Comida para todo mundo

Conheça pessoas e iniciativas que têm criado soluções, instigado reflexões e liderado a luta por alimentação

De Ecoa

A alimentação é um direito previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e também na Constituição Federal brasileira. Isso significa o Estado tem a obrigação de garantir que a população tenha acesso a alimentos saudáveis e nutritivos em todas as suas refeições.

A garantia de segurança alimentar é um problema histórico no Brasil, que ganhou contornos ainda mais urgentes com a pandemia de covid-19 e a atual crise política e econômica. Segundo estudo do Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça publicado em abril, são mais de 125 milhões de brasileiros sem garantia de comida no prato hoje, no país que deve voltar ao Mapa da Fome após deixar o ranking em 2014.

Mais do que nunca, precisamos falar sobre alimentação e combate à fome, investigar maneiras sustentáveis de produção, olhar para quem garante produtos in natura a preços acessíveis e, claro, cobrar políticas públicas efetivas.

Para ajudar a traçar caminhos possíveis para o futuro, Ecoa conversou com dezenas de pessoas com vivências distintas, complementares sobre o tema. Para um país de dimensões continentais e com tanta desigualdade, são necessárias ações simultâneas e em diferentes esferas. Cada organização, empresa, coletivo e indivíduo pode e deve fazer a sua parte.

Nas próximas três semanas, essa imersão da equipe de Ecoa e de seus colaboradores ganha vida em reportagens especiais, entrevistas exclusivas, perfis e colunas para mostrar quem tem criado soluções, instigado reflexões e liderado possibilidades de transformação a partir de diferentes regiões, vivências e realidades.

Acompanhe abaixo as reportagens em destaque sobre o tema. O índice será atualizado à medida que novos conteúdos forem publicados.

Contra-ataque à fome

Brasil sabe combater a fome, mas seremos um dos países mais famintos de novo. Como virar o jogo?

Na infância, dona Maria Gonçalves, 60, comia abacaxi, mamão e frutas trazidas pelos pais seringueiros. Na mesa havia peixes dos extensos rios da Amazônia, tinha tatu, macaco, galinha, beiju, macaxeira. Hoje custa caro comer e nada do mercado se parece com o que vinha da natureza.

"A gente tinha muitas coisas boas, mas na cidade é tudo comprado e não vai ter todo dia mamão na mesa", diz. "Meu pai sempre me dizia: você vive em um mundo de paz, não jogue nada fora nunca pois o mundo da tristeza vai chegar'. Eu acredito que esse mundo chegou".

A fome nunca passou para milhares de brasileiros, mas nos últimos cinco anos a situação está cada vez pior. Mais brasileiros não têm o que comer ou precisam racionar comida, diminuir o número de refeições ou comprar alimentos mais baratos e menos saudáveis - situação agravada com a crise provocada pela pandemia.

É o caso de Maria (...)

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Quanto custa a sua comida?

Mais baratos e frequentes na mesa dos brasileiros, ultraprocessados precisam ser repensados na alimentação

Nos últimos tempos, Janny Lima da Silva, 43, só tem conseguido comprar o "básico do básico" — como ela define — para alimentar a família: arroz, feijão e alguma mistura.

"Antes dessa covid aparecer, minha família se alimentava melhor. A gente ainda podia comprar uma carne, uma fruta, uma verdura. Mas depois dessa doença, todo mundo desempregado, vive de bico quando aparece. Quando a gente pega num dinheirinho, corre pra comprar um arroz, um feijão, um óleo, um frango, um ovo, uma salsicha. O que o dinheiro der a gente compra", disse a Ecoa.

Moradora da Cidade Tiradentes, no extremo leste de São Paulo, ela vive em um barraco com mais sete familiares (...).

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Entrevistas

  • Um homem do campo

    Ator e fazendeiro, Marcos Palmeira fala sobre sua plantação de orgânicos e a importância da novela Pantanal

    Imagem: Arquivo Pessoal
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  • "Votamos com o garfo"

    Best-seller a favor da "comida que sua avó reconheceria", Michael Pollan acredita no poder de nossas escolhas

    Imagem: Jens Kalaene/picture alliance via Getty Images
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  • Para a fome não voltar

    Ex-ministra Tereza Campello fala sobre caminhos para vencer a insegurança alimentar no Brasil

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Arca de Noé

Bancos de sementes guardam o futuro das histórias e da alimentação de famílias agricultoras no semiárido

Maria José, 44, dá logo a dica: um bom lugar para guardar as sementes é dentro de garrafa PET. Fica certinho lá dentro, tudo bem preservado. Mas só pode abrir o recipiente quando for plantar, antes disso não dá. Agricultora há trinta anos em Mogeiro (PB), ela guarda sua coleção em um quartinho dentro de casa, mas desde 2015 também tem reservado variedades de milho e feijão em um banco comunitário de sementes.

