Como se engajar na luta climática?


Bárbara Therrie
Colaboração para Ecoa, de São Paulo
22/03/2025 05h30
Não existe um único caminho para quem quer ajudar a encontrar medidas adequadas para lidar com a crise climática.
Mas é sempre importante buscar informação de qualidade sobre o assunto. Quando entendemos o problema fica mais fácil agir de maneira estratégica.
Vale também transformar pequenos hábitos, como reciclar o próprio lixo e repensar o consumo. Lembre: não é preciso ser perfeito. Basta ter ações constantes e disposição para aprender no processo.
Abaixo saiba como, com ações práticas, é possível contribuir para a luta climática.
É preciso fazer parte de uma organização?
Não. As organizações e coletivos são fundamentais para fortalecer a luta de maneira estruturada, garantindo impacto e continuidade nas ações, mas não é preciso estar dentro de uma instituição para gerar mudança.
O importante é entender que a crise climática afeta a todos e que cada pessoa pode contribuir de um jeito que faça sentido para sua realidade e possibilidades.
O engajamento pode acontecer em sala de aula, por exemplo, com currículos que incluam temas como justiça climática, racismo ambiental e direitos humanos. Além disso, escolas podem promover debates com especialistas da comunidade e adotar políticas de reciclagem, redução de plástico e alimentação sustentável.
No trabalho, é possível sugerir práticas mais sustentáveis na empresa, como a redução de descartáveis e o incentivo ao home office para diminuir a pegada de carbono.
Além disso, vale criar comitês internos para diversidade e inclusão, garantindo um ambiente mais equitativo para grupos minorizados.
E em casa e na comunidade, é importante ter conversas sobre justiça social e ambiental, incentivando mudanças de hábitos e consumo consciente. Somado a isso, é vital estar atento ao poder público e suas ações, para que vereadores e prefeitos coloquem em ação políticas públicas que beneficiem a periferia e o meio ambiente.
Como apoiar organizações que atuam na luta climática?
Há diversas formas de contribuir para essas organizações:
Com recursos financeiros: você pode fazer doações pontuais ou recorrentes para uma instituição que faça um trabalho em que acredite. Além disso, pode apoiar petições e editais, assinando e compartilhando. No caso de petições, além de assinar, divulgar em redes sociais, grupos e conversas ajudará a ampliar o alcance. Para petições que exigem assinaturas físicas, coletá-las em eventos e espaços comunitários torna a ação mais robusta. Já em relação a mobilização, é possível criar conteúdo explicativos, promover debates e incentivar discussões instituições públicas e privadas.
Sendo voluntário: você pode doar parte do seu tempo para ajudar essas organizações. Elas precisam de serviços diversos. Para trabalhar no Greenpeace Brasil, por exemplo, você pode fazer um cadastro na plataforma de voluntariado da ONG, o Conexão Verde.
Manter a escuta aberta: Ao falar de justiça climática, é essencial ouvir as vozes, especialmente das periferias, comunidades tradicionais e povos originários. Esses grupos são os mais impactados pela crise climática e têm muito a compartilhar sobre soluções sustentáveis e regenerativas.
Que mudanças no dia a dia são necessárias para a luta climática?
Algumas ações simples podem fazer uma diferença concreta. Veja:
1. Cultive (e compartilhe) conhecimento sobre o tema
Mantenha-se informado lendo notícias de fontes confiáveis sobre justiça climática, racismo ambiental e a crise climática. Valem livros, podcasts e documentários;
Siga ativistas e organizações confiáveis nas redes sociais;
Fale sobre esses temas com familiares, amigos e colegas de trabalho, incentivando um olhar crítico sobre o consumo e o meio ambiente.
2. Evite o consumo excessivo. Se for comprar, escolha produtos de empresas responsáveis. Assim:
Antes de comprar algo, pesquise se a empresa tem práticas sustentáveis reais (uso de materiais recicláveis, compromisso com energias renováveis, impacto social positivo).
Desconfie de "greenwashing" - quando marcas usam termos vagos como "ecológico" ou "natural" sem comprovação. Prefira selos como Fair Trade, Orgânico Brasil e B Corp.
Priorize produtores locais e pequenos negócios que valorizam a economia circular e reduzem a pegada de carbono no transporte dos produtos.
3. Reduza o uso de plásticos descartáveis:
Troque sacolas plásticas por ecobags e leve potes reutilizáveis para compras a granel.
Substitua garrafas PET por garrafas reutilizáveis de inox ou vidro.
Opte por canudos de metal ou bambu e evite embalagens desnecessárias em compras e delivery.
4. Recicle:
Separe resíduos recicláveis (plásticos, vidros, metais e papéis) e verifique se o seu bairro tem coleta seletiva ou cooperativas de reciclagem;
Destine eletrônicos, pilhas e lâmpadas em pontos de coleta especializados, evitando contaminação do solo e da água.
Prefira produtos feitos com materiais recicláveis ou biodegradáveis, incentivando a economia circular.
Como influenciar as pessoas a adotarem práticas mais sustentáveis?
O meio principal para conscientizar as pessoas é com informação e indicando formas simples e acessíveis de contribuir.
