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Vulcões em erupção podem agravar o efeito estufa?

Monte Etna, na Sicília, em erupção - Giuseppe Distefano / various sources / AFP
Monte Etna, na Sicília, em erupção Imagem: Giuseppe Distefano / various sources / AFP

Bárbara Therrie

Colaboração para Ecoa

29/07/2024 04h00

Vulcões são estruturas geológicas naturais que formam aberturas na crosta da Terra, ligando reservatório de rocha fundida (magma) à superfície. Esses reservatórios são chamados de câmaras magmáticas e são os locais do interior do planeta onde o magma, que é formado por lava, gás e líquidos a altas temperaturas, se acumula sob pressão.

Os vulcões se formam de duas maneiras: devido ao movimento das placas tectônicas que constituem a crosta terrestre ou sobre os pontos quentes ("hot spots"), locais onde o magma proveniente do manto da Terra chega até a superfície.

Aqueles oriundos das placas tectônicas estão localizados próximos às suas bordas, onde o deslizamento entre as placas produz intenso atrito, derretendo as rochas e formando magma, que extravasa para a superfície. Esse é o caso dos vulcões da Cordilheira dos Andes, debaixo da qual há o atrito entre a placa da América do Sul e a de Nazca, sob o Oceano Pacífico.

Já no caso dos pontos quentes, os vulcões se formam à medida que a placa se desloca sobre esses pontos. É o caso das ilhas vulcânicas que formam o arquipélago do Havaí.

Durante uma erupção vulcânica, alguns gases são expelidos junto de outros materiais. Essas emissões são naturais e não podem ser evitadas ou reduzidas. Será que essas emissões fazem com que vulcões contribuam para o aquecimento global? Entenda a seguir.

Uma erupção vulcânica emite gases de efeito estufa?

Toda erupção vulcânica expele grandes quantidades de gases junto com lavas, cinzas e líquidos. O vapor d´água é responsável por cerca de 50% do efeito estufa, enquanto o CO2 (dióxido de carbono) responde por 24%.

"O vapor d´água e o dióxido de carbono são essenciais à vida. Porém, quando liberados em grandes quantidades por erupções vulcânicas em um curto intervalo de tempo, seu excesso na atmosfera pode aumentar rapidamente o efeito estufa, provocando variações bruscas de temperatura", explica Álvaro Crósta, geólogo e professor titular das disciplinas de Geologia Planetária e de Sensoriamento Remoto da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

As erupções também expelem SO2 (dióxido de enxofre), que não é considerado de efeito estufa, mas que se mistura com água e oxigênio na atmosfera para formar ácido sulfúrico, causando a destruição do ozônio - gás que protege da radiação ultravioleta. Assim, as erupções vulcânicas podem causar resfriamento do clima quando há predominância de SO2, e aquecimento quando há prevalência de CO2 nas emissões.

Segundo a vulcanóloga Rosaly Lopes, vice-diretora de Ciências Planetárias no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa, existem os invernos vulcânicos, que ocorrem devido às emissões das cinzas e aerossóis durante grandes erupções vulcânicas explosivas, que bloqueiam a radiação solar. "Nos episódios de invernos vulcânicos, o clima esfriou temporariamente por de um a dois anos, entre meio grau e um grau centígrado."

A atividade vulcânica tem impacto no aquecimento global?

De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, a atividade vulcânica não tem impacto no aquecimento global atualmente porque não há nenhuma grande erupção em curso. Como essas erupções são episódicas - acontecem a cada 100 mil anos aproximadamente -, só haverá um pico de impacto quando elas, de fato, ocorrerem.

Uma simulação da Nasa sugeriu que as erupções vulcânicas chamadas de inundação de basalto contribuiriam significativamente para o aquecimento global. Mas elas aconteceram há milhões de anos e não existem mais, segundo a vulcanóloga.

"No passado geológico, há evidências de que as erupções de basalto - como a que formou a província ígnea do Paraná há cerca de 132 milhões de anos e que cobre parte do Sul e Sudeste do Brasil - liberaram quantidades gigantes de gases e certamente causaram grandes mudanças no clima da época", afirma Álvaro Crósta, que também é membro da Academia Brasileira de Ciências.

Com um impacto muito menor, os três episódios vulcânicos de destaque ocorridos mais recentemente foram o Monte Tambora (em 1815), o Krakatoa (em 1883), ambos na Indonésia, e o Pinatubo (em 1991), nas Filipinas. Estima-se que este último expeliu entre 15 milhões e 30 milhões de toneladas de SO2, fazendo com que a nuvem de aerossol se espalhasse ao redor da Terra e fosse detectada por um ano. Como consequência, entre 1992 e 1993, o buraco de ozônio sobre a Antártida atingiu um tamanho sem precedentes.

Toda vez que um vulcão entra em erupção gigantesca e libera grandes quantidades de gases, há consequências diretas e indiretas. Os impactos diretos para o clima global são as emissões das cinzas e dos gases que alteram as características da atmosfera, podendo provocar o aquecimento ou o resfriamento do planeta.

As cinzas expelidas podem gerar sérios transtornos à população que vive próxima ao evento vulcânico e à circulação regional e até mundial de aviões e de navios. Os impactos indiretos são os efeitos de longo prazo, que podem perdurar por meses e anos depois da erupção.

Pode-se comparar emissões provocadas pelo homem e emissões dos vulcões?

As emissões antrópicas (decorrentes da ação humana) são regulares e crescentes ao longo do tempo. Já as atividades vulcânicas são episódicas, pouco frequentes se considerarmos a escala de tempo do ser humano, e podem ter magnitudes variáveis. É a magnitude do evento vulcânico que determinará a quantidade de emissões de gases do efeito estufa.

Tendo isso em vista, Crósta estima que, em média, a atividade antrópica libere entre 80 e 100 vezes mais gases de efeito estufa do que o volume somado de emissões de todos os vulcões ativos da Terra. "Contudo, se ocorrer um enorme evento magmático, do tipo inundação de basalto ou uma erupção de grande magnitude, essa comparação pode ser diferente, gerando um maior volume de emissões devido ao vulcanismo", afirma.

Fonte: Rosaly Lopes, vulcanóloga e vice-diretora de Ciências Planetárias no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa; Álvaro Crósta, geólogo, professor titular das disciplinas de Geologia Planetária e de Sensoriamento Remoto da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro da Academia Brasileira de Ciências.