"A gente deposita nossas sementes lá, aí quando é período de plantação, voltamos ao banco para pegar as sementes. Mas não tem só material pra gente comer não, guardamos também as que vão servir para alimentar o gado, as ovelhas", conta Maria.

Imagine uma instituição financeira onde você deposita seu dinheiro. Um banco de sementes funciona praticamente da mesma maneira (...)

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Ensina-me a comer

Além de imprescindível para o combate à covid, o SUS tem papel fundamental para ajudar o país a comer melhor

"Minha alimentação era normal", afirma a dona de casa Marina de Jesus, 55, que há cinco anos enfrenta duas doenças crônicas: diabetes e pressão alta. Bacon, por exemplo, nunca faltava no cardápio, diz ela.

De resto, linguiça, muitas frituras, tudo bem carregado de gordura. "Igual a todo mundo", justifica a mulher, atualmente em tratamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Apesar da demora no atendimento, Marina não reclama da UBS (Unidade Básica de Saúde) onde foi procurar ajuda (...)

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Causadores

  • Regina Tchelly

    "Eu tinha muita convivência com a minha avó. Ela plantava arroz, fava, feijão, café, tinha horta. Eu vivia essa vida, graças a Deus, de ter contato diretamente com os alimentos. Com 15 anos eu saí de casa e tive que aprender a cozinhar. Quando eu fiz o meu primeiro feijão, que ficou delicioso, meu primeiro arroz, minha primeira farofa, eu me acabei, fiquei doida pelo mundo da cozinha (...)"

    Imagem: Marcio Amaro/UOL
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  • Ricardo Paes de Barros

    "Tem uma célebre frase do Betinho [o sociólogo Herbert de Souza] que diz que a pobreza é muito barata. O que era incompreensível nos anos 1990, e particularmente nesse momento de pandemia ainda é um pouco, é que a renda necessária para tirar a pessoa da pobreza é mínima se comparada com a renda do Brasil. Uma transferência de 0.5%, 1% do PIB tem impacto gigantesco na pobreza. Porque o país é relativamente rico e muito desigual (...)"

    Imagem: Sérgio Lima/Folhapress
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  • João Diamante

    "Acho que 90% das entrevistas me perguntam: porque você voltou para o Brasil? E eu me questionei muito, 'caraca, será que fiz o certo?' Afinal, eu estava na cozinha do Le Jules Verne, no alto da Torre Eiffel, com o Alain Ducasse, um dos melhores chefs do mundo. Vim de morro, tiroteio e desigualdade, para no outro dia estar no Jardim Luxemburgo (...)"

    Imagem: Lucas Seixas/UOL
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Arroz, feijão e farinha

Apesar da origem em disputa, esta combinação nutritiva se transformou no prato tradicional do Brasil

"Dize-me o que comes e te direi quem és". A frase, que está no livro "A fisiologia do gosto", do cozinheiro e advogado francês Brillat-Savarin, nos convida a pensar na comida como identidade. Nós, brasileiros, podemos nos debruçar diante de centenas de frutas, legumes, cereais e verduras para tentar descobrir, de fato, o que é que nos define.

"É desafiador conceituar a cozinha brasileira. Cada um de nós seria capaz de citar um prato, um preparo, uma bebida que represente essa cozinha", explica Fabiana Paixão Viana, antropóloga e professora da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

Esse desafio se dá porque o Brasil é um país de tamanho continental e que teve um processo de colonização diferente em cada região (...)

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A saga do milho

Após perder milho tradicional, povo krahô conseguiu recuperar plantio e alegria da aldeia com visita a banco

Toda a agricultura, como contam os mais velhos do povo krahô, foi um presente dado por uma estrela que um dia caiu do céu para virar mulher de carne e osso aqui na Terra. Foi ela quem apresentou alimentos como milho, batata-doce e mandioca a esse povo que antes só comia pau e pedra. Por causa disso, os krahô acreditam que tudo que plantam e comem não só enche a barriga, como também alimenta o espírito de todos da Terra Indígena de Kraôlandia, localizada nos municípios de Goiatins e Itacajá (...)

