Altair de Souza, 52, é agricultor há quase 40 anos. Mas, desde então, muita coisa já mudou em seu ofício. A começar pelo título. Até meados da década de 1990, ele era Altair, o boia-fria. Todos os dias, despertava às 3h e vestia o uniforme para se proteger contra o sol escaldante do cerrado sul mato-grossense: camisas de manga longa já puídas, boné, chapéu. Ao sair, levava consigo um pacotinho com o que sua companheira, Rosana Sampaio, a "Preta", 48, tinha preparado para o almoço do marido. A refeição, no entanto, só aconteceria bem mais tarde e fria, no canavial de uma usina de açúcar em Rio Brilhante (MS), onde trabalhava.
Altair também trabalhava de uma forma bem diferente da de hoje. O manejo da terra em que ele cultivava dependia de desmatamento. E, para desmatar, Altair promovia queimadas.
Hoje ele não desmata mais. Pelo contrário. De trabalhador rural boia-fria, Altair se tornou agricultor familiar sustentável e diretor do Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec), que agrega 45 famílias coletoras. Entre elas, está a sua, agora composta também pelos três filhos que teve com Preta. O grupo pratica o que é chamado de "extrativismo vegetal sustentável". Ou seja, em vez de desmatar áreas nativas para o cultivo, preserva espécies e tira delas os frutos que são vendidos diretamente aos consumidores: baru, bocaiúva e jatobá. Além disso, Altair não precisa mais sair de casa para trabalhar. Cultiva sua própria terra, onde há também plantações de mandioca, banana e laranja.