Qual é o real impacto da reciclagem no meio ambiente?
Por Bárbara Therrie
Colaboração para Ecoa, em São Paulo
16/11/2024 05h30
Qualquer material durante sua produção em massa causa impactos ambientais, seja ele metal, plástico ou derivado de biomassa. Nesse sentido, a reciclagem é um dos caminhos para enfrentar a crise dos resíduos, reduzindo, ao mesmo tempo, a quantidade de lixo enviado a aterros ou lixões e a extração de recursos naturais por meio da geração de matéria-prima reciclada.
"A reciclagem traz um novo olhar para os resíduos, normalmente descartados e inutilizados, transformando-os em produtos novos que possam ser úteis, reintroduzidos na cadeia de produção e, assim, contribuir para o meio ambiente", afirma Patricia Takahashi, gestora ambiental e analista de comunicação da TerraCycle, cuja missão é eliminar a ideia de lixo.
A seguir, entenda como a reciclagem pode beneficiar o meio ambiente:
Reduz a extração de recursos naturais e consome menos energia
A reciclagem reduz de forma significativa a demanda por matéria-prima virgem e, portanto, por processos poluentes envolvendo mineração, transporte e manufatura por produtos intermediários. Quando reciclamos, evitamos a extração de recursos naturais, como o petróleo para a produção de plástico e minerais-minério para a produção de vidro.
"Para produzir plástico, petróleo precisa ser bombeado de reservatórios em grande profundidade, transportado, transformado em plástico e submetido a etapas de reação com calor e pressão. Na reciclagem do plástico é necessário apenas limpar e transformar a forma física dele. Isso demanda muito menos energia e tecnologia", explica Bettina Susanne Hoffmann, professora da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Um outro exemplo é o alumínio, que, quando reciclado, reduz ou evita a mineração da bauxita, o processo poluente que transforma bauxita em alumínio e o seu transporte para os grandes centros de consumo.
"Graças ao trabalho dos catadores, desde a virada do século o Brasil se tornou um dos maiores recicladores de latinhas de alumínio de bebidas carbonatadas, com alto valor agregado para a indústria do alumínio devido à redução drástica de energia necessária para sua fusão, em comparação ao consumo energético e geração de resíduos perigosos como a bauxita", diz Carlos Alberto Moraes, membro da Aliança Resíduo Zero Brasil e professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, o plástico e o alumínio são apenas alguns exemplos, mas o mesmo vale para processos de reciclagem de outros materiais, como o cobre, o papel e o próprio aço, que através da sucata de aço, evita a exploração e redução de minério do ferro.
Evita que resíduos sejam jogados em aterros e contribui com redução de GEE
Em 2022, cerca de 70 milhões de toneladas de resíduos foram enviados para aterros sanitários, aterros controlados e lixões no Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades. Quanto mais resíduos são reciclados, menos lixo é aterrado, diminuindo a emissão de gases do efeito estufa, como o metano e o CO2.
A redução da emissão de gases de efeito estufa não acontece diretamente por conta da reciclagem, mas a partir de um efeito colateral, o material que emite GEE em aterros é a matéria orgânica putrescível (restos de comida, óleos, etc), de acordo com a professora Hoffmann.
"Quando jogamos plásticos em aterros sanitários, eles degradam muito pouco e quase não emitem gases de efeito estufa. Contudo, como geralmente os plásticos estão contaminados com restos de comida e óleos, estes sim degradam e emitem gases de efeito estufa. Assim, a reciclagem desvia matéria orgânica do aterro sanitário e reduz, ainda que pouco, a geração de GEE nesses locais", diz.
Contribui para diminuir a poluição
A reciclagem pode contribuir para diminuir a poluição do solo, da água e do ar de algumas formas. Uma delas, por exemplo, é quando os resíduos de eletrônicos, como computadores, telefones, eletrodomésticos, pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes, são enviados para as cooperativas ou empresas especializadas na sua desmontagem, evitando a disposição irregular no solo.
"A chuva carrega para o solo metais pesados presentes nos seus dispositivos como chumbo, cádmio, cromo, que podem atingir e contaminar a água subterrânea ou lençol freático", comenta o professor Moraes.
De acordo com os especialistas, a reciclagem tem um saldo positivo em relação aos impactos ambientais, no entanto, é preciso cautela ao achar que ela é a única solução para a crise dos resíduos, principalmente para a poluição plástica.
"A reciclagem enfrenta muitos empecilhos técnicos e econômicos no atual sistema industrial. As vantagens apresentadas não conseguem ser bem exploradas, como pode ser visto nas baixas taxas de reciclagem", diz a professora Hoffmann.
A gestora ambiental Takahashi pondera que, apesar dos benefícios da reciclagem, ela deve ser uma das últimas práticas a serem adotadas dentro do que pode ser considerado o ideal, sendo prioridade reduzir o uso e consumo de materiais, seguido da reutilização.
Fonte: (FONTES: Bettina Susanne Hoffmann, professora das disciplinas Avaliação de Ciclo de Vida e Gestão da Inovação em Polímeros, na Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Patricia Takahashi, gestora ambiental e analista de comunicação da TerraCycle, cuja missão é eliminar a ideia de lixo; Carlos Alberto Mendes Moraes, membro da Aliança Resíduo Zero Brasil e professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).