Cerca de um terço dos 35 mil habitantes de Curaçá, na divisa da Bahia com Pernambuco, não tinha nascido ou era jovem demais para se lembrar da época em que o município tinha a bela e estridente companhia das ararinhas-azuis. Em 11 de junho deste ano, oito exemplares do psitacídeo foram soltos no céu da cidade baiana - um enorme avanço para uma espécie que respirava por aparelhos, extinta na natureza havia mais de 20 anos.
Foi uma grande vitória também para todas as partes envolvidas, entidades públicas e privadas, comunidades locais e entusiastas da causa do outro lado do mundo. "Projeto de conservação não é de um ou dois anos, ele precisa de 20, 30 anos, para colhermos bons frutos", diz a médica veterinária e analista ambiental Camile Lugarini, coordenadora do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-Azul, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
É uma história que começou em 1990, quando o Ibama criou um comitê para a preservação da espécie, após descobrir que havia somente três indivíduos selvagens restantes. A destruição das matas de galeria às margens do rio São Francisco e o comércio ilegal dizimaram a espécie.
A iniciativa não foi suficiente, e dez anos depois a ararinha-azul foi decretada extinta na natureza. Desde 2007, o ICMBio coordena o esforço para tentar reintroduzir a ave - apesar de ter desaparecido da natureza, ela ainda existia em cativeiro.