O que é pegada de carbono e qual é a importância da descarbonização?
Na busca por limitar o aumento da temperatura média global a 1,5º C em relação aos níveis pré-industriais, países e corporações têm se comprometido com atingir o chamado net zero, ou seja, a neutralidade de carbono, quando há equilíbrio entre os gases de efeito estufa liberados e removidos.
Esse processo de descarbonização exige uma redução drástica das emissões de gases de efeito estufa resultantes de atividades humanas. Um relatório da Universidade de Oxford mostrou que o mundo precisa quadruplicar a captura de CO2 na atmosfera até 2050 para tentar limitar o aquecimento do planeta.
Nesse contexto, a pegada de carbono pode servir como um lembrete do impacto que as ações pessoais e corporativas possuem no meio ambiente. Por meio dela, é possível entender que as escolhas realizadas no cotidiano podem contribuir para o aumento de problemas ambientais graves, como por exemplo as mudanças climáticas.
O que é pegada de carbono?
Ela é uma medida utilizada para comparar as emissões de vários gases de efeito estufa com base no potencial de aquecimento global de cada um deles. O dióxido de carbono equivalente é o resultado da multiplicação das toneladas emitidas de gases de efeito estufa pelo seu potencial de aquecimento global. Por exemplo, o potencial de aquecimento global do gás metano é 21 vezes maior do que o potencial do gás carbônico (CO2). Então, dizemos que o CO2 equivalente do metano é igual a 21.
No caso de um produto, como um celular, por exemplo, são consideradas as emissões como a origem das matérias-primas, passando pela fase de produção, distribuição, consumo e descarte.
No caso de um alimento, a pegada de carbono inclui emissões desde a mudança de uso da terra (como o desmatamento de uma floresta para uso agrícola), as emissões de metano do processo de ruminação do gado (a fermentação entérica ou o "arroto" do boi) e outras etapas como transporte, produção, comercialização e descarte de embalagens.
O cálculo da pegada de carbono inclui o dióxido de carbono (CO2) e outros gases causadores do aquecimento global, com destaque para o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O).
Qual a importância de medir a pegada de carbono?
Ao medir nossa pegada de carbono pessoal podemos saber como estamos contribuindo com o aquecimento global e de que forma podemos diminuir nosso impacto. A conta é feita considerando as emissões que têm origem direta de uma única pessoa durante o cotidiano, por meio de ações como deslocamento, consumo, alimentação e utilização de recursos como a energia. As atividades que mais somam para essa pontuação são a escolha dos meios de transporte, consumo de energia e hábitos de consumo.
Existem várias ferramentas e metodologias disponíveis para estimar a pegada de carbono, seja de um indivíduo, produto, atividade ou organização. No caso de empresas, pode ser usado o protocolo de gases de efeito estufa (GHG Protocol), que classifica as emissões de escopo 1 (emissões diretas), escopo 2 (emissões indiretas sobre o consumo de energia) e escopo 3 (outras emissões indiretas, como matérias primas, fornecedores, distribuição e consumo de produtos ou serviços).
O que significa descarbonização?
Descarbonização significa escolher matérias-primas, fontes de energia, processos de fabricação, transporte e consumo, além de adotar atitudes que reduzam ou evitem a emissão de gases de efeito estufa. Uma dessas ações é substituir as fontes de energia provenientes de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás, por fontes de energias renováveis, como solar, eólica, hídrica, de biocombustíveis ou de biomassa.
Quais são os benefícios da descarbonização?
O benefício direto é a redução das emissões de gases de efeito estufa, que é a forma mais eficiente de combater o aquecimento global e a crise climática. Eliminar a queima de combustíveis fósseis também reduz a poluição, melhora a qualidade do ar, diminui a ocorrência de doenças respiratórias e possibilita uma vida mais saudável.
O que as empresas podem fazer para reduzir as emissões de carbono?
