Vistas como alternativa aos desertos alimentares e aos gastos exorbitantes com logística, as fazendas verticais ainda vivem uma espécie de infância embrionária no Brasil, em cenário contrastante com o de outras cidades pelo mundo.
Em grandes cidades norte-americanas essa forma de produzir alimentos é uma realidade em franca expansão. O mesmo acontece em países asiáticos como Japão, China, Coreia do Sul, Tailândia e Singapura. O movimento começa a migrar também para a Europa, especialmente na França (na capital Paris) e na Suécia (Estocolmo).
Se por um lado esse tipo de produção supre parte da demanda dos grandes centros urbanos por produtos in natura — ainda mais, produtos in natura de qualidade —, por outro, é uma prática que está longe de ser acessível, uma vez que demanda adoção de tecnologias que garantam a proteção do cultivo. Aqui, são considerados, por exemplo, iluminação suplementar, cultivo hidropônico e qualidade nutricional elevada.
"O maior desafio desse tipo de empreendimento no Brasil ainda é o baixíssimo consumo de hortaliças no país", diz o pesquisador da Embrapa Hortaliças. Os brasileiros consomem menos de um terço da recomendação diária da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 400g de hortaliças. Guedes conta que nosso consumo médio é de 25 quilos per capita ao ano, enquanto, na Itália, esse número chega a 150 quilos. "Esse consumo muito baixo tem um reflexo no perfil de adoção de tecnologia pelo produtor de hortaliças no Brasil", conclui.
Ainda que seja alternativa mais saudável, o acesso a esse tipo de produção ainda acaba restrito a uma classe média com maior poder de consumo e mais disposta a pagar por produtos realmente frescos, seguros e de alta qualidade nutricional.
A pesquisadora Juliana Torquato Luiz há 11 anos pesquisa sobre agricultura urbana em sua diversidade de escalas e sujeitos — com práticas quilombolas, indígenas, familiares e camponesas, em áreas urbanas ou periurbanas (espaço limítrofe entre as regiões urbana e rural).
Ela diz acreditar em uma agricultura urbana em escala se adotadas políticas públicas e multissetoriais de produção de alimentos - as quais se relacionam com segurança alimentar, mas também com nutrição, educação ambiental, urbanismo, saúde pública e direito à terra. A região de Parelheiros, por exemplo, fica no extremo sul de São Paulo e é um dos redutos da produção de orgânicos da cidade, feita com pequenos produtores e grande escala.
"É preciso incluir o tema da agricultura urbana inclusive dentro dos Planos Diretores dos municípios, além de batalhar para ocupar espaços, como os conselhos participativos municipais, que falem de segurança alimentar. O presidente Jair Bolsonaro extinguiu o Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar], onde havia um grupo de trabalho, dentro de suas câmaras técnicas, destinado à agricultura orgânica", citou.