As especulações sobre o mundo após a pandemia incluem cenários muito distintos: será um mundo mais globalizado, mais nacionalista ou mais comunitário? Mesmo sem conseguir cravar agora uma dessas opções, algumas tendências aceleraram muito e outras surgiram em 2020 como efeito do "novo normal".
Sai reforçada a economia digital e, como consequência, vê-se a desmaterialização do comércio. Por outro lado, mostrou-se imprudente a dependência de linhas de produção em países distantes. As soluções locais e hiperconectadas se viram em destaque. As redes públicas de proteção social e as decisões coordenadas baseadas em dados e na ciência mostraram sua importância. E as políticas ambientais voltaram com força para a agenda com a amostra de catástrofe global que a Covid-19 apresentou.
Tanto é assim que em vários pontos do planeta os governos já planejam uma guinada verde para sair da estagnação — até o FMI tem apontado este como caminho para vencer futuras crises. É o caso da Coreia do Sul, que teve eleições em meio à pandemia. Outro exemplo vem da Nova Zelândia, um dos governos mais eficientes no combate ao vírus, que vai apostar em empregos verdes. Já Amsterdã, capital da Holanda, adotou uma teoria econômica criada na Universidade de Oxford que usa como figura didática um donut para mostrar que cada decisão pública tem impacto sobre as esferas humana, social e ecológica.
E quem está em xeque novamente é o PIB. O Produto Interno Bruto foi alçado em 1944 à condição de melhor ferramenta para medir a economia de um país. Sua simplicidade, ao somar a produção de bens e serviços e comparar esse número com o do ano anterior, fortaleceu o PIB como padrão global. Porém, com o passar do tempo e surgimento de novos desafios, acabou ficando simplista. Em 2020, o septuagenário índice, que já devia estar aposentado, vai ser negativo em todo o mundo — talvez ainda mais negativo para os governos que o priorizaram em detrimento da saúde de sua população.
A busca desenfreada pelo crescimento contínuo tem sido apontada como uma das razões para a devastação de ecossistemas e para o aquecimento global, que pode gerar crises planetárias maiores que a atual. O mundo busca agora novos indicadores para se guiar. Vale acrescentar dados sociais, políticos, ambientais e até pesquisa de opinião para saber se as populações estão contentes com suas nações, afinal, a busca da felicidade deve ser o item mais bem distribuído do mundo.