Bioma do Ártico passa a emitir mais CO2 do que absorve, diz estudo
A tundra, um dos biomas presentes na região do Ártico, passou a emitir mais dióxido de carbono (CO2) do que sua capacidade de armazenar o gás, segundo relatório publicado pela NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA) na terça-feira (10).
Segundo o Relatório Ártico 2024, os frequentes incêndios florestais na região transformaram drasticamente o bioma, que por milênios atuou como um sumidouro natural de carbono.
Nossas observações agora mostram que a tundra ártica, que está passando por aquecimento e aumento de incêndios florestais, agora está emitindo mais carbono do que armazena, o que agravará os impactos das mudanças climáticas. Rick Spinrad, da NOAA
A tundra é um dos biomas encontrados no extremo norte do planeta e é composta por uma vegetação rasteira e pelo permafrost - uma camada de gelo, rocha e sedimentos.
As emissões provenientes das queimadas no Ártico atingiram uma média anual de 207 milhões de toneladas de carbono desde 2003, o que pressiona a capacidade do bioma de armazenar o gás no solo, nas plantas e no permafrost. A região de floresta boreal, localizada mais ao sul do Ártico, também tem registrado índices recordes de queimadas.
Ao mesmo tempo, os ecossistemas terrestres da região permaneceram uma fonte consistente de metano.
O estudo também revelou que a temperatura anual da superfície do ar no Ártico neste ano foi a segunda mais alta registrada desde 1900. Este é o nono ano seguido em que a temperatura média da região aumenta.
Como o Ártico virou emissor de CO2
O aquecimento global tem efeitos duplos no Ártico. Enquanto estimula a produtividade e o crescimento das plantas, que removem o dióxido de carbono da atmosfera, também leva ao aumento das temperaturas do ar na superfície, o que faz com que o permafrost descongele.
Quando o permafrost descongela, o carbono preso no solo é decomposto por micróbios e liberado na atmosfera como dióxido de carbono e metano, dois potentes gases de efeito estufa.
Além disso, as mudanças climáticas intensificam os incêndios florestais na região, cada vez mais frequentes. O fogo não apenas queima a vegetação e a matéria orgânica, liberando carbono na atmosfera, mas também remove camadas isolantes do solo, acelerando o degelo do permafrost e liberando o carbono armazenado.
"A regeneração da vegetação após incêndios florestais geralmente sequestra novamente o CO2 da atmosfera por décadas após o incêndio, mas queimadas mais frequentes e severas, a combustão de carbono abaixo do solo e impactos de longo prazo do fogo no degelo do solo estão resultando em emissões líquidas de carbono para a atmosfera em grandes escalas", diz o texto.
Impacto pode ser irreversível
A catástrofe climática que estamos vendo no Ártico já está trazendo consequências para as comunidades ao redor do mundo. O presságio de uma fonte líquida de carbono sendo liberada mais cedo ou mais tarde não é nada bom. Uma vez atingidos, muitos desses limites de impactos adversos nos ecossistemas não podem ser revertidos. Brenda Ekwurzel, cientista climática da chamada União de Cientistas Preocupados
O relatório também indicou que setembro de 2024 registrou a sexta menor extensão de gelo no oceano em 45 anos de análise.