O que significa o termo net zero?
A neutralização de carbono busca equilibrar as emissões e a captura de gases de efeito estufa para evitar seu acúmulo na atmosfera. O conceito de net zero representa o estado ideal em que a quantidade de gases emitida é igual à removida. Para alcançá-lo, é essencial reduzir emissões e investir em medidas de descarbonização.
Esse compromisso envolve indivíduos, empresas, organizações e países, sendo crucial para conter o aquecimento global. As estratégias incluem tanto a compensação de emissões, como o plantio de árvores e a compra de créditos de carbono, quanto a adoção de práticas que reduzam a liberação de poluentes na origem.
"A compensação apenas não é suficiente para atingir a neutralidade em escala global, pois não dispomos de processos capazes de capturar uma quantidade de carbono equivalente ao total das emissões atuais", diz Neyval Costa Reis Junior, professor do Departamento de Engenharia Ambiental da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). "Por isso, o único caminho viável depende da redução significativa das emissões", completa.
A seguir entenda melhor esse conceito:
Por que o net zero é importante?
Para evitar os piores impactos das mudanças climáticas e manter o planeta habitável, é essencial limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Atualmente, a temperatura já subiu cerca de 1,2°C, e as emissões continuam em alta. Para cumprir a meta do Acordo de Paris, é necessário reduzir as emissões em 45% até 2030 e atingir o net zero até 2050. Atingir a neutralidade de carbono é crucial para interromper o aumento da concentração de CO2 na atmosfera e evitar ultrapassar o limite crítico de 2°C, comprometendo a capacidade de adaptação da humanidade.
Estamos no caminho certo para atingir o net zero até 2050?
Não. Os compromissos assumidos pelos governos até o momento estão muito aquém do necessário. Os planos climáticos nacionais dos 195 países signatários do Acordo de Paris, considerados em conjunto, levariam a uma redução de apenas 2,6% das emissões globais de gases de efeito estufa até 2030, em comparação com os níveis de 2019.
Para limitar o aquecimento global a no máximo 1,5°C, as emissões precisam ser reduzidas em 43% até 2030 e atingir net zero até 2050. Para isso, todos os governos - especialmente os maiores emissores - precisam fortalecer significativamente suas NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas) e adotar medidas ousadas e imediatas para reduzir as emissões agora.
Quais são os desafios para atingir a neutralidade de carbono?
Os principais desafios para a redução das emissões estão relacionados a fatores tecnológicos e financeiros. A maioria das tecnologias de baixa emissão ou de emissão neutra são mais caras em comparação com as tecnologias baseadas em combustíveis fósseis.
É necessário arcar com investimentos ainda elevados ou desenvolver soluções de menor emissão de carbono que também sejam economicamente mais acessíveis.
De acordo com Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima, existe ainda o desafio de mudar a mentalidade dos tomadores de decisão.
"Os governos e as indústrias parecem estar apostando em futuras soluções tecnológicas de captura para continuar queimando petróleo como se não houvesse amanhã. Se não diminuirmos o uso de combustíveis fósseis radicalmente nesta década e na próxima, não haverá [amanhã] mesmo", afirma.
O que as empresas podem fazer?
Há três principais formas de as empresas neutralizarem as emissões de carbono:
Aumentar a eficiência: se a energia utilizada em um processo ou atividade provém de combustíveis fósseis, melhorar a eficiência no uso dessa energia reduzirá o consumo de combustível e, consequentemente, as emissões.
Investir na transição energética: substituir atividades baseadas em combustíveis fósseis por fontes de energia mais limpas — como solar, eólica, hidráulica, biocombustíveis, entre outras — contribuirá diretamente para reduzir as emissões de carbono.
Compensar as emissões: financiar projetos ou iniciativas que capturem uma quantidade de carbono equivalente às emissões geradas, por meio de compras de créditos de carbono. Estabelecer mecanismos eficazes de remuneração para impulsionar projetos de reflorestamento ou manutenção de florestas, oferecendo valor atrativo para proprietários de terras, por exemplo.