Vale trazer o tema para a realidade de cada um. Nem todo mundo vai se conectar com a crise climática a partir de dados científicos, mas muita gente vai entender quando perceber como isso afeta o aumento no preço dos alimentos (devido às alterações nas safras) ou a valorização do mercado imobiliário (casas ou apartamentos localizados em áreas com menos risco de deslizamentos em casos de chuvas são mais caros), por exemplo.
Além disso, há um engajamento e uma motivação quando os indivíduos se sentem parte de algo maior, quando há um senso de comunidade. Construir redes de apoio, trocar experiências e celebrar conquistas coletivas fortalece o compromisso com a causa.
Qual o papel da educação ambiental?
A educação ambiental é essencial na formação de cidadãos críticos e engajados na luta climática. Ela não se resume a ensinar sobre reciclagem ou sobre a preservação de florestas, mas, sim, a conectar a crise climática com justiça social, economia, política e os atuais desafios.
O ensino tradicional muitas vezes ainda trata o meio ambiente como algo distante. Mas ele está diretamente ligado à qualidade de vida, ao acesso a direitos e às desigualdades que vivemos.
Se quisermos que as próximas gerações tenham ferramentas para enfrentar a crise climática, a educação ambiental precisa faça parte da base curricular, nas escolas, nas universidades e nas atividades extra-curriculares.
Um exemplo de como a educação ambiental pode transformar realidades é por meio de trabalhos como do Instituto Perifa Sustentável, que atua em diversas cidades brasileiras na interseção entre juventude, periferia e justiça climática.
A iniciativa capacita jovens para compreender os impactos da crise climática em seus territórios e se tornarem protagonistas da mudança.
De que forma a participação política pode fazer a diferença?
A participação política é uma das formas mais importantes de atuação em prol da justiça climática, considerando todas as esferas de governo.
Nos últimos anos, o poder público federal tem se esforçado para incorporar a pauta climática de forma transversal a todos os setores como agricultura, infraestrutura, saúde, habitação.
Ao analisar a agenda das prefeituras e estados, porém, existe uma deficiência em relação ao tema. Para muitas cidades do Brasil, o enfrentamento à crise climática não é prioridade. Por isso, é vital prestar atenção ao que acontece perto de você.
Além disso, claro, votar em candidatos comprometidos com o tema e apoiar leis que protejam o meio ambiente é fundamental.
Cobrar governantes é um direito e um dever. Isso pode ocorrer por meio de petições, participação em audiências públicas, denúncias ou trazendo o assunto para o debate público.
Quando mais a sociedade se mobiliza, maiores as chances de o cenário mudar. Foi assim que iniciativas como o Acordo de Paris, as leis contra o desmatamento e programas de energia renovável saíram do papel.
Sem pressão popular, grandes empresas seguirão poluindo sem consequências, projetos destrutivos serão aprovados sem debate e políticas públicas essenciais não serão implementadas.
Quais são os principais desafios da luta climática?
Um dos principais obstáculos é a falta de recursos e estrutura. Diversas iniciativas climáticas são tocadas por ativistas que fazem muito com pouco dinheiro. Sem financiamento, é difícil expandir projetos e garantir que a luta seja sustentável a longo prazo.
Outro ponto é a dificuldade de acesso e visibilidade. A luta climática ainda é dominada por discursos eurocentrados (centralidade da Europa), enquanto as vozes periféricas e indígenas seguem invisibilizadas.
Somado a isso, a ecoansiedade (ansiedade relacionada ao eco, natureza, clima) e o sentimento de impotência podem gerar barreiras significativas. Muitas pessoas sentem que nada do que fazem é suficiente.
Por fim, a falta de vontade política dificulta avanços estruturais. Enquanto governos e grandes empresas continuarem priorizando o lucro em vez da justiça socioambiental, as transformações necessárias serão mais lentas.
Como identificar e combater a desinformação climática?
A desinformação climática é uma das maiores barreiras para o avanço da luta ambiental.
Ela confunde a população, enfraquece políticas públicas e dá espaço para quem quer desacreditar a ciência em benefício próprio. Para combater isso, é essencial desenvolver um olhar crítico e saber onde buscar informações confiáveis.
O primeiro passo é checar as fontes. Se uma notícia parece alarmista ou contradiz o consenso científico, vale pesquisar se ela foi publicada por veículos sérios e se há respaldo de especialistas no assunto.
Canais como o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) são boas referências.
Outra ferramenta é o Fakebook.eco, um site criado para desmentir fake news sobre o meio ambiente.
A plataforma reúne checagens de informações falsas que circulam na internet, abordando desde negacionismo climático até mitos sobre políticas ambientais. Consultá-lo antes de compartilhar uma notícia é uma forma eficaz de evitar a propagação de desinformação.
Combater a desinformação não significa apenas evitar fake news, mas também ampliar a disseminação de informações confiáveis, compartilhar conteúdos de fontes sérias, promover diálogos baseados na ciência e incentivar o pensamento crítico.
Fonte: Amanda Costa, ativista climática, internacionalista, jovem embaixadora da ONU, consultora em Mudanças Climáticas do British Council e fundadora do Instituto Perifa Sustentável; Rafael Onori, coordenador de Mobilização de Comunidades no Greenpeace Brasil