Quais são os minérios essenciais para a transição energética?
Uma das estratégias para a transição energética é a substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia renovável, como solar (sol) e eólica (vento).
A geração de eletricidade a partir de fontes renováveis e seu armazenamento dependem de uma série de equipamentos, cuja fabricação exige alguns minerais. Dentre os principais, estão: cobre, cobalto, lítio, níquel e elementos de terras raras.
O lítio e o cobalto, por exemplo, são usados em baterias que compõem os sistemas de armazenamento de energia. O níquel é necessário tanto em baterias quanto nas usinas eólicas. O cobre é utilizado na transmissão de energia das usinas até os consumidores. Já os elementos de terras raras, como o neodímio, são úteis na fabricação de ímãs para motores de carros elétricos e também em turbinas eólicas.
Além deles, são necessários outros minerais mais comuns como o aço, geralmente usados em maior quantidade, para construir as torres das turbinas eólicas e as torres de linhas de transmissão.
Que países são os principais produtores desses minérios?
A lista de minerais para a geração e armazenamento de eletricidade é ampla — um relatório da Agência Internacional de Energia reúne informações de 37 diferentes materiais.
Se formos considerar os cinco que geralmente são mencionados como minerais-chave, temos a seguinte lista sobre a extração, a partir de dados compilados pela Columbia University, dos Estados Unidos:
Cobre: Chile (24%), Peru (11%), República Democrática do Congo (11%)
Cobalto: República Democrática do Congo (73%), Indonésia (5%), Rússia (5%)
Lítio: Austrália (51%), Chile (26%), China (15%)
Níquel: Indonésia (48%), Filipinas (11%), Rússia (7%)
Elementos de terras raras: China (70%), Austrália (6%)
O Brasil pode ser um fornecedor de minérios para transição energética?
Sim, o Brasil tem potencial para se tornar um fornecedor de minérios devido à sua geologia diversificada, a presença de profissionais capacitados em geologia e mineração e de uma comunidade científica forte.
"Há vários projetos de lítio em andamento e diversos investimentos em terras raras. Para o níquel, a competição está difícil porque a Indonésia aumentou muito a produção, que tem baixo custo e pouco controle ambiental", comenta Luis Enrique Sánchez, professor titular de Engenharia de Minas da USP (Universidade de São Paulo).
Para Bruno Milanez, doutor em Política Ambiental, embora o Brasil possua reservas importantes de elementos terras raras (19%) e de níquel (16%), o país não tem capacidade tecnológica para elaborar produtos de alta complexidade a partir desses materiais.
Nos anos 1990, com a expansão da extração de elementos de terras raras na China, o Brasil não conseguiu competir com os chineses e as atividades por aqui foram interrompidas.
Atualmente existe um grande projeto desse grupo de minérios em Goiás, cujo mineral deverá ser exportado para ser beneficiado nos EUA. Já em relação ao níquel, o consumo aparente dele tem diminuído, o que sugere que o país vem beneficiando cada vez menos esse mineral.
Existe ainda a extração de outros minerais no Brasil, como cobre e lítio, mas tanto a produção atual como as reservas não são grandes o suficiente para o país vir a ter um peso relevante no mercado internacional, segundo Milanez.
"É comum ouvir representantes do setor falarem que o Brasil vai liderar o mercado de minerais para a produção e armazenamento de eletricidade, mas, em grande parte, esse discurso consiste em uma atuação, seja do setor privado ou do governo, para tentar atrair investidores", afirma o doutor em Política Ambiental.
Quais os maiores desafios do Brasil no mercado de minérios de transição?
As reservas de minérios do Brasil poderiam ser um ponto de partida para uma tentativa de industrialização, mas as políticas nessa direção parecem não se firmar.
"Um papel de liderança, de fato, exigiria alguma capacidade de beneficiar esses minerais e fabricar bens industrializados no país, algo distante da realidade atual", diz Bruno Milanez.
O caso do lítio é um exemplo. As principais reservas do mundo fora da Austrália estão no Chile, Argentina e Bolívia.
Uma das estratégias seria pensar em parcerias com esses países para desenvolver uma cadeia de produção integrada para atender a demanda dos países latino-americanos, onde o Brasil poderia atuar na agregação de valor.
No entanto, o país prefere competir com os vizinhos para atrair mineradoras e, posteriormente, exportar o mineral pouco beneficiado.
Quais os impactos da mineração no meio ambiente?
Os impactos são diferentes dependendo do tipo de minério.
O processo de beneficiamento pode exigir grande quantidade de água, e muitas das atividades de extração de minerais para a produção e armazenamento de eletricidade se concentram em áreas onde já há estresse hídrico, como o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e o interior do Nordeste brasileiro. Como consequência, há conflitos envolvendo acesso a água em alguns desses locais.
Além disso, todos os minérios, depois de extraídos da mina, precisam ser processados para concentração ou refino. Essa etapa gera resíduos e poluentes, e pode ser difícil armazená-los e controlá-los de maneira adequada. Na China, há grandes áreas contaminadas com resíduos do processamento de terras raras. Essa é a etapa mais poluente, ainda que seja a que mais agrega valor.
Como equilibrar a necessidade desses minérios com o impacto que eles geram?
A mineração sempre afetará pessoas e comunidades, seja de modo direto ou indireto.
O primeiro passo para diminuir seus impactos é respeitar os direitos das partes afetadas, a começar por manter as pessoas em suas terras, conservar suas fontes de água e negociar caso não queiram uma mineradora como vizinha.
Nos casos em que as mineradoras se instalam nas comunidades, é preciso discutir com seus representantes a escala dos projetos, o ritmo de instalação, as compensações pelos danos causados e a divisão da renda gerada.
Estudos mostram que uma parte significativa da renda gerada pela extração mineral não fica nas localidades da extração, e mesmo a parcela que fica é concentrada.
"O impacto da mineração pode ser controlado, desde que sejam seguidas as boas práticas, como o reúso de água, o não consumo da água utilizada pela comunidade, controle de poluição do ar, gestão dos rejeitos de forma segura e recuperação das áreas degradadas", explica o professor Sánchez, da USP.
Fonte: Bruno Milanez, engenheiro de produção, doutor em política ambiental e professor da Faculdade de Engenharia da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora); Luis Enrique Sánchez, professor titular de Engenharia de Minas da USP (Universidade de São Paulo)