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De galã a ecochato e meme: Sergio Marone não mede esforços para convencer as pessoas a cuidar da natureza

Natália Eiras (texto) e Marcus Steinmeyer (fotos) Colaboração para Ecoa, em Lisboa (Portugal) e em São Paulo (SP) Marcus Steinmeyer / UOL

O ator Sergio Marone está preocupado com a maneira que temos levado a vida. Conhecido do grande público por seus trabalhos em novelas da Globo e da Record, o artista tem ganhado notoriedade em outro papel, o de ativista ambiental.

Aos 42 anos, Marone não sabe precisar como começou a se preocupar de forma mais contundente com a preservação do meio ambiente, mas diz que sempre teve a consciência de que era algo muito importante. Desde os 15 anos diz manter uma ligação "quase espiritual" com a natureza. Nascido na cidade de São Paulo, ele sempre curtiu fugir para praias e se embrenhar no meio do mato.

A admiração pelo meio ambiente não ficou apenas no turismo ou no papo de redes sociais. Sua preocupação está traduzida em atitudes. Por exemplo, faz sete anos que Marone não tem um carro. Anda pelo Rio de Janeiro, onde mora atualmente, de bicicleta elétrica ou transporte público. Evita o uso de copos e garrafas descartáveis, assim como canudos e outros itens de plástico de uso único.

Fez movimentos para evitar projetos que impactaram profundamente o ecossistema, como a construção da Usina de Belo Monte e, em 2021, criou a Tukano, uma marca que vende em uma plataforma de e-commerce não só produtos que geram baixo impacto ao meio ambiente, mas também uma ideia de mudança de atitude, de consumo mais consciente e sustentável.

Marcus Steinmeyer / UOL

Eu tenho certeza de que a gente vive no paraíso e, por isso, a gente precisa preservar a nossa casa.

Sergio Marone, ator e empresário

Chato com eco

A novela de estreia de Sergio Marone foi a global 'Estrela-Guia', de 2001. Na trama, uma vilã, vivida pela atriz Lilia Cabral, tenta expulsar uma comunidade hippie para explorar suas terras. Marone fazia um dos hippies. Que tinha poderes de cura.

Assim como o grupo evitava que a personagem de Lilia tivesse êxito, Sergio Marone tentou evitar, dez anos depois, que parte da região amazônica fosse inundada. Em 2011, criou o movimento Gota D`Água, que reuniu famosos em uma campanha contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, no Rio Xingu. "A questão ambiental sempre foi a minha causa de vida", diz.

Na época, segundo ele, não era tão 'descolado' ser ligado às questões ambientais. Na realidade, podia ser até meio chato. 'Ecochato', como o chamavam. "Mas isso nunca me incomodou."

Ele percebe, no entanto, que agora não existe mais a possibilidade das pessoas deixarem o assunto de lado. Segundo o ator e empresário, as pessoas estão mais bem informadas e prestam atenção no que os ativistas têm a dizer. Mesmo com os percalços do âmbito governamental. "Os ambientalistas foram bastante criminalizados no último governo, foi bastante difícil, mas a situação também deu espaço para que as pessoas prestassem atenção ao que estava acontecendo".

Marone diz que precisamos parar de falar que vamos salvar o planeta. "Ele vai continuar aqui com as bactérias, microrganismos que se adaptam a novas condições de vida. Nós temos que salvar a nossa existência no planeta."

Marcus Steinmeyer / UOL Marcus Steinmeyer / UOL

Prefiro ser um ecochato a um chato sem eco.

Sergio Marone, ator e empresário

Marcus Marcus Steinmeyer / UOL

Consumo consciente

Dez anos após o movimento Gota D'Água, Sergio Marone lançou a Tukano, uma marca que oferece produtos que não agridem a natureza e convida as pessoas a mudarem seus hábitos. "A empresa surgiu da minha ideia de tentar gerar uma mudança, uma transformação na forma que consumimos", explica Marone.

Para isso, decidiu juntar algumas fabricantes referência em certos setores para dar visibilidade e popularizar produtos que tenham maior preocupação com sua cadeia de produção e sejam de baixo impacto ambiental. "São soluções que já existem para problemas reais."

Ele fez parceria com marcas como Begreen, Paz em Gaia e Morada da Floresta para desenvolver uma linha de produtos para o uso cotidiano. No e-commerce da Tukano estão disponíveis mais de 30 produtos de cuidados pessoais, para a casa e produtos relacionados à maternidade, incluindo fraldas ecológicas.

Além de firmar parcerias com algumas marcas que já comercializam produtos, a Tukano também desenvolve novos produtos e vai lançar uma linha própria de dermocosméticos.

É o xeque-mate na humanidade. Nós vamos ser expelidos da função de zeladores do planeta Terra porque não estamos sabendo cuidar do planeta.

