Toda a agricultura, como contam os mais velhos do povo krahô, foi um presente dado por uma estrela que um dia caiu do céu para virar mulher de carne e osso aqui na Terra. Foi ela quem apresentou alimentos como milho, batata-doce e mandioca a esse povo que antes só comia pau e pedra. Por causa disso, os krahô acreditam que tudo que plantam e comem não só enche a barriga, como também alimenta o espírito de todos da Terra Indígena de Kraôlandia, localizada nos municípios de Goiatins e Itacajá (TO).
A mestre em Desenvolvimento Sustentável Junto a Povos e Comunidades Tradicionais da UnB (Universidade de Brasília) Creuza Prumkwyj Krahô chegou a contar quatro rituais e festas que envolvem o põhypej, um tipo de milho dado pela estrela-mulher que, segundo acreditam, deixa o povo krahô mais forte e que também é usado na hora do resguardo pós-parto, sendo a única comida que a mulher pode comer nesse período.
Desde o primeiro contato com o homem branco no início do século 19, os krahôs, apesar de muito aguerridos, sofreram com disputa de terra e violência que resultou na diminuição do território e em várias mortes promovidas por fazendeiros vizinhos das aldeias. Outra transformação aconteceu na alimentação e na agricultura local por influência de órgãos do governo. Combinando essas três coisas, uma crise silenciosa se estabeleceu em Kraolândia: os alimentos apresentados por Caxekwyj (a estrela-mulher) desapareceram quase que por completo.
Por isso, no início dos anos 1990, lideranças da etnia, cansadas de ver seu povo abatido - resultado da alimentação não tradicional, diziam —, decidiram que só a volta do põhypej seria capaz de fortalecer os krahô de novo.