Tratado global contra plásticos enfrenta impasse entre potências
A última rodada de negociações para alcançar um tratado mundial contra a poluição por plásticos começou nesta segunda-feira (25) em Busan, Coreia do Sul, em uma "semana crucial", que acontece após o encerramento caótico da COP29 sobre o clima em Baku (Azerbaijão).
"Esta conferência é muito mais do que a redação de um tratado internacional. É a humanidade que se mobiliza diante de uma ameaça existencial", afirmou na abertura o diplomata equatoriano Luis Vayas Valdivieso, que preside as conversações.
"As decisões que tomaremos nos próximos sete dias marcarão a história", acrescentou, um dia após a COP29 sobre o clima ter sido encerrada com um acordo que decepcionou os países em desenvolvimento.
A poluição por plásticos está tão disseminada que já foi detectada nas nuvens, nas fossas oceânicas mais profundas e em praticamente todas as partes do corpo humano, incluindo o cérebro e o leite materno.
Embora todos reconheçam a existência do problema, as opiniões divergem radicalmente sobre a forma de combater a questão.
As delegações em Busan têm uma semana para alcançar um acordo em tópicos delicados como o limite da produção de plástico, a possível proibição de substâncias químicas tóxicas ou o financiamento de medidas que serão incluídas no tratado.
"Existem verdadeiras divergências em vários assuntos-chave", admitiu no domingo Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
"Estou convencida de que podemos alcançar o tratado, mas será necessário que todos façam a sua parte", acrescentou.
90% dos plásticos nunca são reciclados
Em 2019, o mundo produziu quase 460 milhões de toneladas de plástico, número que dobrou desde 2000, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
Mais de 90% dos produtos com plástico nunca são reciclados e mais de 20 milhões de toneladas acabam na natureza todos os anos.
O plástico também representa 3% das emissões mundiais de carbono, pois é produzido com combustíveis fósseis.
Dois lados travam um embate nas negociações de Busan.
De um lado, a Coalizão de Alta Ambição (HAC, na sigla em inglês), que reúne vários Estados africanos, europeus e asiáticos. Este grupo de países deseja um tratado que cubra todo o "ciclo de vida" dos plásticos, da produção até os resíduos.
O HAC defende metas globais que obriguem uma redução da produção e do resíduos. Também luta para impor mudanças na fabricação dos plásticos, para facilitar sua reutilização ou reciclagem.
No lado contrário, vários países, principalmente grandes produtores de petróleo como Rússia e Arábia Saudita, querem que o tratado aborde apenas a gestão dos resíduos.
As divisões paralisaram as quatro rodadas anteriores de negociações, que resultaram em um projeto de tratado de mais de 70 páginas totalmente inviável, segundo a opinião geral.
Para desbloquear a situação, Valdivieso redigiu um projeto alternativo. O texto enfatiza as áreas de entendimento, como a necessidade de promover os plásticos reutilizáveis.
O diplomata equatoriano conquistou uma primeira vitória nesta segunda-feira ao conseguir que as negociações de Busan tenham como base o seu projeto simplificado.
Rússia, Arábia Saudita e Irã inicialmente expressaram dúvidas sobre esta perspectiva, mas acabaram cedendo.
"Isto demonstra que a maioria concorda. A grande pergunta para o resto da semana é se (os países) avançarão com a ambição necessária, ou se ficarão escondidos atrás dos poucos que boicotam para suavizar sua linguagem e alcançar compromissos frágeis", disse Eirik Lindebjerg, da ONG WWF.
63 horas para um entendimento
Valdivieso declarou antes do início da reunião que "um entendimento comum" estava sendo alcançado e lembrou às delegações que dispõem apenas de apenas 63 horas de trabalho nesta "semana crucial" para chegar a um acordo.
Alguns analitas preveem que as negociações levarão mais tempo, especialmente após as difíceis conferências da ONU sobre clima e a biodiversidade nas últimas semanas.
Andersen e Valdivieso insistem que um pacto dever ser concluído em Busan. A opinião preocupa algumas ONGs, que temem que as delegações acabem assinando um tratado fraco apenas para salvar as aparências.
A posição dos Estados Unidos e da China, que não declararam apoio aberto a nenhum dos lados, será crucial.
O governo dos Estados Unidos insinuou este ano que apoiaria as limitações à produção, mas segundo a imprensa teria mudado de ideia.
O retorno do republicano Donald Trump à Casa Branca também gera dúvidas sobre o nível de ambição da delegação americana. Alguns negociadores questionam por que deveriam buscar o apoio dos Estados Unidos para um tratado que o país talvez nunca ratifique.