No quintal de casa, o pequeno Rodney William pegava as penas dos patos e procurava continhas de preto velho para elaborar cocares e colares. Devidamente trajado, poderia receber seus caboclos e benzer a perna dolorida da avó diabética. "Como toda criança que vai para o terreiro, minha brincadeira preferida era brincar de terreiro", lembra. O estímulo da família umbandista se somou à curiosidade como leitor adolescente que, após devorar um fascículo sobre o folclore brasileiro na biblioteca do Memorial da América Latina, descobriu o candomblé para não largar mais. Aos 48 anos de idade, Rodney tem 30 de iniciado e cerca de 15 como babalorixá.
Conhecendo bem a dor do luto provocada pela covid-19, já que perdeu quatro familiares para a doença, Pai Rodney compartilha seu saber ancestral para fortalecer centenas de pessoas por meio das redes sociais. Com ebós [oferendas dedicadas a um orixá], jogos de búzios e palestras online, leva axé e desmistifica os orixás para longe do senso comum. "Comecei a traduzir os saberes do terreiro para uma linguagem da antropologia, porém inteligível a qualquer pessoa. Entendi que me servia para ter uma vida mais feliz, mais próspera".
Nesta entrevista a Ecoa, o paulistano da Casa Verde, bairro negro de São Paulo, explica como a bossa nova é um exemplo do processo de apropriação cultural, conceito que dá nome ao livro de sua autoria e que integra a coleção Feminismos Plurais, idealizada pela filósofa Djamila Ribeiro. "Tom Jobim afirmou que o samba negro do Brasil era muito primitivo e que poderíamos chamar a bossa nova de um samba limpo, lavado. Sabemos o que esses termos significam. Lavar é tirar cor!". Rodney também dá um panorama de como o racismo religioso se intensificou nas últimas três décadas e convoca a sociedade a agir em defesa do direito de ser humano.