Grande Barreira de Corais da Austrália sofre pior branqueamento da história
A Grande Barreira de Corais da Austrália sofre o mais grave branqueamento jamais registrado, e 73% dos recifes estudados apresentam danos, informaram nesta quarta-feira (17) as autoridades responsáveis pela gestão do ecossistema.
Considerada o maior organismo vivo da Terra, a Grande Barreira de Corais tem 2.300 quilômetros de extensão e abriga uma enorme biodiversidade, incluindo mais de 600 tipos de coral e 1.625 espécies de peixes.
Mas avaliações aéreas efetuadas pelos cientistas mostram que cerca de 730 dos mais de 1.000 recifes que compõem a Grande Barreira perderam cor, segundo as autoridades do governo australiano.
"Os impactos acumulados experimentados ao longo do recife neste verão foram mais altos do que em verões anteriores", indicou a Autoridade do Parque Marinho em um comunicado, no qual alerta que o verão de 2023-2024 foi o segundo mais quente já registado na região.
Este é o quinto branqueamento em massa dos recifes da Grande Barreira nos últimos oito anos.
O branqueamento ocorre quando o coral, para sobreviver nas altas temperaturas, expele uma alga microscópica chamada zooxanthellae. Caso o calor persista, o coral perde cor e morre.
O cientista-chefe da Autoridade do Parque Marinho, Roger Beeden, afirmou que a mudança climática representa a maior ameaça aos recifes de corais no mundo.
A Grande Barreira de Corais é um ecossistema incrível e, embora tenha mostrado resiliência uma e outra vez, este verão foi particularmente difícil. Roger Beeden, cientista-chefe da Autoridade do Parque Marinho
Richard Leck, diretor da divisão de oceanos da organização ambientalista WWF Austrália, disse à AFP que o branqueamento afetou uma extensão "sem precedentes" do recife, em particular em áreas que anteriormente haviam escapado de outros períodos de branqueamento em massa.
"Este é o pior episódio que o recife do sul já sofreu", disse.
Dúvidas sobre a recuperação
Jornalistas da AFP visitaram este mês uma das áreas mais impactadas da Grande Barreira de Corais.
A ilha do Lagarto, um pequeno paraíso no extremo nordeste da Austrália, que geralmente é repleta de corais, parecia um cemitério.
A bióloga marinha Anne Hoggett, que viveu e trabalhou por 33 anos na ilha do Lagarto, conta que, quando chegou pela primeira vez ao local, o branqueamento dos corais ocorria mais ou menos a cada década.
Agora, ele acontece a cada ano, afirmou, e cerca de 80% dos corais acropora vulneráveis da ilha sofreram com o branqueamento neste verão.
"Ainda não sabemos se já sofreram danos demais para se recuperarem ou não", indicou Hoggett à AFP.
Leck, da WWF, afirmou que é necessário aguardar alguns meses para determinar qual será a "mortalidade dos corais".
A Austrália investiu cerca de 5 bilhões de dólares australianos (pouco mais de R$ 16 bilhões, na cotação atual) para melhorar a qualidade da água e reduzir os efeitos da mudança climática, e para melhorar a proteção das espécies.
O país é um dos maiores exportadores mundiais de gás e carvão, e apenas recentemente estabeleceu metas para alcançar a neutralidade de carbono.
A Unesco vai avaliar este ano se esses esforços são suficientes para que o recife preserve sua condição de Patrimônio Mundial.