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Opinião de colunistas

  • Noah Scheffel

    Quando bater a vontade de ir a um restaurante, doe comida para quem não tem

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  • Bianca Santana

    Acesso à terra é fundamental para garantir alimentação

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  • Mara Gama

    São Paulo deveria usar hortas e compostagem contra insegurança alimentar

    Imagem: UOL
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  • Fred Di Giacomo

    Cora Coralina: quando a melhor doceira do país elegeu-se intelectual do ano

    Imagem: UOL
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  • MM Izidoro

    Aquele frango do mercado é parente da Galinha Pintadinha

    Imagem: Arte UOL
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  • Marina Mathey

    Juntando a fome com a vontade de comer

    Imagem: UOL
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Comida, um refúgio

Para quem escapou do país natal em busca de uma vida melhor, alimentação oferece afeto, laços e lembranças

Quando convidaram Jair Abril Rojas para participar de um livro de receitas no final de 2020, o chef colombiano passava por um momento difícil com seu pai internado no hospital, a 7 mil km de distância. Rapidamente, escolheu o prato para a publicação, mas não porque estava com pressa. "Sobrebarriga a la criolla", uma fraldinha cozida com batata, mandioca e milho verde.

"Quando veio o convite, logo me veio a lembrança dessa receita. Meu pai a fazia nos finais de semana, quando a família toda se reunia. Quis homenageá-lo", lembrou Rojas, que há nove anos mora em São Paulo (...)

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Quando a favela come bem

Iniciativas nas periferias democratizam o acesso a uma alimentação orgânica e saudável aos mais pobres

Engana-se quem pensa que orgânicos são coisa de rico, frescura de quem não tem a fome como vizinha. "A gente acredita que é preciso pensar soluções de dentro pra fora e não apenas esperar soluções de fora pra dentro do nosso território",

A fala de Joyce Izauri apresenta a Quebrada Orgânica para o mundo. O projeto nasceu na região do Piraporinha, zona sul de São Paulo, e atua com práticas ambientais e de agricultura urbana. Não é um caso isolado nas quebradas do Brasil (...)

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Fotos: Alessandra Levtchenko, Tratamento de imagem: Sandro Iung, Direção de Arte: Gisele Pungan, Produção: Mitsu Shimosakai, Produtos orgânicos: @domatopracasa Fotos: Alessandra Levtchenko, Tratamento de imagem: Sandro Iung, Direção de Arte: Gisele Pungan, Produção: Mitsu Shimosakai, Produtos orgânicos: @domatopracasa

Arroz orgânico é tudo de bom

Como a plantação de arroz orgânico do Rio Grande do Sul tem ajudado agricultores e o meio ambiente

No município de Charqueadas, a cerca de 50 minutos de carro de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, vive Marinês da Luz Bierhals. A agricultora sustenta os três filhos — e o orgulho — com a plantação de arroz. Não qualquer arroz, mas arroz orgânico.

"É um orgulho porque é tudo de bom pra saúde, e a gente fica muito feliz em poder ajudar as pessoas e o meio ambiente porque onde a gente planta tem a reserva florestal também"(...)

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A hora das plantas

Consumidores em busca de sustentabilidade e bem-estar animal aceleram revolução na indústria alimentícia

No século passado, imaginar que carne à base de plantas ou feita em laboratório — com sabor e textura muito próximos à animal — faria parte da dieta de uma parte significativa da população era pura ficção científica. Hoje, essas inovações são uma realidade cada vez mais disseminada, e seu consumo vai além do público vegetariano e vegano.

As alternativas vegetais a carnes, leite e derivados vêm ganhando espaço (...)

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Cinza que te quero verde

Mesmo com o adensamento urbano, produção de alimentos nas grandes cidades brasileiras é possível

Quando uma família tem acesso a um lote de terra, independentemente de ter no campo seu trabalho, pode ganhar com ele a garantia de alimento na mesa todos os dias. Num cenário de pandemia em que quase 60% da população brasileira, ou 125,6 milhões de pessoas, tem vivido em insegurança alimentar, ou seja, não comem em quantidade e qualidade ideais, a discussão sobre saídas para combater a fome se faz ainda mais urgente.

Mas como avançar em uma realidade de grandes cidades cada vez mais adensadas, verticais e com déficits de moradia ou habitações precárias? É possível pensar na produção de alimentos dentro delas para fazer frente à demanda? (...)

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