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Energia Limpa

Tudo sobre a produção energética que não emite poluentes na atmosfera


Quais são os benefícios econômicos da transição energética?

Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo - Getty Images/iStockphoto
Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo Imagem: Getty Images/iStockphoto

Bárbara Therrie

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

24/11/2024 05h30

Um estudo da Agência Internacional de Energia aponta que investimentos em energia limpa acrescentaram cerca de US$ 320 bilhões à economia mundial em 2023, representando 10% do crescimento do PIB global. A transição energética favorece a criação de novos empregos, incentiva o desenvolvimento de tecnologias, atrai investimentos privados e do governo, entre outras vantagens.

Os Estados Unidos, a maior economia do mundo, tiveram um PIB de 2,5% em 2023, sendo que 6% do crescimento americano estava relacionado à energia limpa. Na China, a estimativa é de que a energia limpa tenha sido responsável por um quinto do crescimento de 5,2% do PIB do país em 2023.

E o Brasil nesse cenário? De acordo com dados da mesma agência, o país é o segundo maior produtor de biocombustíveis (etanol mais biodiesel) do mundo; e o terceiro maior gerador de eletricidade renovável, sendo responsável por quase 7% da produção de eletricidade renovável do planeta - ultrapassando sua parcela de 3% da população global e 2% do PIB global.

"Uma análise da consultoria Mckinsey aponta que se o Brasil reforçar sua posição de potência verde a economia do país pode adicionar até US$ 100 bilhões ao PIB e criar 6,4 milhões de empregos até 2030", comenta Erik Rego, vice-coordenador do ETIC (Centro de Inovação para Transição Energética) da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).

A seguir, entenda quais são os benefícios econômicos da transição energética:

Cria novos empregos

Em 2023 foi registrado o maior aumento de todos os tempos em empregos na área de energias renováveis. O número de postos de trabalho saltou de 13,7 milhões em 2022 para 16,2 milhões no ano passado, uma alta de 18%, segundo relatório daIrena (Agência Internacional para as Energias Renováveis) e da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

A China lidera o ranking global de criação de empregos, com uma estimativa de 7,4 milhões de empregos em energia renovável ou 46% do total global. Em seguida, vem a União Europeia com 1,8 milhão. O Brasil aparece em terceiro, com 1,56 milhão de postos de trabalho, à frente de Estados Unidos e Índia, cada um com cerca de 1 milhão de empregos.

"O maior impulso vem do setor de energia solar fotovoltaica, que gerou 7,2 milhões de empregos em todo o mundo. Desses, 4,6 milhões estavam na China, o principal fabricante e instalador de energia fotovoltaica. Os biocombustíveis líquidos tiveram o segundo maior número de empregos, seguidos pela energia hidrelétrica e eólica. O Brasil liderou o ranking de biocombustíveis, sendo responsável por um terço dos 2,8 milhões de empregos no mundo nesse setor", afirma o professor Erik Rego, da Poli-USP.

Gera investimentos

A preocupação com os impactos das mudanças climáticas e a necessidade de mitigar os efeitos — que em 2024 se tornaram visíveis com as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio e a Espanha em novembro — têm impulsionado o governo e o setor privado a investirem em energias renováveis, infraestrutura de redes, armazenamento de energia, eficiência energética e inovação tecnológica.

O Brasil foi o terceiro país que mais atraiu investimentos em energias renováveis em 2023, totalizando mais de US$ 25 bilhões, de acordo com a BloombergNEF), atrás apenas de China e Estados Unidos. Considerando todos os segmentos da transição energética e tecnologias de baixo carbono, o investimento no Brasil foi de US$ 34,8 bilhões, atrás de China, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e França.

No Brasil, podemos destacar duas inciativas que demonstram o esforço do país nesse sentido. Uma delas é a criação de uma plataforma que visa atrair investimentos nacionais e estrangeiros em transição energética, indústria, mobilidade e soluções climáticas para o país. Conhecido como Brazil Climate and Ecological Transformation Plataform (BIP, na sigla em inglês), o sistema foi criado pelo Ministério de Minas e Energia, em colaboração com outros ministérios e em parceria com o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Sustentável).

"A ideia é que o espaço sirva como um catalisador de oportunidades, colocando potenciais financiadores em contato com bancos de desenvolvimento e organizações financeiras multilaterais, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)", diz Heloisa Borges, diretora de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

Outra iniciativa está relacionada ao Plano Decenal de Energia (elaborado pela EPE) que indica que o Brasil deve investir cerca de R$ 600 bilhões entre 2024 e 2034 entre projetos de geração e transmissão de energia elétrica.

Estimula a inovação e a criação de novas tecnologias

A transição para uma economia de baixa carbono exige inovar e desenvolver novas tecnologias, seja para produzir com menor pegada de carbono ou para ter processos mais eficientes.

Um exemplo são as baterias de armazenamento de energia elétrica. Embora associadas aos veículos elétricos, elas podem fornecer flexibilidade e segurança ao sistema elétrico ao absorver o excesso de energia solar durante o dia e armazená-la para ser usada quando escurecer. As baterias de armazenamento têm tido papel importante na rede elétrica da Califórnia (EUA), por exemplo. Em vários momentos de 2024, elas forneceram mais de um quinto da eletricidade na região.

Mundialmente reconhecido pelo seu pioneirismo na produção e implantação de biocombustíveis, o Brasil é um exemplo histórico de inovação e tecnologia. Os mandatos de mistura de etanol começaram em 1975 com o programa Proálcool, e desde então, a mistura aumentou progressivamente até o atual requisito de 27%.

"Seu sucesso e também suas dificuldades na trajetória de décadas impulsionaram o desenvolvimento de veículos flex, que representam cerca de 90% da frota de veículos leves do Brasil, permitindo que os consumidores escolham misturas mais elevadas de etanol quando os preços do mesmo são vantajosos", diz Erik Rego, do ETIC da POLI-USP.

Reduz a dependência de combustíveis fósseis

Um dos efeitos da dependência de combustíveis fósseis é expor a economia dos países à oscilação do preço do petróleo, que é influenciada por fatores geopolíticos e eventos externos.

"A transição energética reduz a dependência de combustíveis fósseis e pode beneficiar a economia por meio de uma maior estabilidade e previsibilidade dos preços de energia. A independência energética também diminui a necessidade de importações de combustíveis fósseis, especialmente o óleo diesel no caso brasileiro, o que por sua vez diminui a pressão sobre a balança comercial e libera recursos para investimentos internos", pontua Heloisa Borges, diretora da EPE.

Diminui gastos com a saúde

Outra vantagem econômica da transição energética é que, com a redução de emissões de gases de efeito estufa e da poluição atmosférica local, ela diminui os gastos com a saúde pública.

Em 2020, a Empresa de Pesquisa Energética realizou um estudo para avaliar o impacto na saúde humana pelo uso de biocombustíveis na região metropolitana de São Paulo. "Os resultados mostraram que o valor implícito à melhoria na qualidade de vida devido ao uso de biocombustíveis em substituição aos seus combustíveis fósseis gerou um benefício da ordem de R$ 25 bilhões para o etanol e R$ 17 bilhões para o biodiesel na região metropolitana de São Paulo", comenta Heloisa Borges.

Fonte: Erik Rego, vice-coordenador do Centro de Inovação para Transição Energética (ETIC) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP); e Heloisa Borges, diretora de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE)