"Acho que 90% das entrevistas me perguntam: por que você voltou para o Brasil? E eu me questionei muito, 'caraca, será que fiz o certo?' Afinal, eu estava na cozinha do Le Jules Verne, no alto da Torre Eiffel, com o Alain Ducasse, um dos melhores chefs do mundo. Vim de morro, tiroteio e desigualdade, para no outro dia estar no Jardim Luxemburgo e com a oportunidade de continuar a me desenvolver [como chef].
Mas a briga é maior, não é só sobre o João Diamante. Desde criança meu sonho era ter um projeto social, só não sabia qual a ferramenta usaria. Minha vida foi baseada neles: fiz balé, teatro, capoeira, diversas atividades que aprimoraram minha capacidade cognitiva para entender que havia um horizonte. Arte, cultura e educação são a base para construir um cidadão e, em todos os projetos sociais, independentemente da ferramenta utilizada para transformação de uma pessoa, o objetivo é causar uma evolução humanitária.
Viver por meses na Europa me deu a certeza de que precisava passar esses conhecimentos para frente, e as ideias foram surgindo. Deixei a técnica de cozinha de lado e escrevi minhas percepções sobre socialismo, políticas públicas e também metodologia de ensino. Faltando três meses para finalizar o estágio, estruturei uma proposta e enviei para o projeto de que participei quando eu tinha 14 anos. Eles aprovaram.
Talvez minha história desperte interesse pela superação de obstáculos, mas enfrentar a realidade é a vida da maioria dos brasileiros que lutam diariamente. Se eu cheguei onde cheguei é porque tive oportunidade, e isso não deveria ser exceção, tinha que ser regra para que as chances fossem iguais para a população"