderiam ser mais sustentáveis do que as compras feitas em lojas físicas em mais de 75% dos cenários que os pesquisadores criaram, como adotar embalagens reduzidas e transporte totalmente elétrico. A Amazon, por exemplo, estabeleceu a meta de ter 100 mil veículos elétricos até 2030.

Outras alternativas que podem reduzir as emissões de GEE no transporte são:

Agregar múltiplas entregas, ao invés de fazer várias entregas individuais;

Usar algoritmos inteligentes (no caso das empresas de distribuição) para otimizar rotas e encontrar as mais eficientes;

Adotar logística compartilhada entre empresas, ou seja, compartilhar os centros de distribuição, de veículos, entre outros;

Adotar logística reversa eficiente, otimizando e facilitando a devolução/retorno de produtos pelo consumidor, utilizando os mesmos veículos das entregas;

Fazer o monitoramento e manutenção das frotas para que funcionem de forma eficiente.

Qual o impacto dos centros de distribuição?

Os centros de distribuição e armazenamento têm um alto consumo de energia devido ao uso de equipamentos, materiais, o próprio sistema de iluminação e, em muitos casos, sistemas de refrigeração, de TI, entre outros. O uso de fontes de energia não renováveis gera um impacto no contexto das mudanças climáticas.

No entanto, é possível reduzir o consumo de energia adotando medidas como investir em tecnologias mais eficientes; utilizar energias renováveis; monitorar o consumo de energia; conscientizar os colaboradores para que utilizem os equipamentos da forma correta; manter a manutenção em dia para evitar danos e prejuízos a itens e equipamentos.

Problema está na forma ou nos hábitos de consumo?

Todo ato de consumo tem um impacto, seja ele social, econômico ou ambiental. Bruno Yamanaka, engenheiro ambiental e especialista de conteúdos do Instituto Akatu, diz que de nada adianta optar pela forma mais sustentável de compra, se compramos impulsivamente, com grande recorrência, mais do que precisamos ou desnecessariamente. Qualquer compra desnecessária configura um desperdício de recursos financeiros e naturais.

Para Julia Catão Dias, pesquisadora do Idec, o hábito de consumo inserido nas dinâmicas dominantes de produção e consumo está causando as crises socioambientais e climáticas que vivemos. Segundo ela, é urgente repensar a forma de consumir e de produzir.

"Precisamos nos atentar aos nossos hábitos de consumo para que não sejamos levados pela emoção do momento, por uma propaganda ou por um impulso. Além do desperdício de recursos relacionados à produção e transporte do item adquirido, temos um impacto no bolso. Ao sermos mais cuidadosos com nossos atos de consumo, podemos avaliar quais as formas mais sustentáveis", finaliza Yamanaka, do Instituto Akatu.

Fonte: FONTES: Bruno Yamanaka, engenheiro ambiental e especialista de conteúdos do Instituto Akatu; Julia Catão Dias, pesquisadora do programa de consumo sustentável do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores)

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