Nos últimos tempos, Janny Lima da Silva, 43, só tem conseguido comprar o "básico do básico" — como ela define — para alimentar a família: arroz, feijão e alguma mistura.
"Antes dessa covid aparecer, minha família se alimentava melhor. A gente ainda podia comprar uma carne, uma fruta, uma verdura. Mas depois dessa doença, todo mundo desempregado, vive de bico quando aparece. Quando a gente pega num dinheirinho, corre pra comprar um arroz, um feijão, um óleo, um frango, um ovo, uma salsicha. O que o dinheiro der a gente compra", disse a Ecoa.
Moradora da Cidade Tiradentes, no extremo leste de São Paulo, ela vive em um barraco com mais sete familiares, entre marido, filhos e netos. Vez ou outra recebe uma cesta básica ou algum alimento de uma patroa. "Quando eu faço minhas faxinas, meus bicos, eu ganho umas besteirinhas, né? É biscoito, bolacha recheada, um pedaço de bolo, de queijo, alguma fruta que esteja muito mole. As crianças fazem uma festa. Nossa vida é assim", conta.
A situação da família de Janny se repete entre as pessoas do bairro com quem tem contato. Conhecida de Janny, a líder comunitária Conceição Paganele também relaciona esse padrão de consumo com o custo dos alimentos.
"O que eu vejo é que a população mais carente geralmente troca o hábito da fruta por essas coisas industrializadas", disse a Ecoa. "As crianças se acostumam com essa coisa da balinha, de muito doce, desses salgadinhos que parecem isopor, e não têm uma fruta [na dieta]. O dinheiro não dá pra ir na feira comprar fruta, comprar verdura".
A nível nacional o consumo de produtos ultraprocessados aumentou durante a pandemia de covid-19. Mas, como mostra a reportagem abaixo, há caminhos para devolver os alimentos in natura à mesa dos brasileiros. E, como toda questão complexa, é fundamental o apoio dos governos federal, estadual e municipal.