Tem uma célebre frase do Betinho [o sociólogo Herbert de Souza] que diz que a pobreza é muito barata. O que era incompreensível nos anos 1990, e particularmente nesse momento de pandemia ainda é um pouco, é que a renda necessária para tirar a pessoa da pobreza é mínima se comparada com a renda do Brasil. Uma transferência de 0.5%, 1% do PIB tem impacto gigantesco na pobreza. Porque o país é relativamente rico e muito desigual.
O Bolsa Família é uma pequena ajuda para a dificílima tarefa que é uma família extremamente pobre se inserir na sociedade. Por dez, quinze anos, o programa chegou em quem mais precisa e foi expandindo lentamente. Acho que o problema do Auxílio Emergencial é que a gente entrou de maneira generosa, corretamente, mas saiu desconhecendo as pessoas que mais precisam, porque optou por não dialogar com o pobre.
A gente já fez cálculos de que se você deixar a pandemia rolar, a expectativa é a de que vão morrer 1 milhão de pessoas. A pandemia nos colocou a necessidade de resolver o conflito entre ir e vir e o direito à vida. Só que o custo da vida, que você pode precificar, é muito, muito maior do que o prejuízo de dar uma parada. Um milhão de vidas valem mais do que estamos perdendo economicamente.