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Desmatamento na Amazônia destrói área equivalente à Colômbia em 40 anos

Vista aérea de desmatamento na Amazônia para expansão da pecuária, em Lábrea (AM) Imagem: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas

23/09/2024 20h19

A Amazônia perdeu em menos de quatro décadas uma área de florestas quase tão grande quanto o território colombiano, alerta uma coalizão de cientistas em um relatório ao qual a AFP teve acesso nesta segunda-feira (23).

O desmatamento destruiu 12,5% da cobertura vegetal entre 1985 e 2023, uma devastação que favorece os incêndios que consomem a maior floresta tropical do planeta, indica um estudo da rede de monitoramento RAISG.

Mais de 88 milhões de hectares de florestas foram destruídos no Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, segundo dados de satélite do sistema MapBiomas Amazonas.

A região amazônica está passando por uma "transformação acelerada", com "um aumento alarmante" no uso do solo para mineração (1.063%), agricultura (598%) e pecuária (297%), denunciam os especialistas da RAISG (Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada).

"Muitos ecossistemas desapareceram para dar lugar a enormes extensões de pastagens, terras agrícolas de soja, palma de óleo e outras monoculturas, ou se transformaram em grandes crateras d'água para a extração de ouro", afirma o relatório.

"Com a perda da floresta, estamos emitindo carbono na atmosfera, alterando todo um ecossistema e a regulação climática e do ciclo hidrológico, o que afeta as temperaturas" e acelera o aquecimento global, explica à AFP Sandra Ríos Cáceres, do Instituto do Bem Comum do Peru, que participou do estudo.

E "definitivamente, todos os eventos extremos que estamos vendo agora" estão relacionados a essa perda de cobertura vegetal, assegurou a especialista.

Favorecidos por uma seca severa, incêndios florestais de grandes proporções devastam enormes regiões da América do Sul desde agosto.

O observatório europeu Copernicus, que monitora de perto a situação na América do Sul, classificou nesta segunda-feira os incêndios no Pantanal e na Amazônia como os piores em quase duas décadas.

Devido a esses incêndios, as emissões de carbono nos últimos dois meses estiveram muito acima da média, "inclusive quebrando recordes nacionais e regionais". As chamas também afetam "gravemente" a qualidade do ar em toda a região, destacou o observatório.

"O momento de agir é agora"

Parece um deserto, mas é o rio Madeira, um dos mais importantes do Brasil em nível baixo de água Imagem: MICHAEL DANTAS / AFP

A seca levou alguns afluentes do rio Amazonas, um dos mais longos e caudalosos do mundo, a seus níveis mais baixos em décadas.

A biodiversidade e a sobrevivência dos 47 milhões de pessoas que vivem nas margens desses rios estão em sério risco, alerta a RAISG.

O desmatamento alcançou seu maior pico das últimas duas décadas em 2023, com 3,8 milhões de hectares devastados, quase o dobro do tamanho de El Salvador.

Eventos climáticos "cada vez mais extremos e frequentes", favorecidos pelo desmatamento, "continuam atingindo uma Amazônia já debilitada, tanto em sua capacidade de regeneração quanto em seu papel de regular o clima do planeta", aponta o estudo.

Os governos dos países amazônicos devem "conter o avanço das pressões e ameaças como o desmatamento, a mineração e o narcotráfico", afirmou a secretária executiva da RAISG, Angélica García.

García também pediu "avanços em alternativas econômicas sustentáveis e a promoção da restauração ambiental em escala regional".

Em uma carta aberta dirigida aos presidentes de Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru nesta segunda-feira, a Anistia Internacional afirmou que o recorde de incêndios florestais "requer uma resposta sem precedentes".

"Os olhos do mundo estão sobre a bacia amazônica e outros ecossistemas inestimáveis do continente, à espera de ações contundentes para prevenir sua extinção", disse Ana Piquer, diretora da Anistia Internacional para as Américas.

"As presidências sul-americanas devem, mais do que nunca, tomar medidas urgentes para evitar uma catástrofe climática que poderia ter consequências irreversíveis para toda a humanidade. O momento de agir é agora."

O texto exortou a fazer mais para abandonar os combustíveis fósseis e transformar o modelo de agricultura industrial, assim como proteger os territórios dos povos indígenas e os defensores do meio ambiente.

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