As empresas e o setor privado têm papel-chave na descarbonização, pois são responsáveis pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa e controlam a maior parte da atividade econômica e da produção de bens e serviços. Entende-se que a crise climática seja decorrência direta do processo de industrialização e globalização.
Uma empresa deve inventariar suas emissões, isto é, calcular a pegada de carbono de suas operações, elaborar um plano de transição para net zero que guie a companhia na redução das emissões da sua linha de produtos e serviços, substitua fontes de energia fóssil por fontes renováveis, aprimore processos, atualize fornecedores. É o que chamamos de ação climática.
Na impossibilidade de não emitir gases de efeito estufa, as empresas devem compensar as emissões residuais adquirindo certificados de redução de emissões de projetos de alta integridade que capturem e armazenem carbono. O mercado de créditos de carbono se estrutura como um mecanismo financeiro de compensação de excedentes e estímulo à neutralização.
Qual a importância das políticas públicas na descarbonização?
Políticas públicas são importantes pois leis e regras da economia estabelecem padrões de conformidade para as empresas. Sem as exigências de uma produção mais limpa, as companhias tendem a fazer menos do que poderiam pela sobrevivência do planeta, atuando mais em um compromisso voluntário do que em uma obrigatoriedade legal.
Nas economias mais avançadas já existem tetos de emissões definidos em lei para setores que são grandes emissores de gases de efeito estufa, na qual as empresas que fazem parte desses setores são obrigadas a reduzir suas emissões para respeitar a regulação. Políticas públicas também podem estabelecer a tributação de emissões de GEE, onde geralmente o poluidor é o pagador - depende da legislação específica de cada jurisdição.
Qual é o papel dos consumidores na descarbonização?
Sempre que possível, os cidadãos podem reduzir as emissões dos automóveis, optando pelo uso de transportes públicos ou abastecendo os veículos com etanol, ou outros biocombustíveis, como o biodiesel.
Cabe ainda aos cidadãos escolher governos e governantes que sejam protagonistas no desenho de políticas públicas que estimulem a conservação do planeta, estabeleçam normas que beneficiem processos industriais mais limpos com redução da carga tributária e penalizem processos mais emissores com o aumento das mesmas - a exemplo do que passou a acontecer no Brasil com uma tributação menor para o etanol em relação à gasolina.
Além disso, os consumidores podem demandar das empresas a oferta de produtos e serviços de baixo carbono, contribuindo para acelerar a ação climática no setor empresarial.
Quais são os impactos e desafios da descarbonização?
O maior desafio é a mudança dos paradigmas de como a economia funciona.
As agendas de clima e meio ambiente são complementares, mas distintas. Por exemplo, para a transição energética será necessário aumentar o processo de mineração de itens estratégicos para o desenvolvimento de equipamento industrial e baterias, o que não significa necessariamente redução do impacto ambiental. Empresas e governos devem estar atentos a essa contradição e buscar caminhos e soluções conjuntas.
Um outro desafio é buscar constantemente a eficiência energética na fabricação de produtos, escolher aqueles que utilizam menos energia, a exemplo de carros que fazem mais quilômetros por litro de combustível fóssil ou de refrigeradores que utilizem menos energia nos processos de resfriamento.
As preocupações com as mudanças climáticas são uma tendência mundial. Empresas e países que não se adequarem vão perder espaço no comércio internacional.
A descarbonização é a grande transformação da economia do século 21. Para o Brasil é a oportunidade de alcançar o protagonismo econômico global como potência verde, no desenvolvimento e construção de novos setores da economia, atração de investimentos e geração de empregos na área. A abundante oferta de água, sol e vento fazem do país uma das nações com maior potencial de geração de energia renovável.
Fonte: Gustavo Pinheiro, sócio-fundador do grupo Triê e associado sênior do think tank E3G; Virginia Parente, Virginia Parente, professora do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, membro da Divisão Científica de Planejamento, Análise e Desenvolvimento Energético do IEE, e conselheira de empresas; Marina Esteves, coordenadora de práticas empresariais e políticas públicas em clima e meio ambiente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.