É possível reduzir a zero o consumo de combustíveis fósseis?
Sem falar em 'eliminação' dos combustíveis fósseis, a COP28, conferência do clima da ONU, chegou a um acordo histórico para a redução do consumo global de petróleo, gás e carvão, os principais causadores do aquecimento global.
O documento final estabeleceu como limite o ano de 2050 para zerar as emissões líquidas do setor, o que deve ser feito por meio de uma transição acelerada nesta década.
Os combustíveis fósseis geram emissões de gases poluentes e gases de efeito estufa, ou seja, amplificam o aquecimento da temperatura média do planeta, contribuindo para acelerar as mudanças climáticas. Os impactos associados a isso ocorrem em efeito cascata com consequências perigosas para os ecossistemas e a saúde humana, além de gerar implicações econômicas.
Outro ponto é que os combustíveis fósseis não são renováveis e o seu consumo desenfreado poderá colocar em risco as reservas existentes, comprometendo a sua disponibilização como fonte de energia em todo o mundo.
Atualmente a matriz energética mundial é extremamente dependente dos combustíveis fósseis e o seu uso tem sido cada vez mais demandado devido ao aumento populacional, o que reflete na utilização direta dos combustíveis nos transportes e na indústria.
Por que o uso de combustíveis fósseis é prejudicial?
- A queima de combustíveis fósseis é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global. Reduzir o seu consumo é essencial para limitar esses efeitos e mitigar as mudanças climáticas.
- A queima de combustíveis fósseis é uma fonte significativa de poluentes do ar, como dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, que estão associados a problemas de saúde, como doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer. Diminuir o seu uso leva à uma melhoria na qualidade do ar e beneficia a saúde pública.
- A dependência excessiva de combustíveis fósseis pode criar vulnerabilidades econômicas e geopolíticas, principalmente em países que precisam importar esses recursos. Ao diversificar a matriz energética com fontes renováveis e sustentáveis, os países podem aumentar sua segurança energética e diminuir sua dependência dos combustíveis de origem não-renovável.
- A transição para uma economia baseada em fontes de energia limpa e renovável estimula a inovação tecnológica e a criação de empregos em setores como energia solar, eólica, hidrelétrica e biocombustíveis, os chamados empregos verdes. Isso impulsiona o crescimento econômico e promove uma transição justa para uma economia sustentável.
- Os combustíveis fósseis são recursos não renováveis que levaram milhões de anos para se formar e estão sujeitos ao esgotamento. Reduzir o seu consumo ajuda a preservá-los.
É possível reduzir a zero o consumo de combustíveis fósseis?
Considerando como base o ciclo de vida de qualquer atividade econômica e o processo de produção de bens de consumo, reduzir a zero o consumo de combustíveis fósseis é um desafio difícil e complexo. Porém, diminuir sua dependência e realizar uma transição para fontes de energia sustentáveis e renováveis é possível e urgente.
Para que essa transição seja eficaz é necessário conscientizar sobre os impactos ambientais, a finitude desses recursos, investir em pesquisa e desenvolver tecnologias para fontes de energias renováveis.
Além disso, é necessária uma mudança de mentalidade e compromisso com o avanço tecnológico para garantir que as novas fontes de energia possam atender à demanda global com eficiência em termos de produção, armazenamento e distribuição de energia.
Quais são os principais desafios?
Os desafios são complexos e exigem abordagens que considerem aspectos técnicos, econômicos, sociais, políticos e geopolíticos. Um dos principais deles é implementar ações concretas para uma transição energética justa.
Um outro aspecto é que a infraestrutura existente, amplamente construída em torno dos combustíveis fósseis, demanda investimentos massivos para a transição, afetando diferentes setores de forma desigual, exacerbando a resistência à mudança.
Os investimentos necessários para construir infraestrutura e tecnologias de energia limpa podem afetar negativamente alguns setores da economia, como a indústria de combustíveis fósseis, resultando em desemprego e instabilidade em áreas dependentes desses setores.