Sergio Marone, ator e empresário

Ativista e meme

Marone hoje se divide entre seus trabalhos como ator e apresentador, produtor de conteúdo sobre questões ambientais nas redes sociais e essa experiência empresarial na Tukano. A marca tem um time enxuto. Ele é o CEO-fundador, não tem nenhum sócio e, por enquanto, é o único investidor.

Para promover a Tukano, Marone foi também o garoto-propaganda, e fez uma série de fotos usando os produtos de cuidado pessoal, segurando um bebê com fralda ecológica, entre outras. Em nome do meio ambiente, apareceu seminu ensaboado e as redes sociais não perdoaram.

Acabou virando meme e provocou furor na internet. Isso, no entanto, não parece incomodar o artista. Ele costuma usar sua influência, diante dos mais de 2 milhões de seguidores que tem em seu perfil no Instagram, para popularizar as suas preocupações reais com o planeta.

Marcus Marcus Steinmeyer / UOL Marcus Marcus Steinmeyer / UOL

Atitudes diárias

O dia a dia de Marone é cheio de pequenas escolhas para transformar seu ativismo em atitudes. Está sempre atento para evitar plásticos de uso único, prefere comprar molho de tomate em embalagem de vidro a um que venha em embalagem tetrapak. Evita pegar alimentos embalados em plástico, como frutas e legumes, e opta pelos itens a granel. "Nós fazemos escolhas o tempo todo que podem nos garantir ou não um futuro melhor".

O ator conta que se engajou na luta pela diminuição do uso de plástico depois de assistir a alguns documentários sobre como o plástico está poluindo os oceanos. Ele cita o vídeo "Para de Chupar", de 2018, sobre os canudos de plástico, e "Oceanos de Plástico", de 2016.

Neste último, os documentaristas abrem peixes e aves, mostrando a quantidade de microplásticos que os bichos acabam engolindo. "Isso me deu um estalo. Esses peixes estão parando nos nossos pratos, fazem parte da nossa alimentação. Estamos nos intoxicando. É uma questão de saúde humana."

Uma das pessoas que mais admira é Cristal Muniz, autora do livro "Uma Vida sem Lixo", em que dá dicas de como diminuir a quantidade de lixo que produzimos. Para Sergio, todos os seus atos têm a capacidade de impactar o meio ambiente de alguma forma. Por isso, ele fica obcecado em evitar o uso de plástico de único uso.

Ele conta que um dia, na praia, comprou uma água de coco, mas percebeu que havia se esquecido do copo reutilizável e do canudo inox. Bebeu a água direto do coco em vez de pegar um canudo de plástico. "Não é nada, mas se você usa um canudo de plástico, ele é descartado da forma incorreta, ele vai parar no oceano, no nariz de alguma tartaruga."

Marcus Marcus Steinmeyer / UOL Marcus Marcus Steinmeyer / UOL

Mudança de hábito

Um dos principais objetivos da Tukano é, de acordo com o ator, mostrar que não é difícil nem caro levar um estilo de vida mais sustentável. Principalmente se você colocar na ponta do lápis.

"Por exemplo, com 24 fraldas ecológicas você cria uma criança até o desfralde. São R$ 1,5 mil. Se usar as fraldas descartáveis, você vai gastar R$ 5 mil. A longo prazo, a economia é muito maior", comenta. "Sem contar que você está gerando um futuro melhor para seu filho, com menos plástico. Você não está jogando dinheiro fora nem poluindo o futuro da sua criança."

Por mais que muitos ponderem que a mudança precisa ser estrutural, não apenas individual, o ator entende que o consumidor pode fazer, individualmente, uma pressão no sistema. "Isso pode obrigar as empresas a repensarem as suas embalagens e até o governo a criar uma lei que pressione para que haja uma diminuição na produção de lixo".

Para Marone, é um efeito dominó. Quando os consumidores fazem escolhas mais sustentáveis, as empresas são pressionadas a seguir o mesmo caminho. Quando a sociedade se torna mais ambientalmente responsável, ela acaba levando o Estado a criar leis para frear a produção de lixo e a emissão de poluentes. E isso precisa ser feito agora.

Marcus Steinmeyer / UOL

Senso de urgência

Por mais que entenda que todos podem fazer a sua parte, incluindo a grande indústria, Marone diz que o momento é de urgência. "Não há um plano B, um planeta B. É só esse aqui. E ele precisa render frutos para todos, não apenas para alguns. Ao longo da história da humanidade, alguns têm explorado e feito muito dinheiro, mas está na hora de conscientizar, preservar e tentar garantir um futuro melhor, mais justo, para todos.".

Sobre a importância que as pessoas dão hoje a atitudes que vão na direção de proteger o meio ambiente, ele diz que não é nenhum ato heróico. "É até um certo egoísmo (querer garantir a própria existência), mas que seja por isso, né? Temos que mudar o jeito que estamos vivendo, as escolhas que estamos fazendo. Já estamos sentindo os efeitos da forma que consumimos. Se não, não vai restar nada, independentemente de classe social, faixa etária."

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