Talvez só a pandemia e, por sua vez, o tempo de reclusão obrigatório pudessem parar um gigante. Afinal de contas, bloquear o flow frenético de MV Bill, 48, não é coisas para os fracos.
Com a impossibilidade de cantar ou dizer suas rimas para o grande público, o rapper, ator, escritor e ativista aproveitou o tempo disponível para fazer um movimento contrário: se ouvir. Tendo espaço merecido para traficar informações sobre sua trajetória, numa perspectiva que mais imitava um jogo de espelhos, Bill as abriu para que Alex Pereira Barbosa, seu nome de batismo e pessoa física, pudesse relembrar algumas das passagens que o fizeram chegar onde está, sendo um dos artistas mais longevos da cena hip-hop.
Desse reencontro, nasceu "A Vida Me Ensinou a Caminhar", autobiografia lançada pela Editora AGE, em que narra seu início na comunidade da Cidade de Deus, a CDD onde cresceu, passando pelo primeiro grupo no rap, o Geração Futuro, até o sucesso e os encontros com personalidades como Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Comecei a pensar em dividir histórias que nunca tinha contado antes, e talvez nem tivesse coragem de dividi-las, mas o momento pandêmico, a idade, minha posição dentro do cenário do hip-hop e da própria cena, me fizeram contar", pontua.
Com os olhos de quem viu não só a favela mudar, mas, também, o país, o ativista que se aproxima dos 50 anos acredita que a troca com a juventude é um dos eixos de esperança para o Brasil.
"A juventude traz uma esperança, o ar de coisa nova", diz na entrevista a Ecoa. Estabelecendo ligações com o presente, Bill visita o passado e nos convida a pensar um futuro possível pra geral.