Na zona sul da cidade mais rica do país, a orientação não vem da manchete do jornal, mas de um carro de som que passeia pelas ruas de Heliópolis espalhando dicas de prevenção. São duas vinhetas elaboradas por moradores: uma geral e outra voltada para os mais jovens. "Não vá para a festa", "não use o mesmo copo ou o mesmo bico do narguilé" e "fique em casa para não prejudicar a vida de seus avós" são algumas das recomendações.
Onde a urbanização não chegou como deveria, o senso comunitário é a chave mais potente. São cartazes, dicas de prevenção via WhatsApp, arrecadações de cestas básicas, orações para quem está aflito, gabinetes de crise, cozinhas coletivas, presidentes de ruas.
Em dez grandes bairros favelizados brasileiros, soluções para enfrentar a pandemia do coronavírus são criadas, diante da ausência de ações governamentais efetivas e de um diálogo difícil com quem olha de fora. Tão fundamental quanto ficar em casa é ter alternativas que possibilitem a quarentena. O efeito mais visível por enquanto é a falta de dinheiro, mas boa parte dos moradores parece consciente do drama de saúde pública que se aproxima: segundo uma pesquisa divulgada nesta semana, 96% creem na eficácia do isolamento.
Ecoa conversou com lideranças do G10 das Favelas, grupo que inclui comunidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, São Luís, Belém, Belo Horizonte, Recife e Manaus. Elas contam quais ações locais têm feito a diferença e o que reivindicam do Estado com urgência, a fim de conter a proliferação da doença.