Topo

Existe mineração sem impacto negativo no meio ambiente?

campo de mineração de lítio Imagem: iStock

Bárbara Therrie

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

08/12/2024 05h30

A mineração é essencial para extrair os recursos naturais não renováveis, como água e substâncias minerais, que precisamos para o desenvolvimento humano, para a vida e permanência no planeta, bem como para os insumos que são utilizados na construção civil, agricultura e indústria de manufatura em geral.

Os minerais estão presentes em todas as áreas da nossa vida, desde a casa onde moramos, nos produtos que consumimos (roupas, celulares, eletrodomésticos), nos alimentos que comemos, nos transportes que utilizamos. Ou seja, praticamente tudo com que temos contato no dia a dia tem origem ou depende direta ou indiretamente da mineração.

Como toda e qualquer atividade extrativa, a mineração interfere no meio ambiente, uma vez que os recursos naturais se encontram no solo e subsolo (litosfera) e a extração é feita através da remoção de camadas de solo e rochas. Os impactos causados podem incluir erosões, poluição de águas, emissões de poeiras, ruídos, vibrações e geração de resíduos.

"Todos esses impactos negativos são conhecidos e dimensionados, é possível minimizá-los com os devidos controles implantados durante e pós as operações da mineração industrial responsável e sustentável, com medidas de mitigação e adoção de soluções avançadas e inovadoras", afirma Julio Nery, diretor de sustentabilidade e assuntos regulatórios do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).

Quais são os atuais desafios?

A mineração enfrenta desafios ambientais significativos relacionados às emissões de gases de efeito estufa (como o CO2), emissão de material particulado (como a poeira), o uso de água, de energia, o controle de biodiversidade, controle do desmatamento, controle da contaminação do solo e gerenciamento da estabilidade física e química do terreno. Atualmente, a gestão de resíduos da mineração, como rejeitos e material estéril, é apontada como a questão mais crítica no setor.

Na avaliação do engenheiro de minas Nery, os atuais desafios da mineração se referem à resiliência da própria atividade relacionada aos eventos climáticos extremos. Segundo ele, o setor tem sido mais do que conservador nas previsões climáticas para possibilitar maior segurança e reduzir riscos à vida e à saúde dos trabalhadores e às estruturas. No entanto, a mineração pode sofrer impactos envolvendo o bloqueio de vias, interrompendo a oferta de insumos e causando danos a infraestrutura de plantas, por exemplo.

"Outro grande desafio é o nosso arcabouço de licenciamento ambiental, que é lento, burocrático e complexo, e nem sempre essa complexidade se reflete em ganhos ambientais", afirma o diretor de sustentabilidade do Ibram.

Dados os desafios, é necessário que a indústria mineral mantenha seus esforços para implantar práticas sustentáveis, como a adoção de tecnologias verdes, o reforço da reciclagem de resíduos, e a inserção da mineração na economia circular para controlar a sua pegada ecológica e apoiar o suprimento global de recursos minerais.

É possível reduzir os impactos da mineração no meio ambiente?

Sim, todos os projetos de mineração precisam da aprovação da Agência Nacional de Mineração e dos órgãos ambientais antes de serem implantados. As ações de redução e mitigação dos impactos ambientais estão especificadas em leis e normas do setor, e as empresas de mineração devem operar dentro das exigências apresentadas em suas licenças ambientais.

"Há vários casos de sucesso na redução de impactos ambientais da mineração. Um exemplo são as operações de bauxita na região norte do país que têm sido bem-sucedidas na restauração ambiental após o término das atividades de lavra, com ações de replantio de espécies nativas, gestão de recursos hídricos e de restauração da biodiversidade local", comenta Giorgio de Tomi, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e dirigente do NAP.Mineração/USP (Núcleo de Pesquisa para a Pequena Mineração Responsável da USP).

A mineração industrial também pode atuar na proteção e conservação de áreas, possibilitando a preservação de espécies de fauna e flora, ecossistemas, comunidades e culturas.