Vale lembrar que nem todas as emissões de carbono estão relacionadas a geração e uso de energia. Processos como logística, tratamento de resíduos, uso do solo e uso da água também contribuem para as emissões globais. Sendo assim, é necessária uma abordagem específica para cada setor.
E as pessoas?
Os indivíduos podem usar a energia de forma mais eficiente. Como? Por exemplo, reduzindo o consumo de eletricidade, comprando produtos sustentáveis, diminuindo o consumo de carne bovina e, no caso de veículos flex, abastecendo com etanol em vez de gasolina.
Na avaliação de Claudio Angelo, repensar hábitos de consumo pode ser útil, mas a atuação mais relevante dos indivíduos é por meio das urnas e do voto. "Não eleger negacionistas climáticos e votar em pessoas que têm planos para combater a crise do clima", afirma.
Qual é o papel do governo?
Os governos desempenham um papel crucial no processo de transformação rumo à descarbonização. Isso é possível através de políticas públicas que combatam as emissões e promovam e incentivem mudanças estruturais da economia.
Essas políticas abrangem desde a fiscalização e combate a atividades de alta emissão, como o desmatamento, passando pela regulamentação, como a criação de mercados de carbono e a definição de limites de emissões, até medidas que tornem os negócios e processos de baixa emissão mais atrativos financeiramente.
Incentivos tributários ou financiamentos a juros menores para atividades de baixo carbono são alguns exemplos de políticas governamentais capazes de acelerar a redução das emissões.
Que países têm se destacado na neutralização das emissões de carbono?
A União Europeia tem se destacado nas discussões e na implementação de mecanismos internos para a redução de emissões. Entretanto, a guerra na Ucrânia e o atual cenário sociopolítico têm imposto barreiras na busca pela neutralidade de carbono, resultando em certa estagnação.
Os países europeus têm obtido resultados diferentes. A Suécia, por exemplo, introduziu um imposto sobre as emissões de carbono em 1991, cobrando 27 euros por tonelada de carbono emitida. No início dos anos 2000, essa taxa ultrapassou os 100 euros, estimulando a adoção de alternativas mais sustentáveis.
A Noruega tem saído na frente na eletrificação do setor de transportes. O país escandinavo já possui em circulação mais veículos elétricos do que movidos a gasolina. No entanto, o plano de neutralidade da Noruega não inclui as emissões do petróleo produzido e exportado pelo país.
O professor Neyval lembra que a rota para a descarbonização varia de um país para outro.
"No caso do Brasil, há um histórico consolidado no uso de biocombustíveis nos transportes, como etanol e biodiesel. Isso sugere que a eletrificação do setor de transportes pode não ser a rota prioritária do país, requerendo uma análise mais detalhada dos fatores envolvidos", diz o professor. "A escolha da estratégia mais adequada exige uma análise cuidadosa das implicações financeiras, tecnológicas e ambientais de cada caminho", reforça.
Ainda no Brasil, a aprovação da lei para a criação do mercado de carbono é um passo importante nessa direção.
Porém, segundo Claudio Angelo, embora vários países tenham se comprometido com a neutralidade de carbono em 2050, poucos estão de fato fazendo o suficiente.
"A Nova Zelândia quer zerar emissões do setor público em 2025, mas é um país pequeno que emite relativamente pouco. Todos os países ricos deveriam zerar emissões até no máximo 2040, mas nem a União Europeia propôs fazer isso", diz Claudio.
Fonte: ONU, Neyval Costa Reis Junior, doutor em engenharia ambiental, professor do Departamento de Engenharia Ambiental da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), coordenador do Instituto de Estudos Climáticos da mesma instituição, e coordenador do NetZeroES (Plano Estadual de Neutralização das Emissões de GEE do Espírito Santo); Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima
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