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Quais setores econômicos mais impactam o aquecimento global?

A indústria é um dos setores que mais colaboram para a emissão de GEE - Getty Images
A indústria é um dos setores que mais colaboram para a emissão de GEE Imagem: Getty Images

Bárbara Therrie

Colaboração para Ecoa

12/08/2024 05h30

Um dos maiores desafio deste século, o aquecimento global é causado pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE), impulsionado principalmente pelo uso de combustíveis fósseis no mundo. Os setores de energia, transporte, indústria, agricultura e resíduos são os que mais contribuem para as mudanças do clima.

No mundo, o setor de energia é o maior responsável (34%) pelas emissões globais de GEE, segundo o 6º relatório do Painel Internacional sobre a Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês); seguido pela indústria, com 24% das emissões; agricultura, florestas e uso da terra (AFOLU, na sigla em inglês) com 22%; transportes com 15%; e construção civil com 6% das emissões globais.

No Brasil, as mudanças no uso da terra e de florestas são as principais fontes de emissões de GEE, representando cerca de 48% das emissões totais do país, de acordo com o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), ligado ao Observatório do Clima. A agropecuária aparece na 2ª posição, com 27%. O setor energético é o terceiro maior emissor de GEE do Brasil, com 18%. Já resíduos e indústria respondem por 4% e 3%, respectivamente.

Veja a seguir como os principais setores e atividades afetam o aquecimento global.

Indústria química

Outro setor que emite CO2 (dióxido de carbono) e outros gases de efeito estufa durante os processos de produção é a indústria química, com destaque para os plásticos.

"A produção de plásticos é particularmente problemática devido ao uso intensivo de energia e à dependência de matérias-primas derivadas de combustíveis fósseis. O descarte inadequado de plásticos também pode levar à degradação ambiental", diz Gustavo Pinheiro, sócio-fundador do grupo Triê e associado sênior do think tank E3G.

Para mitigar o impacto da indústria química, é essencial adotar processos de produção mais eficientes e de baixa emissão, como promover a reciclagem e a reutilização de plásticos e ampliar o investimento na indústria verde, em alternativas biodegradáveis e em fontes biológicas.

A transição para matérias-primas renováveis (como os biomateriais derivados de plantas como a cana-de-açúcar) e a melhoria da gestão de resíduos também reduzem emissões de GEE associadas ao setor químico.

Indústria de mineração

Ainda na lista de indústrias, a mineração é considerada uma atividade intensiva em energia, segundo o relatório do IPCC.
O uso de máquinas pesadas movidas a combustíveis fósseis, o processamento dos minerais, a mineração de carvão e o desmatamento e a degradação do solo -que reduz a capacidade de sequestro de carbono dos ecossistemas naturais-- são algumas das principais fontes de emissões do setor.

A substituição do carvão por fontes renováveis, como a biomassa vegetal, a restauração de áreas mineradas e a proteção de ecossistemas podem contribuir para o sequestro e estoque de carbono, por meio de soluções baseadas na natureza, e devem ser prioridades na transição para net zero.

Indústria do petróleo, carvão e gás natural

Atualmente a matriz energética mundial é extremamente dependente de combustíveis fósseis (entre eles, petróleo, carvão e gás natural). Eles são utilizados na geração de energia elétrica; no aquecimento de edificações; nos transportes (em motores de combustão interna de veículos como automóveis, caminhões, embarcações e aeronaves); e na transformação para produção de fertilizantes, plásticos, resinas, entre outros.

Agropecuária

A agropecuária impacta o aquecimento global por meio da modificação do uso do solo, ou seja, do desmatamento de biomas florestais para substituição por pastos e plantações. A derrubada das matas altera as emissões porque as árvores e plantas nativas são capazes de capturar e acumular gases.

A outra forma vem da liberação de metano através dos rebanhos de animais ruminantes, principalmente da fermentação entérica do gado bovino, processo digestivo conhecido como arroto do boi, que ocorre para que a celulose seja digerida.

Com 234,4 milhões de cabeças de gado no Brasil, isso corresponde a cerca de 398 milhões de toneladas de CO2-equivalente provenientes da fermentação entérica. O uso de fertilizantes nitrogenados e de maquinários também gera emissões de GEE.

Algumas medidas podem reduzir os impactos, como promover a agricultura de baixo carbono por meio do plantio direto, fazer a integração lavoura-pecuária, adotar práticas agroflorestais e agricultura regenerativa e concluir a implementação do Código Florestal.

Alimentos

Antes de chegar ao nosso prato, todo alimento passa por etapas que geram emissões de GEE, afetando o sistema climático global. Esse processo inclui o cultivo, processamento, transporte, armazenamento e descarte.

"O desmatamento para expansão agrícola e o desperdício de alimentos, que culmina em emissões de metano, são todos fatores que contribuem significativamente para o aumento das temperaturas globais", diz Pinheiro, do think tank E3G.

A adoção de práticas agrícolas sustentáveis e até a diminuição do consumo de proteína animal podem ser benéficas.

Eletrônicos

?Itens essenciais para o nosso dia a dia, como celular, geladeira e máquina de lavar, a fabricação de eletrônicos gera emissões porque envolve o consumo de energia para extração e processamento de minerais e metais utilizados para sua produção.

De acordo com o relatório do IPCC, o rápido ciclo de obsolescência dos produtos eletrônicos contribui para um aumento desproporcional no volume de resíduos eletrônicos. Para quem descarta os dispositivos de forma inadequada, como jogar no lixo comum junto com os restos de comida, vale um alerta: isso também libera substâncias tóxicas e GEE durante a decomposição.

Aumentar a taxa de reciclagem de eletrônicos favorece a transição para uma economia circular no setor. Outras ações incluem melhorar a eficiência energética na produção de eletrônicos e promover o design sustentável.

Para quais setores é mais viável atingir o net zero?

Os setores de energias renováveis, serviços e tecnologia da informação e comunicação (TIC) são os mais bem posicionados para atingir o net zero, de acordo com o IPCC.

Substituir as fontes de energia provenientes de carbono por fontes de energias renováveis, como solar, eólica, biomassa e biocombustíveis oferecem alternativas custo-efetivas para a redução das emissões de GEE. As energias geotérmica (do calor proveniente do interior da Terra) e maremotriz (das marés) também são fontes renováveis, mas ainda estão em fase de desenvolvimento e demandam evoluções tecnológicas.

"A energia nuclear é uma outra possibilidade porque vem de uma origem mineral, que emite poucos gases de efeito estufa durante sua operação. Apesar dos riscos, ela é mais segura atualmente e pode ter um peso grande na substituição de termoelétricas", pondera Marcos Freitas, professor do Programa de Planejamento Energético do Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig) da instituição.

Já o setor de TIC pode reduzir significativamente suas emissões ao adotar práticas de eficiência energética. As empresas de serviços, que geralmente têm uma pegada de carbono menor, podem implementar medidas de sustentabilidade e eficiência energética, além de compensar emissões residuais com a aquisição de créditos de carbono de alta integridade.

O setor financeiro também tem um papel crucial, podendo direcionar investimentos para projetos sustentáveis e de baixo carbono, visando uma economia net zero. Adotar critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) nas decisões de investimento pode acelerar a descarbonização em diversos setores.

Fonte: Gustavo Pinheiro, sócio-fundador do grupo Triê e associado sênior do think tank E3G; Marcos Freitas, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig) da instituição.