Um outro exemplo são as criações de parques e outros empreendimentos a partir de áreas que antes eram usadas para mineração. Em São Paulo, o lago do Parque do Ibirapuera e a raia olímpica da USP eram áreas de extração de areia; em Curitiba, a atual Ópera de Arame foi uma pedreira durante décadas; em Minas Gerais, a Mina do Morro Velho que funcionou como mina de ouro durante 170 anos, está sendo preparada pela AngloGold Ashanti para uso futuro, conjugando preservação histórica, ambiental e desenvolvimento econômico.

Qual é o papel da água na mineração?

Em 2020, o total do uso de água por todos os setores no Brasil foi de 1.947,55 m³/s, sendo 2% correspondente ao setor da mineração, de acordo com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

Na mineração, a água é utilizada no beneficiamento de minérios (processo de separar e purificar minerais de interesse tornando-os adequados para uso industrial, agrícolas e construção civil), em obras de disposição de rejeitos e tratamento dos efluentes gerados, no controle de poeira em vias de circulação, na lavagem de equipamentos e, em alguns casos, no transporte de minérios, entre outros.

De acordo com o docente Tomi, o grande risco da água utilizada pela mineração é que ela pode conter resíduos dos processos de lavra e de beneficiamento mineral, o que pode ser prejudicial ao meio ambiente e, por isso, necessita de tratamento físico e químico antes de ser retornada à natureza.

"É essencial que as operações de mineração sejam submetidas a processos sustentáveis de tratamento e recuperação da água utilizada, e que a sociedade e o poder público tenham iniciativas de fiscalização e um controle rigoroso", alerta o professor da USP.
Alguns exemplos de inovação na gestão da água na mineração:

- Em projetos de reuso da água durante o beneficiamento mineral, por meio da recirculação da água e de processos de saneamento da água utilizada. As taxas de recirculação de água nos empreendimentos de mineração podem ultrapassar 80%, reduzindo significativamente a captação de água nova;

- No beneficiamento de minérios em circuito fechado para minimizar a necessidade de captação de água nova;

- No saneamento e reuso de água recuperada a partir de barragens de rejeitos;

- Na reutilização de água tratada de efluentes sanitários para atividades simples, como molhar ruas;

- No uso planejado de água retirada do subsolo para devolver à superfície, ajudando a economizá-la e evitando a necessidade de buscar novas fontes;

- Novos processos de beneficiamento de minérios a seco estão sendo desenvolvidos pela indústria mineral para minimizar o uso de água na mineração.

O que é mineração sustentável?

A mineração sustentável é também chamada de mineração do futuro, mas já está sendo colocada em prática. Essa atividade se define por ações que visam mitigar os riscos e dar maior segurança, responsabilidade e sustentabilidade antes, durante e pós-operação.

Com a crescente demanda por minerais críticos e estratégicos para a transição energética, a mineração tem um papel fundamental para alcançarmos o desenvolvimento sustentável. Ela é tecnológica, integrada às pessoas, ao meio ambiente, e compromissada com as comunidades onde atua, com o país e com o futuro do planeta.

Os principais pilares da mineração sustentável são:
- Relacionamento, comunicação e engajamento aprimorados com os públicos essenciais e com a sociedade;

- Operações cada vez mais seguras, com foco nas pessoas e no meio ambiente;

- Ações fortalecidas em prol da diversidade e equidade na mineração;

- Combate e intolerância à ilegalidade;

- Pleno aproveitamento de minerais para garantir a segurança energética, alimentar e climática;

- Economia circular, com a transformação de resíduos sólidos em matérias-primas para outras cadeias produtivas;

- Modelos mais seguros e sustentáveis de gerenciamento de rejeitos e estéreis.

Fonte: Julio Nery, diretor de sustentabilidade e assuntos regulatórios do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), uma organização nacional privada e sem fins lucrativos que representa as empresas e instituições que atuam no setor mineral; Giorgio de Tomi, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e dirigente do NAP.Mineração/USP (Núcleo de Pesquisa para a Pequena Mineração Responsável da USP)

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

- UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Meio ambiente