Como é sua alimentação hoje em dia?
Eu sigo meu próprio conselho, acredite se quiser. [risos] Estou comendo menos carne do que jamais comi, como apenas peixe e só uma vez por semana. Tenho comido principalmente vegetais e acho isso muito satisfatório, mas é fato que exige mais trabalho.
É muito fácil comer carne se você pode pagar, é só pegar um pedaço de bife ou frango e colocá-lo na grelha, e fica delicioso sem precisar de muito trabalho. Já numa refeição vegetariana, é preciso picar muitas verduras e isso consome tempo. Então eu entendo o apelo, mas tenho tentado reduzir minha pegada de carbono comendo o mínimo de carne possível.
Nas nossas sociedades capitalistas, tratamos frequentemente a comida como uma extravagância. O que é a comida?
Muitas coisas. No nível mais básico, é o que precisamos para permanecer vivos. Mas, para os humanos, que fazem refeições -- uma instituição muito interessante que criamos, as refeições com outras pessoas --, trata-se também de comunhão. Essa é uma parte muito importante. Na mesa acontecem coisas que não acontecem em nenhum outro espaço de nossas vidas, em termos de conexão com as pessoas e de aprendizado. Nossos filhos aprendem muitas coisas na mesa de jantar, coisas que não aprenderiam se todos comessem seus alimentos processados na frente da televisão ou do computador.
Também é uma comunhão com a natureza. A maioria de nós está tão longe dos fazendeiros que acho que esquecemos que comer nos conecta ao mundo natural. Comemos outras espécies, elas nos sustentam e dependemos delas. Deveríamos ser lembrados disso toda vez que sentamos para comer. É por isso que as pessoas costumavam dar graças no início das refeições. É um ato muito profundo, quase espiritual, quando encarado com reflexão e atenção plena.
E é ainda cultura. Comemos certos tipos de comida aqui, vocês comem certos tipos de coisas no Brasil. Tem coisas com que nos identificamos e que, quando as comemos, nos fazem sentir mais americanos ou mais brasileiros. E, claro, a comida é um negócio, é o maior negócio do mundo. Portanto, comida é muita coisa, e por isso foi fascinante para mim escrever sobre isso por tantos anos. É um assunto verdadeiramente interdisciplinar, é preciso usar várias lentes diferentes para realmente enxergá-lo.