O atual modelo de desenvolvimento insustentável na Amazônia deve ser substituído por um novo modelo que priorize a proteção, restauração e criação de saudáveis florestas em pé e rios fluindo. O Painel Científico da Amazônia defendeu essa transição por meio do conceito de sociobioeconomia. A sociobioeconomia é uma economia baseada na restauração florestal e no seu uso sustentável para apoiar o bem-estar dos residentes da Amazônia e da comunidade global. Considera o conhecimento, os direitos e os territórios dos povos indígenas e das comunidades locais e coloca a justiça, especialmente para as mulheres e jovens indígenas, e a diversidade biológica e cultural como valores fundamentais do desenvolvimento. Esta inovadora sociobioeconomia pode ser mais lucrativa do que as economias convencionais que contribuem para o desmatamento na Amazônia. Aqui estão alguns exemplos: as pastagens requerem de 1 a 2 trabalhadores por 100 hectares e rendem um lucro de US$ 50 a US$ 100 por hectare por ano. O cultivo da soja requer até 1 trabalhador por 100 hectares e tem um lucro de US$ 100 a US$ 300 por hectare por ano. Por outro lado, a gestão de sistemas agroflorestais e a colheita de muitas dezenas de produtos florestais não-madeireiros requerem de 20 a 40 trabalhadores por 100 hectares e trazem um lucro de US$ 300 a US$ 700 por hectare por ano. Outro fator da sociobioeconomia é a moderna adição de valor aos produtos florestais através da bioindustrialização nas comunidades que gerem a restauração florestal. Essa agregação de valor é 10 a 20 vezes maior que a comercialização de produtos primários. Portanto, a bioindustrialização é essencial para construir predominantemente uma sociedade de classe média em toda a Amazônia. O grande desafio é aumentar significativamente os investimentos em tecnologia em toda a Amazônia. Desde 2017, identificamos biofábricas que utilizam tecnologia para valorizar os produtos nativos da Amazônia. Nossa pesquisa indica que a região amazônica carece de infraestrutura tecnológica significativa. Mais de 80% dos municípios da Amazônia precisam de infraestrutura empresarial com tecnologia para agregar valor aos produtos nativos. Atualmente, existem aproximadamente 150 empresas que utilizam tecnologias capazes de converter produtos florestais primários, como raízes, sementes e frutas, em produtos de maior valor, como farinha, óleo, gordura e chocolate. Uma visão viva de florestas tropicais sustentáveis busca o conhecimento da natureza baseado na ciência, nas inovações tecnológicas e no conhecimento dos povos indígenas e das comunidades locais como o caminho para o desenvolvimento socioeconômico sustentável, a conservação ambiental e uma sociobioeconomia de saudáveis florestas em pé e rios fluindo. Para evitar mudanças ambientais e sociais irreversíveis que conduzam a pontos de não retorno, é necessário mudar do atual modelo econômico que degrada a biodiversidade para um novo modelo regenerativo e inovador baseado na sociobiodiversidade. É crucial incluir os povos indígenas e seus conhecimentos neste novo modelo. Nesta transição, as tecnologias, o compromisso dos governos, a justiça social, a partilha equitativa de benefícios e a redução das desigualdades desempenham papéis centrais. Vamos salvar a Amazônia. Vamos salvar todos os povos Amazônicos. Este é a Amazônia que queremos. |