Aline é de uma família de catadores. Morou em uma ocupação irregular na região administrativa de Taguatinga, no Distrito Federal. Ela lembra que ainda criança, sentia angústia a cada vez que voltava da escola e via a avó sair pro segundo turno [de trabalho] na rua em cima da caçamba de uma carroça.
"Via aqueles cavalos disparando e dizia 'Meu Deus, a minha vó'. Sou catadora porque não queria ver a minha avó em cima de uma carroça", conta. Foi com essa memória, e com a mãe também catadora, que resolveu militar pela qualidade de trabalho e dignidade de quem exerce a atividade.
Embora vivesse o dia a dia do catador, nunca largou a escola, e aproveitava para ler os livros que encontrava na coleta. Na adolescência, participou do programa Jovem Aprendiz da Caixa, onde atuava no setor que atendia às prefeituras. Curiosa, diz que aprendeu ali as primeiras habilidades de articulação política. Aos 18 anos, entrou na cooperativa de catadores Recicla, onde não demorou muito para que fosse transferida para trabalhar no setor de administração.
Desde então, Aline nunca parou. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, ela tem na ponta da língua.
Sempre com um sorriso no rosto, Aline deixa claro que sua prioridade é continuar na luta pela valorização dos catadores, atrelando a importância da categoria à preservação do meio ambiente. Embora compreenda que haja curiosidade sobre sua história de infância e adolescência sem privilégios, morando em ocupações irregulares do Distrito Federal, não quer foco somente em sua história de superação.
Do dia em que apareceu na cerimônia de posse, Aline viu sua rotina mudar completamente. Convites para participações em eventos, reuniões com integrantes do governo, entrevistas para veículos de comunicação, além de sua agenda habitual na pauta de coleta de material reciclável.