'Arroz bovino': solução sustentável ainda engatinha na produção e até no sabor

A produção de carne é, por um lado, considerada insustentável em termos ambientais. Mas muita gente não quer abrir mão do sabor do alimento, importante também no consumo de proteínas. Portanto, a ideia de misturar arroz - uma proteína de origem vegetal - com carne bovina sustentável, cultivada em laboratório, pode ser saudada como uma boa notícia.

É isso que cientistas da Coreia do Sul dizem ter criado e estão chamando de "arroz bovino" (beef rice).

O que é o arroz bovino?

Pesquisadores de Seul pegaram células de carne e de gordura de gado, revestiram-nas com gelatina de peixe e as inseriram em grãos de arroz, onde cresceram.

O revestimento de gelatina ajudou os nutrientes do material animal - músculo bovino e células-tronco de gordura - a crescer e enriquecer o arroz.

O vegetal foi cultivado por cerca de dez dias, permitindo que a proteína e a gordura das células animais se desenvolvessem. E o que apareceu foi um grão branco-rosado.

Mas e o sabor?

"O sabor inicial é predominantemente o do arroz. No entanto, há vários sabores complexos interconectados. Tem um gosto de proteína um tanto farináceo, mas também de nozes, seguido por um sabor ligeiramente cremoso e amanteigado", revela Jinkee Hong, um dos principais autores do estudo na Universidade de Yonsei.

Quão nutritivo é?

Hong diz que o arroz com carne bovina contém 8% mais proteína e 7% mais gordura do que o arroz tradicional, o que o tornaria uma fonte rica de aminoácidos essenciais, que produzem proteínas.

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"Isso demonstra seu potencial como um superalimento futuro e também oferece ideias para o desenvolvimento de novas formas de produtos alimentícios híbridos", afirma Hong.

Alguns especialistas em alimentos, no entanto, questionam o valor nutricional do arroz bovino.

"O produto final contém 4,8 gramas de células bovinas cultivadas por quilo de arroz. Isso significa que 0,5% do produto final é carne cultivada, e 99,5% é arroz. Para substituir a carne, a porcentagem da proteína no produto final precisaria ser maior", argumenta Hannah Tuomisto, professora de sistemas alimentares sustentáveis da Universidade de Helsinque, na Finlândia.

O arroz com carne bovina é apenas um dos vários experimentos para modificar esse grão com o objetivo de obter mais nutrientes para dietas básicas. O arroz dourado, por exemplo, é geneticamente modificado para conter uma forma de vitamina A que se descobriu estar em falta na dieta em regiões da Ásia e da África.

Quão 'verde' é o arroz bovino?

Hong e sua equipe afirmam que o cultivo do arroz híbrido produziria menos gases de efeito estufa do que a produção de carne bovina convencional.

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Segundo os pesquisadores, 100 gramas de produção de proteína de carne bovina liberam cerca de 50 kg de dióxido de carbono (um número comprovado por estudos anteriores), enquanto a produção de 100 gramas de proteína de arroz híbrido liberaria menos de 6,27 kg.

"A carne cultivada é um campo extremamente promissor devido a seus possíveis benefícios para o meio ambiente, a segurança alimentar, a sustentabilidade e a ética animal", defende Hong.

A equipe também não é a primeira a trabalhar em produtos de carne cultivados em laboratório. O primeiro hambúrguer desse tipo foi apresentado em 2013 pelo cientista holandês Mark Post.

Menos de uma década depois, o setor se expandiu para mais de 150 empresas em todo o mundo, a maioria concentrada na produção de alternativas para carnes comuns, como porco, gado e frango.

Por que é tão difícil comprar essa carne?

Hong afirma que a carne cultivada em laboratório ainda é muito cara para a produção em massa, o que significa que tem sido difícil colocá-la nas prateleiras dos supermercados.

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Um dos principais desafios é que ela depende de produtos de origem animal para cultivar as células. No estudo de Hong, os pesquisadores obtiveram seus lotes iniciais de células musculares e de gordura de gado abatido em um matadouro local.

"Todas as carnes produzidas em laboratório dependem de soro bovino, o sangue de um boi, como suplemento de crescimento. É a melhor maneira que temos de cultivar uma quantidade tão grande de células com as quais se pode fazer algo. Mas isso levanta argumentos ecológicos e questões de crueldade com os animais, e é caro", diz Alfredo Franco-Obregon, da Universidade Nacional de Cingapura. Ele também já trabalhou com carne cultivada em laboratório.

Os produtores têm ainda um longo caminho até convencer as pessoas a comer carnes cultivadas em laboratório.

Uma pesquisa realizada no Reino Unido pela Agência de Normas Alimentares (Food Standards Agency) revelou que apenas um terço dos participantes está disposto a experimentar o alimento.

Quase metade relatou que nada poderia incentivá-los a experimentar carne cultivada em laboratório, e mais de um quarto disse que poderia ser persuadido se soubesse que a carne é segura para consumo.

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