As mudanças climáticas estão causando mudanças rápidas e generalizadas na atmosfera, nos oceanos, nos continentes e em todos os ecossistemas do nosso planeta. À medida que a temperatura da Terra continua a subir acima dos níveis pré-industriais, tendo atingido por 16 meses o limite de 1,5°C do Acordo de Paris, eventos climáticos extremos se tornam muito mais frequentes. Em 2021 a anomalia da temperatura média global em relação aos níveis pré-industriais foi de 1,16ºC, subindo para 1,18ºC em 2022, 1,48ºC em 2023 e está, atualmente, em 1,59ºC. Esses aumentos são extremamente preocupantes, pois, para cada fração de grau de aquecimento global, os impactos se tornarão mais frequentes e intensos, e a adaptação se tornará muito mais difícil e cara. A ciência deixa claro que o aquecimento global antrópico é o responsável pela alteração climática nunca vivida por muitos milhares de anos. As projeções de modelos climáticos altamente sofisticados mostram que, sem uma ação climática urgente e significativa, o mundo caminha para um aumento de temperatura global de até 3°C acima dos níveis pré-industriais ainda neste século, o que está bem acima dos limites de segurança. A COP29 que está acontecendo neste momento em Baku, no Azerbaijão, não pode ser igual à COP28. Ela tem que ser muito mais desafiadora e precisa começar efetivamente a debater o risco de termos um planeta chegando a 2,5ºC em 2050. Estamos no caminho de uma catástrofe climática planetária em que vários pontos de não retorno (tipping points) podem ser atingidos antes do estimado se não reduzirmos drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, e isso era para ontem. O combate às mudanças climáticas tem dois lados que se complementam: mitigação e adaptação. A mitigação foca no grande desafio de reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa e ir além, removendo bilhões de toneladas de gás carbônico da atmosfera com soluções baseadas na natureza por meio de uma gigantesca restauração de biomas. A adaptação se refere a ações que ajudam a reduzir a vulnerabilidade aos impactos atuais ou esperados das mudanças climáticas, como eventos extremos, tais como ondas de calor, chuvas extremas, secas e os riscos e perigos climáticos decorrentes, como a elevação do nível do mar, perda de biodiversidade e insegurança alimentar e hídrica. Ela inclui uma ampla gama de medidas que vão desde o plantio de variedades de culturas mais resistentes à seca até o aprimoramento de sistemas de alerta precoce e a construção de defesas mais resistentes às enchentes. Embora a aceleração dos esforços de mitigação continue sendo vital, ações urgentes para melhorar as medidas de adaptação são necessárias para limitar os impactos das enormes concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera. Antes da era industrial, os níveis de gás carbônico se mantiveram em torno das 280 ppm (partes por milhão) por quase seis mil anos. Desde então, as emissões vêm crescendo e os humanos geraram cerca de 1,5 trilhão de toneladas de poluição desse gás de efeito estufa. Dados observados pela NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos) mostram que, em outubro de 1958, o valor medido era de 312,42 ppm. Em outubro de 2024, o número chegou a 422,38 ppm, um aumento de 50% em relação ao período pré-industrial. À medida que os impactos das mudanças climáticas se aceleram é cada vez mais urgente que os países e as comunidades se adaptem. A adaptação enfrenta desafios, incluindo financiamento programado muito aquém do necessário, lacunas no conhecimento e restrições institucionais, especialmente em países em desenvolvimento. No Brasil, há mais de dois milhões de pessoas vivendo em áreas de altíssima vulnerabilidade aos extremos de chuvas que causam deslizamentos e inundações, o que torna urgentemente crucial a implementação de políticas de adaptação aos extremos climáticos em todo o país. O Brasil tem todas as condições de ser o primeiro país de grandes emissões a zerar suas emissões líquidas, pois até 75% delas provêm de desmatamentos e agropecuária. Zerar os desmatamentos em todos os biomas até 2030 já reduziria as emissões em aproximadamente 50%, atendendo às metas do Acordo de Paris para este período. O país pode implementar também uma restauração florestal em grande escala, principalmente na Amazônia, removendo centenas de milhões de toneladas de gás carbônico por ano, conseguindo zerar as emissões líquidas até 2040. Nosso país deve tornar-se ainda mais ambicioso, acelerar políticas públicas e práticas de adaptação, aumentar a resiliência em todos os setores e manter o apoio à geração de conhecimento científico. Os governos estaduais e prefeituras devem investir fortemente em estratégias de adaptação ao novo clima, em áreas urbanas, rurais e setores produtivos, tendo a redução de desigualdades sociais como aspecto central. O governo deve fortalecer ações de agentes financeiros (Ministério da Fazenda, BNDES, etc.), criando mecanismos de investimentos robustos e verificáveis, na Economia Verde, para transformar cadeias produtivas. Reforçar (em muito, mais que dobrar ou triplicar orçamentos) ao Ibama, PrevFogo, ICMBio, Cemaden, Inpe e os institutos do MCTI, para que eles tenham condições de auxiliar o país no combate à emergência climática. Algumas estratégias de adaptação no Brasil incluem: 1) Promover o transporte público e a mobilidade sustentável. 2) Ativar as respostas de resiliência de longo prazo das comunidades. 3) Retirar milhões de brasileiros de áreas de altíssimo risco de inundações, deslizamentos e enxurradas. 4) Proteger dezenas de milhões de brasileiros (idosas, idosos, crianças e pessoas com várias doenças) das crescentes ondas de calor. 5) Implantar as soluções de "esponjas urbanas" nas cidades brasileiras frente aos fortes impactos das ondas urbanas de calor e inundações e deslizamentos devido a fortes e prolongadas chuvas. A adaptação aos eventos climáticos extremos é necessária para reduzir o impacto dos efeitos adversos das mudanças climáticas e proteger as populações, o meio ambiente e as estruturas existentes. A adaptação é necessária independentemente do quanto conseguimos reduzir de emissões de gases de efeito estufa, pois as emissões históricas já alteraram perigosamente o clima. |