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'Preocupante': como temporada de furacões de até 250 km/h pode afetar o clima

O furacão Idalia, nos EUA, em 2023 Imagem: NOAA/via REUTERS

10/06/2024 04h00Atualizada em 10/06/2024 16h59

Se, por um lado, eles são fenômenos climáticos naturais do planeta, por outro, o aumento da temperatura global, inclusive dos oceanos, tem levado a sua intensidade a também ser maior.

A agência nunca havia previsto um número tão alto em suas projeções de maio: poderão ocorrer de quatro a sete furacões de categoria 3 ou mais, o que significa ter ventos superiores a 178 km/h, podendo chegar a 250 km/h.

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Cientistas norte-americanos chegam a defender que a escala Saffir-Simpson, que mede a força destes eventos e atualmente termina em 5, ficou obsoleta e deveria ser expandida para 6. O tema reúne alguns dos maiores especialistas do mundo em um colóquio na França, promovido pela Universidade Paris-Saclay no mês de junho.

"Até poucos anos atrás, não havia uma resposta para essa pergunta: a queima de combustíveis fósseis está fazendo os ciclones serem mais intensos ou frequentes? Essa era uma pergunta em aberto até pouco tempo, mas agora nós começamos a chegar a algumas respostas", aponta Davide Faranda, diretor de pesquisas em climatologia do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas), da França.

"Os primeiros estudos sobre ciclones tropicais começaram a sair e já sabemos que, pelo menos para estes ciclones, as mudanças climáticas - ou seja, a queima de combustíveis fósseis feita por nós, seres humanos - estão, sim, modificando pelo menos a intensidade de alguns ciclones tropicais", afirma.

La Niña combinada com aquecimento do Atlântico

A chegada do fenômeno La Niña ajuda a explicar a temporada violenta de ciclones e furacões que está por vir, e que atinge principalmente o Caribe, a América Central e a América do Norte. La Niña resfria as águas do Pacífico e influencia o clima global. Uma das suas consequências no Atlântico é a diminuição da dispersão dos ventos nas regiões onde costumam se formar e avançar os furacões.

Isso vai ocorrer num contexto em que as temperaturas do Atlântico Norte estão anormalmente altas. A associação dessas condições favorece ainda mais a formação dos fenômenos extremos, que podem avançar para a terra firme, com efeitos devastadores.

A brasileira Suzana Camargo, pesquisadora de ciências do clima e especialista em fenômenos extremos da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, ressalta que os especialistas estudam o impacto no clima das conexões entre o norte e o sul do oceano Atlântico - um equilíbrio que também é afetado pelo aquecimento do planeta.

"Todos esses efeitos podem, às vezes, combinar e levar a extremos climáticos não apenas no Brasil, como no Caribe e na África", aponta.

A pesquisadora compara a situação ao lançamento de um dado. "Você tem um sexto de probabilidade de cair em cada lado. Mas se o seu dado estiver um pouco deformado, não vai ser mais um sexto para cada lado. As probabilidades terão mudado", explica. "É assim que eu gosto de pensar no aquecimento global: você está mudando as probabilidades do seu dado."

Impacto na América Latina

No Brasil, La Niña poderá provocar seca no Sul e Sudeste e aumentar as chuvas no Norte e Nordeste. O professor emérito de ciências da atmosfera do MIT (Massachusetts Institute of Technology) Kerry Emanuel assinala que, por enquanto, a ocorrência de ciclones e furacões na parte sul das Américas deve permanecer rara. Mas isso não significa que a região esteja ao abrigo de outros fenômenos extremos, a exemplo das recentes enchentes no Rio Grande do Sul.

"Não vejo razão para este tipo de evento climático extremo mudar muito, porque tem uma parte do mundo que não é favorável à ocorrência de ciclones tropicais. Mas tem outros eventos extremos que afetam a América do Sul, em especial inundações", destaca.

"A região dos Pampas, na Argentina, tem um problema de tempestades severas convectivas, e este é um fenômeno que não tem merecido a atenção que deveria dos cientistas do clima, assim como da imprensa, exceto quando acontecem e são terríveis. O granizo causa inúmeras perdas todos os anos e estamos apenas começando a entender como essas tempestades estão respondendo às mudanças do clima", salienta Emanuel.

Suzana Camargo complementa: "Não vai ter impactos diretos dos furacões e ciclones no Atlântico Norte, mas a gente sempre pode pensar em termos dos extremos climáticos que estão acontecendo no mundo todo. Não é só em relação a furacões, mas todos outros tipos de eventos extremos", afirma. "O Brasil está presenciando isso, mas também tem uma onda de calor imensa na Índia. Estamos vendo todos os dias que eles estão ocorrendo no mundo inteiro. A situação está muito preocupante."

A temporada de furacões e ciclones no Atlântico vai de junho a novembro. Já o fenômeno La Niña costuma perdurar de um a três anos.

Nesta segunda-feira (3), pesquisadores do WWA (World Weather Attribution) revelaram um estudo mostrando que as mudanças climáticas dobraram a chance de chuvas extremas no Rio Grande do Sul, além de aumentarem até 9% a sua intensidade. Quando associadas ao fenômeno El Niño, que acaba de concluir um ciclo, essa chance pode ser multiplicada por até cinco, alertou a pesquisa, realizada por cientistas internacionais, inclusive do Brasil.

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