Edel realizou o sonho de ser a primeira da família a entrar na universidade, onde cursou pedagogia. O acesso à educação foi a virada de chave em sua vida. Para mudar a realidade dos altos índices de analfabetismo do seu município, Edel coordenou de forma voluntária um projeto com mais de 40 turmas de alfabetização de jovens e adultos. Com base nesse projeto, foi criado o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos "Mova Pará Alfabetizado", programa do governo do estado do Pará.
Sob assessoria pedagógica de Edel, o Mova Pará Alfabetizado atingiu todo o Arquipélago do Marajó, região em que 22% da população a partir de 15 anos é analfabeta, enquanto a taxa do Brasil é de 9,6%, segundo o último Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Eu posso não ganhar dinheiro com a maioria dos trabalhos que faço, mas o meu pagamento são as conquistas", diz a defensora, emocionada.
Dos 16 municípios que formam o Arquipélago do Marajó, 14 têm IDHs baixos ou muito baixos, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil. As comunidades sofrem com saneamento básico precário e tratamento de água ineficaz, motivo de doenças na região. Na comunidade de Edel, a energia elétrica chegou faz cerca de dois anos, devido à pressão popular que conseguiu descer a conexão dos linhões da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que passavam por cima das casas, mas não chegavam nelas.
Em meio a tantas dificuldades, o Marajó possui uma forte história de organização e mobilização social. O CNS é o principal reflexo disso. Fundado em 1985 por um grupo de seringueiros — entre eles Chico Mendes, importante ambientalista brasileiro —, o conselho atuou contra a devastação da floresta e a expulsão das populações extrativistas de suas terras na Amazônia. O resultado foi o reconhecimento das Reservas Extrativistas (Resex), em 1990, como territórios, em todo o Brasil, que protegem as formas de vida e a cultura das populações extrativistas.
Além da sua atuação na educação, ela sempre acompanhou os debates de regularização fundiária. Foi relatora da audiência pública para a criação da Resex Terra Grande - Pracuúba, em Curralinho (PA), uma conquista frente a empresas que ameaçavam expulsar os moradores do território.
Por seu envolvimento no movimento extrativista, Edel foi a primeira mulher vice-presidente do CNS em mais de três décadas de história. Quando ela visitou a casa de Chico Mendes, em Xapuri (AC), sentiu a energia que confirmou que ela fazia parte do legado do seringueiro. "Eu falei para ele: 'companheiro, se você estiver em outro plano, pode seguir tranquilo, você continua muito vivo aqui. Eu vou continuar sendo instrumento da sua voz e luta, que também é a de muitos' ", conta.