A influência política e o lobby da indústria de combustíveis fósseis também representam obstáculos significativos. A dependência geopolítica desses recursos contribui para a instabilidade internacional.
A intermitência das energias renováveis, como solar e eólica, apresenta desafios para garantir um fornecimento estável de energia. Isso requer o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia eficazes para lidar com a variabilidade dessas fontes, o que pode adicionar custos adicionais à transição energética.
Além disso, a transição para fontes de energia renovável pode exigir uma grande quantidade de terra e recursos naturais, o que pode ter impactos ambientais negativos, como a conversão de terras para produção de biocombustíveis ou a instalação de parques eólicos e solares em áreas sensíveis.
Quais são as alternativas para a substituição dos combustíveis fósseis?
As energias renováveis, como solar, eólica, hidrelétrica e biomassa, oferecem fontes limpas e abundantes de energia.
Outras alternativas ambientalmente amigáveis incluem:
reduzir o consumo de energia elétrica, com medidas de eficiência energética
eletrificação dos transportes com o uso de veículos elétricos
migrar para combustíveis renováveis nos transportes, como o hidrogênio verde
desenvolver biocombustíveis e combustíveis sintéticos produzidos a partir de fontes renováveis
O que o Brasil tem feito para reduzir o consumo de combustíveis fósseis?
Dentro de um cenário mundial, o Brasil se destaca por possuir uma matriz elétrica predominantemente composta por fontes renováveis, sendo a hidrelétrica a principal delas, responsável por mais de 60% da produção de eletricidade do país.
O Brasil tem implementado algumas medidas para diminuir o uso de combustíveis fósseis e incentivar fontes de energia mais limpas e renováveis, uma delas é a liderança global na produção e uso de biocombustíveis, como o etanol derivado da cana-de-açúcar, e o desenvolvimento de outros tipos, como o programa RenovaBio.
O Brasil tem investido em energia solar, eólica e em outras fontes renováveis, promovendo leilões de energia e implementando políticas para atrair investimentos privados nesses setores.
Existem ainda políticas como o novo Plano Clima, que será apresentado em 2025, cujo objetivo é direcionar o Brasil para manter o ritmo de redução no desmatamento e a transição para a economia de baixo carbono rumo à neutralidade climática.
Além disso, o governo federal e os governos estaduais possuem programas de apoio à pesquisa e inovação em energias renováveis, incluindo bolsas de estudo, incentivos fiscais e parcerias público-privadas. Universidades, institutos de pesquisa e empresas privadas estabelecem parcerias para desenvolver projetos de pesquisa, geralmente recebem financiamento público e privado.
Apesar disso, a decisão do Brasil de aderir à Opep+ como membro associado garantiu ao governo o prêmio Fóssil do Dia na COP28, por ser uma sinalização contrária à necessidade de redução de exploração do petróleo.
Existe algum prazo para reduzir a zero o consumo de combustíveis fósseis?
Não. Mas uma das metas estabelecidas pelo Acordo de Paris é a de atingir o net zero, isto é, o equilíbrio entre a quantidade de gases de efeito estufa produzida e a quantidade removida da atmosfera, até 2050. Até lá, há uma meta intermediária: as emissões globais líquidas de dióxido de carbono (CO2) geradas pela atividade humana precisam cair cerca de 45% até 2030 em relação aos níveis de 2010.
No entanto, vale ressaltar que alcançar a neutralidade de carbono requer uma transição completa para fontes de energia limpa e renovável, o que pode levar décadas e exigir mudanças significativas nos sistemas de energia, transporte, indústria e agricultura em todo o mundo. O sucesso na redução desses recursos depende da implementação efetiva de políticas ambiciosas, avanços tecnológicos e cooperação internacional.
Fonte: Rodrigo Santiago, chefe do Departamento de Engenharia de Petróleo da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), e Andrea Santos, coordenadora do Laboratório de Transporte Sustentável do COPPE/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro)
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